Agricultura Regenerativa, um exemplo de sustentabilidade nas Hortas da Rainha.

Um grupo de alunos da Escola Profissional Gustave Eiffel do polo do Entroncamento (GE); alunos das turmas 35190,637 e 638 (AGE), no dia 21 de março contactaram com o projeto Hortas da Raínha, implementado na Quinta da Raínha localizada no Carreiro da Areia no concelho da Torres Novas pertencente ao distrito de Santarém, com o objetivo de conhecer a importância deste projeto, não só para a economia local mas também para sustentabilidade ambiental e redução da pegada carbónica.

Hortas da Rainha é um projeto de agricultura regenerativa cujo princípio é cuidar do solo e do ecossistema, dar mais do que extrair, caminho adotado para produzir alimentos mais saudáveis e unir a comunidade local em torno de uma causa comum, introduz o Arq.º Dennis Hickel, impulsionador e responsável pelo projeto, no momento em que fez um enquadramento histórico da quinta na recepção do grupo de alunos GAE.

O contacto com áreas de agricultura regenerativa visando proteção de ecossistemas associados ao solo e à dinâmica dos ecossistemas, num espaço em ruínas existentes na Quinta da Rainha outrora um espaço de trabalho para famílias locais da região e ainda de importante produção agrícola desta região. Com uma história de vida longa, a denominação desta Quinta advém do ter pertencido a rainha D. Maria, filha dos reis católicos, Fernando e Isabel de Castela, comprovado no Foral Novo dado por D. Manuel I a Torres Novas no dia 1º de Maio de 1510, aí, Casal da Rainha. Também aqui a reabilitação das edificações destes espaços tem sido objeto de intervenção e adoção de recursos e materiais locais visando a redução da pegada carbónica do projeto.

Para além dos apontamentos que o aluno Rodrigo Guerra ia registando, ao longo da visita, não foi impedimento para realizar a entrevista cujas questões tinham sido preparadas na escola. Já o aluno João Pinho captou alguns registos fotográficos dos diferentes espaços.

Assim, aproveitando alguns bancos revestidos a azulejo adossados às paredes de uma edificação aí existente, os alunos puderam repousar e escutar as respostas que o Dennis ia dando às questões que o Rodrigo Guerra (RG) lhe ia colocando:

RG: Como surgiu a ideia deste projeto?

D: O projeto iniciou na quinta do Alecrim no momento em que eu e a minha família decidimos deixar o corrupio que vivíamos em Lisboa. Aí, iniciámos uma horta biológica, sem recurso aos produtos químicos no plantio e cultivo, adotando já processos de consociações de espécies, recorrendo já a muitas ferramentas agrícolas manuais e já muito conscientes na importância da preservação do solo e seus ecossistemas. As produções sazonais começaram a ser vendidas em mercados semanais locais e ainda em cabazes semanais entregues sob encomenda na casa das pessoas desta região. Também aí, iniciámos eventos gastronómicos confeccionados com produtos da horta sobre a coordenação da Chef de Cozinha, de modo a poder partilhar e dar a conhecer os nossos produtos e formas de os confeccionar.  Mais recentemente, em conjunto com um sócio, da aquisição da Quinta da Rainha, demos início ao projeto Hortas da Raínha, assente numa agricultura regenerativa e, portanto, capaz de produzir alimentos ao mesmo tempo em que propicia condições para a natureza se recuperar. Na agricultura regenerativa adotam-se as práticas de observação continua e próxima da sua produção, assim como uma gestão dinâmica e atenta às diferentes caraterísticas que as culturas e diferentes espaços utilizados, onde se encontram espécies animais.

RG: Em que consiste a agricultura regenerativa?

D: A agricultura regenerativa tem seu foco na regeneração do solo, aumentando a biodiversidade, melhorando o ciclo da água, ampliando os serviços de ecossistema, aumentando a resiliência às mudanças climáticas e fortalecendo a saúde e vitalidade das terras agrícolas. O espaço da horta, é objeto de desenho desde os “carreiros cultivados”, às passagens dos cuidadores da horta, às linhas de árvores de fruto plantadas entre os carreiros dos hortícolas, nos diferentes elementos de rega gota a gota por aspersão e ainda na localização de áreas com mangas estufa amovíveis de modo a garantir a sua deslocação para outros sítios da horta de modo a evitar a sua fixação garantindo o maior arejamento e ensoleiramento do solo e consequentemente a melhor regeneração deste. Neste desenho são também consideradas todas as ferramentas, manuais, utilizadas nos cuidados da horta.

RG: Há pouco no armazém, mostrou-nos algumas ferramentas utilizadas nesta horta, bem distintas daquelas que habitualmente observamos em outros conceitos de agricultura. Qual a importância da utilização de ferramentas manuais neste tipo de agricultura?

D: Um agricultor que pratica agricultura regenerativa reconhece alguns princípios que implicam o seguinte:

  • Eliminação do tratamento mecânico, químico e físico do campo. Este princípio da agricultura regenerativa coincide com as técnicas pré-industriais e ferramentas manuais,
  • Melhoria da biodiversidade (por exemplo, com rotação de culturas, agrossilvicultura e técnicas de silvo pastoreio), incorporando gado na produção de culturas.

RG: Como é tratada a questão da fertilização? E possíveis pragas que possam ocorrer?

D: Tal como nas doenças, a questão das pragas é tratada de forma preventiva, cuidando da base de qualquer planta; o solo. Se este for objeto de uma gestão sistemática a saúde deste absorvido pelas plantas através das suas raízes! Combinamos sempre com áreas de ervado misto semeado para alimentar grupos de animais (ovelhas e galinhas), que temporariamente se deslocam no território da quinta de modo a fertilizar o solo e a facilitar a sua regeneração.

RG: Quais os produtos que a quinta produz?

S: Para além dos produtos hortícolas, outro dos produtos desta quinta, são os ovos. As aves de capoeira encontram-se nas avícolas móveis, que puderam visitar, que são equipamentos inovadores em Portugal, adotados a fim de movê-los ao longo do território da quinta, a cada 3 semanas permitindo a renovação do solo e a preservação e estabilidade dos nutrientes do solo. Estes equipamentos móveis aproveitam ao máximo os recursos naturais, sendo autónomos ao nível energético.

RG: Os vossos produtos têm Certificação Biológica?

S: Sim, mas atenção, ser biológico não é sinónimo sustentabilidade. Reparem, uma banana biológica, de origem americana, obriga a espaços de armazenamento e ao transporte de elevada pegada carbónica. É fundamental ter esta consciência. Por isso é tão importante trabalhar a proximidade e as comunidades locais. A maioria dos nossos produtos são entregues em formato de cabaz semanal ou nos mercados semanais locais com os nossos produtos apanhados na véspera ou no próprio dia, na nossa região.

RG: Qual o impacto das alterações climáticas, aqui?

D: O impacto tem a ver, sobretudo com a instabilidade das estações, modificando o período de das culturas fortemente influenciadas pela erosão.