Em Espinhosela, no Nordeste Transmontano, Virgílio Augusto, com 83 anos, agricultor, enquanto prepara a apanha das castanhas, remata que “não tenho memória de incêndios nos soutos e carvalhais”, naquela localidade. Este tipo de árvores referidas pelo agricultor são também chamadas “árvores bombeiras” e estão a ser apontadas, pelo investigador, Paulo Fernandes do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), como uma contribuição importante no combate aos incêndios por se tratarem de espécies de árvores que resistem e travam incêndios.
Vários estudos referem que, em regiões de florestas naturais não geridas, as florestas de folhosas caducifólias, tais como o castanheiro, vidoeiro, carvalho, e outras, são normalmente menos percorridas pelo fogo, do que as florestas de resinosas. Este tipo de vegetação produz uma vasta folhada que cai no outono, que se acumula e decompõe com facilidade devido à sua composição química. Quando chega o verão, essa folhagem, já está toda muito alterada, muito compacta, pouco arejada, e por isso com pouco combustível para o fogo, o que geralmente já não permite que o incêndio se propague, ou então, arda com pouquíssima intensidade sem causar danos às árvores.
Paulo Fernandes, em declaração, refere que “é muito raro encontrar um fogo cuja origem ocorra numa área com estas espécies e, quando acontece, as árvores mantêm-se verdes” e que as “árvores bombeiras” criam particularmente matas bastante densas, com pouca luz e pouco vento e mais humidade, menos temperatura e menos vegetação por baixo das suas copas. O conjunto de todas estas condições permite travar os incêndios.
Estas árvores típicas do Norte e Centro do país necessitam de uma qualidade do solo muito boa e locais com mais humidade, tal como vales. E nos locais em que o solo é de menor qualidade, existem espécies arbóreas que ardem com maior facilidade, mas que recuperam com maior facilidade, tal como o sobreiro, o eucalipto e o pinheiro.
O eucalipto (globulus) é a espécie que mais abunda em Portugal por revelar vantagens competitivas face a outras espécies florestais devido ao seu rápido crescimento e interesse económico a curto prazo. Se para uns continua a ser vista como um perigo, que está a degradar a floresta portuguesa, há investigadores que defendem o seu aproveitamento no fabrico de produtos de madeira e papel ou com utilidade farmacêutica. Riscos de elevado consumo de água e acidificação dos solos impedindo o crescimento de outras plantas à sua volta causam um impacto ecológico devastador na biodiversidade do ecossistema florestal, para além de os incêndios serem muito difíceis de controlar.
As espécies florestais diferem, quer na forma como resistem à passagem do fogo, quer nas condições que criam para a sua propagação, sendo importante esta compreensão para a gestão das nossas florestas.
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