
Da produção de vinho à Aguardente DOC, a Adega da Lourinhã evoluiu com os tempos.
O concelho da Lourinhã, em 1808, foi vítima das Invasões Francesas, ocorrendo a Batalha do Vimeiro, batalha esta que trouxe uma inovação curadora. O francês Filipe José inventou a primeira versão da aguardente produzida na região, baseada na fermentação aquecida da uva, com 78% de volume de álcool, para a cura dos feridos de guerra. Posteriormente bebiam-na para “ser feliz e atenuar a dor”, como referiu Nádia Santos, pós-graduada em Wine Business e técnica de aguardente, uma das 4 funcionárias da Adega.
Originalmente, a aguardente tinha como principal finalidade suavizar o Vinho do Porto, sendo as empresas produtoras deste vinho o seu principal comprador. Mais tarde, este negócio tornou-se inviável por conta do IABA (Imposto sobre o Álcool e Bebidas Alcoólicas) e a preferência dos produtores por produtos importados.
Em 1970, Pedro Belchior, engenheiro pioneiro deste projeto, desenvolveu uma investigação com base nos aromas, nomeadamente das madeiras, e métodos de produção ideais para desenvolver a melhor aguardente. São três as madeiras utilizadas para construir os barris onde é armazenada a aguardente: o Carvalho Português, que dá uma cor topázio à bebida e um sabor a frutos secos e fumo; o Carvalho francês (Limousin) que dá uma cor dourada e um sabor a baunilha e citrinos e a Castanheira, árvore que dá uma tonalidade avermelhada e uma doçura de fruta.
Todo este processo ocorre após um envelhecimento durante, no mínimo, 5 anos, sendo atribuído o selo XO, selo reservado a bebidas alcoólicas envelhecidas em barris nas condições anteriormente referidas.
O tema da sustentabilidade é atualmente uma das grandes preocupações de quem gere a cooperativa. O uso de produtos químicos é evitado ao máximo, exceto em casos estritamente necessários. Para além disso, os barris são utilizados até ao fim de vida na adega ou podendo ser fornecidos a parceiros para a produção de outras bebidas alcoólicas como Gin e também cerveja artesanal. Todos os materiais utilizados para a concessão da aguardente são nacionais e locais, favorecidos pelo clima ideal da Lourinhã, contribuindo com uma baixa pegada ecológica.
As alterações climáticas, segundo a técnica, têm sido um grande agravante na atividade da adega na medida em que as vindimas têm vindo a ser antecipadas para a última semana de agosto. Também em 2006, uma grande cheia ocorreu na região onde se perderam muitos barris, resultado deste fenómeno climático. Apesar de mostrarem preocupação com o ambiente, há questões ainda por resolver: todas as garrafas produzidas são acompanhadas por uma rolha adicional num saco de plástico, que eventualmente se torna um poluente, sendo necessário arranjar uma alternativa sustentável.
A Aguardente da Lourinhã tem sido reconhecida internacionalmente, sendo nomeada em vários concursos e distinguida pela sua qualidade e aroma. A Lourinhã destaca-se também por ser uma das três zonas da Europa especializada na produção de aguardente vínica, acompanhada por duas zonas de França, Cognac e Armagnac.
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