Quando a água nos chega às torneiras, dificilmente pensamos no trabalho que dá fazer com que isso aconteça. Abrir uma torneira e usar a água que dela jorra é hoje um ato tão cómodo e banal que dificilmente nos faz ter presente a longa e complicada viagem do precioso líquido, desde a sua captação no rio até às nossas casas.
Mas, para uma grande parte da população portuguesa, esta viagem não foi sempre longa nem complicada. Com efeito, sobretudo fora dos centros urbanos, havia a prática ancestral de consumo de água própria – geralmente originária de poços particulares ou minas – o que permitia uma relação muito próxima entre a “fonte” e o consumidor e alguma garantia da qualidade da água própria.
Com a crescente invasão dos aquíferos por poluentes de origem diversa – indústrias, explorações agrícolas, pecuárias e muitas más práticas relativamente ao tratamento de efluentes – a situação mudou e, hoje, já não seriam possíveis tais práticas sem riscos para os consumidores e para a saúde pública, o que tem levado gradualmente as populações a ligarem-se às redes públicas de abastecimento de água e saneamento.
Entretanto, o serviço de abastecimento de água, que antes era assegurado e explorado pelas autarquias, abriu as portas à exploração privada e, nesta altura, no nosso país, são já 27 as concessões existentes, envolvendo 31 concelhos. Santa Maria da Feira é um desses concelhos. Em Santa Maria da Feira, desde há 16 anos, a gestão dos serviços públicos municipais de abastecimento de água e saneamento está concessionada à INDAQUA – Indústria e Gestão de Água, S.A., o maior operador privado português no universo das concessões municipais de água, cujo serviço se estende por mais seis concelhos, abrangendo um universo populacional de 600.000 habitantes.
Mas, em que consiste o trabalho de uma empresa como a INDAQUA e que tipo de preocupações ambientais têm?
Foi esta e outras questões que levaram o “Rolhinhas” a Santa Maria da Feira, à sede da INDAQUA Feira, onde tivemos oportunidade de conversar com a diretora comercial Dra. Vera Oliveira, responsável, como explicou, “por toda a área comercial, englobando o marketing, atendimento a clientes, faturação e gestão de reclamações.”
Rolhinhas: O que é o que faz exatamente uma empresa como a INDAQUA?
Vera Oliveira: A INDAQUA FEIRA é a empresa concessionária responsável pela gestão e exploração dos serviços públicos de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais. No âmbito dessa gestão, procedemos à operação e manutenção de todas as redes de distribuição, controlo de qualidade, reservatórios, ETAR’s, estações elevatórias e demais infraestruturas existentes nos sistemas, necessárias ao seu bom funcionamento.
R: Para o consumidor, quais são as vantagens em ser abastecido pela rede pública em vez de utilizar a água do poço ou da mina?
VO: Vamos lá a ver… Consumir água dos poços e furos pode ser extremamente perigoso, pois caso estes não possuam um controlo rigoroso da qualidade da água, isso pode colocar em causa a saúde da população. Legalmente, caso exista rede pública no arruamento de uma habitação, essa habitação, caso tenha algum poço ou furo, apenas pode utilizar a sua água para rega e lavagens de pavimentos.
A principal vantagem é mesmo a qualidade da água que nós distribuímos. Só para ficarem com uma noção, em 2015 fizemos mais de 1800 análises em laboratório. Quando os munícipes têm um poço ou um furo e pedem uma análise, são analisados geralmente quatro ou cinco parâmetros. Nós analisamos mais de 50 parâmetros diferentes. E essas análises são caríssimas, e por isso incomportáveis para um munícipe tendo em conta os padrões de qualidade exigidos atualmente e a frequência com que o controlo tem de ser feito. É por isso que a grande vantagem é mesmo ter-se a certeza da qualidade da água que se está a consumir.
R: Acha que os consumidores têm uma boa educação relativamente ao consumo da água? O que é que a INDAQUA pode fazer em relação a isto?
VO: Aos poucos nós reparamos que efetivamente eles têm-se mostrado mais atentos a esta problemática e começam a preocupar com a água que consomem. Estou cá, na empresa, há 16 anos e, no inicio, muitas vezes ouvia “a minha água do poço é boa porque não tem cheiro, não em cor, eu consumo e não tenho problema nenhum”. Mas hoje em dia já não. Hoje em dia, as pessoas têm mais consciência que mesmo que uma água não tenha cheiro ou sabor, não quer dizer que esteja boa para consumo. Por outro lado, em termos ambientais, os consumidores também são mais sensíveis à importância da água enquanto recurso e ao seu correto consumo e utilização. Temos feito varias campanhas de sensibilização e temos um projeto de educação ambiental dirigido às escolas dos concelhos onde estamos inseridos. Para além disso, no nosso site, temos muita informação sobre esta temática. Acho que a população está muito mais atenta a essas questões.
R: Que impacte ambiental provoca a captação, tratamento, produção e distribuição de água potável?
VO: Todo o ciclo da água deve ser gerido com um grande sentido de responsabilidade ambiental. Repare-se, por exemplo, no caso das perdas de água (água não faturada)… Desde o início da concessão, a INDAQUA FEIRA conseguiu reduzir para metade o volume das perdas de água, o que traduz uma poupança significativa, diminuindo-se assim o desperdício deste bem essencial. Um outro caso evidente foi a eliminação das redes de saneamento que não tinham tratamento e descarregavam para as linhas de água, poluindo assim o meio ambiente.
R: Quais as vantagens da privatização de um serviço público como o do fornecimento de água?
VO: As principais vantagens prendem-se com a capacidade que as empresas privadas têm em conseguir suportar grandes investimentos, recorrendo ou não ao financiamento externo. Ora, como é sabido, as entidades públicas não dispõem muitas vezes de saúde financeira para suportar esse encargo e, para o arranque de uma concessão, são necessários grandes investimentos. Só para vos dar um exemplo, aqui em Santa Maria da Feira, a partir do ano 2000, foram investidos mais de 100 milhões de euros só pela INDAQUA FEIRA. Isto, para que todo o concelho tivesse acesso à rede de água e à rede de saneamento. E, hoje, praticamente todo o concelho está coberto.
Uma outra vantagem é a existência de um grande know-how. Na verdade, a INDAQUA FEIRA detém inúmeras tecnologias de ponta que tornam mais eficiente e eficaz o serviço que prestamos à comunidade.
R: Qual é o papel de uma empresa como a INDAQUA na sociedade, nomeadamente em termos de política ambiental, educação ambiental, etc.?
VO: Tem um papel deveras importante. Um dos nossos valores é efetivamente o respeito pelos recursos naturais, promovendo a racionalização de consumos, a adequada gestão dos resíduos e a prevenção da poluição. A INDAQUA FEIRA aposta imenso na redução das perdas de água e na eliminação de eventuais focos de poluição do meio ambiente. Sempre que as pessoas se ligam à rede de saneamento e selam as fossas particulares, estão a diminuir os focos de poluição já que muitas vezes são as fossas privadas que contaminam as minas e os poços e, nessa altura, já estamos todos a trabalhar um bocadinho para a promoção de um ambiente mais saudável e para a melhoria da qualidade de vida na nossa comunidade.
A INDAQUA dispõe também de um projeto de educação ambiental que desenvolve nos concelhos onde está presente. A nossa atenção e empenho estão também dirigidos para a partilha com os mais jovens, em idade escolar, dos nossos conhecimentos e experiência nos domínios da saúde e do ambiente. O projeto trabalha em quatro pilares distintos: ciclo urbano da água, qualidade da água para consumo humano, água virtual, poupança de água.
A conversa com a Dra. Vera Oliveira concluiu-se com uma visita guiada às instalações da sede da Indáqua Feira. Para o consumidor habitual – que apenas tem contacto com a área de atendimento ao público – é difícil imaginar a dimensão da estrutura da empresa, onde trabalham mais de 30 pessoas, e de todo o trabalho que está por detrás da água que sai de uma simples torneira.
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