À volta da comida e do conhecimento

O mundo da comida tem vindo a mudar drasticamente nos últimos 50 anos sob a batuta dos Estados Unidos da América. Cada vez mais se produzem alimentos
transgénicos, os animais são alimentados com rações baratas e desadequadas ao seu organismo, provocando problemas como a B.S.E. ou a contaminação por estirpes de E. Coli mortais e a indústria agro-alimentar mundial é controlada por meia dúzia de empresas megalómanas como a Monsanto e a Syngenta. Já não há preocupações com a qualidade da comida e com a saúde dos consumidores. Tudo gira em torno da maximização do lucro. Os problemas de saúde (como, por exemplo, a obesidade e a diabetes) e os processos cada vez mais acentuados de poluição e desertificação do solo, poluição da água e perda de biodiversidade são a face escondida desta eficaz máquina de produzir comida.

Com o objetivo de levar os alunos e a restante comunidade escolar a refletir sobre estas problemáticas emergentes no mundo em que vivemos, foram levadas a cabo várias iniciativas no Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão: conversas informais com dois professores universitários que se deslocaram à escola e falaram sobre a ciência na sua relação com a tecnologia e a sociedade e ainda uma reflexão prática através da organização de um almoço slow-food.

As conversas informais

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No dia 15 de maio, no âmbito da disciplina de Ciências Naturais, realizou-se uma conversa informal sobre ”produção de alimentos, saúde e proteção do ambiente”, em colaboração com os professores universitários Álvaro Fonseca e António Nunes dos Santos. Esta conversa decorreu ao longo de duas sessões – a primeira, dirigida os alunos dos 8º e 9º anos, na escola-sede do Agrupamento e a segunda, dirigida ao público em geral, na Casa de Artes e Cultura do Tejo.

No decorrer desta conversa informal, discutiram-se assuntos como os riscos que a atividade industrial tem para a saúde, porque é que as pessoas não apostam na agricultura biológica, criando a sua própria horta ou apenas optando por comprar produtos biológicos. Foram surgindo várias questões, como por exemplo: “O que se pode fazer para controlar as multinacionais, de modo a que seja preservada a qualidade dos alimentos, da saúde e do ambiente?”; “Como é possível que as grandes empresas só se preocupem com os lucros que podem obter, sem se responsabilizarem pelos problemas que causam?”; “Porque é que as grandes empresas continuam a produzir tanto se há um desperdício de 50%?”; “Como é possível que o problema da fome a nível mundial não se resolva apesar destes excedentes?”; “Podemos continuar a achar que os alimentos industriais são baratos se pensarmos globalmente, a longo prazo, nos danos, muitos deles irreversíveis, que causam a nível da saúde, da biodiversidade e do ambiente?”.

Este diálogo permitiu aos participantes o debate de ideias, o esclarecimento de dúvidas e a reflexão sobre os temas tratados de modo a que possam entender o mundo complexo em que vivem e se movimentam.

O almoço slow-food

 No dia 18 de maio, no âmbito do “Programa de Educação para a Saúde” foi realizado um almoço vegetariano de slow food* na escola, para o qual foram convidados os pais, os professores e os alunos do 9º ano.

Propôs-se a confeção de alimentos produzidos ou colhidos no campo, valorizando-se os produtos locais, que muitas vezes passam despercebidos e não são utilizados na alimentação, lançando-se um desafio à experimentação de receitas vegetarianas. No convite já estava prevista a “participação especial” de inúmeras plantas, nomeadamente a Malva sylvestris, a Lonicera implex, a Mentha pulegium, a Melissa officinalis e a Lactuca sativa, mas todos acabaram por ser surpreendidos pela presença da salva brava que a mãe de uma aluna apanhou nas barreiras do rio Tejo. As saladas e o pão quente, que foram servidos como entrada, foram temperados com azeite biológico, produzido no lagar tradicional da Tapada da Tojeira, situado em Vila Velha de Ródão.

A sala onde decorreu o almoço foi decorada pelos alunos com rosas e flores silvestres colhidas nos campos, o que alegrou o ambiente. Nas mesas, foram colocadas fotografias de algumas das espécies locais para que não fosse esquecido o facto de que uma das maiores riquezas desta região é a biodiversidade.Todos prepararam a comida sozinhos ou com a ajuda dos pais e apanharam os vegetais na horta da família, em que não se usam pesticidas para fertilizar o solo, ou no campo. Os vegetais e outros produtos biológicos utilizados na confeção das diversas iguarias com que todos se regalaram no almoço foram os seguintes: favas apanhadas na horta, tortulhos recolhidos nas barreiras do rio Ocreza e confecionados com ovos das galinhas criadas no quintal, sumo de laranja feito com laranjas colhidas diretamente nas laranjeiras do pomar, sopa de urtigas apanhadas no campo, caldo verde feito com couves da horta, panquecas feitas com flores, salada de alface da horta e pétalas de rosa do jardim, salada de morangos da horta, que são muito mais saborosos do que os que se compram no supermercado e ainda uma sobremesa feita com chá de cidreira e uma alga que pode ser usada para fazer gelatina chamada “ágar-ágar”.

Para concluir, pode dizer-se que as atividades que se realizaram na escola permitiram uma reflexão sobre a qualidade dos alimentos que são consumidos e sobre as vantagens de quem tem um quintal ou uma horta, pois pode cozinhar os alimentos que cultivam e só desta forma tem a certeza de que o que está a comer não tem nenhum vestígio de pesticidas ou de qualquer outra substância indesejada.Os alunos gostaram desta iniciativa. Ficaram surpreendidos com algumas descobertas acerca de alguns vegetais, pois não sabiam que eram comestíveis e saborosos.

As reflexões feitas sobre as vantagens da prática da agricultura biológica em oposição à agricultura industrializada levarão a que, no futuro, todos os participantes queiram, com certeza, adotar um estilo de vida saudável, a começar pela alimentação.