A charca consiste na escavação de terreno, sua impermeabilização (acompanhada com colocação de inertes), ou não, e o seu enchimento com água com o intuito de possuir um depósito e captador desta, garantindo assim constantes recursos hídricos ao agricultor que a possui. No fundo, a charca acaba por ser um charco [massa de água parada ou de corrente bastante reduzida, permanente ou temporária, superior a uma poça (pequena massa de água, que normalmente é possível atravessar com um só passo) e inferior a um lago (massa de água com mais de 1 hectare de superfície e uma profundidade que permite a sua estratificação)] com a diferença de a charca ser artificial (criada pelo homem) e o charco ser de origem natural, originado por acumulação de águas da chuva ou provenientes de lençóis freáticos em zonas de depressão geológica.
As charcas obtêm água de duas formas naturais: captando a água que provém das chuvas e/ou aproveitando a água de escoação de terrenos inclinados (neste caso a charca não se encontra impermeabilizada). Desta forma o homem só necessita de intervir no enchimento desta com água uma vez num longo período de tempo, de resto esta vai sendo captada e mantendo o seu volume praticamente constante.
As charcas servem, então, para regar os campos agrícolas e mantê-los fornecidos de água durante largos períodos de tempo através de sistemas de rega automáticos, como a rega gota a gota, ou de bombas de água introduzidas na charca de modo a puxar a água para rega manual. Para além disso as charcas atraem seres vivos que, não só promovem a polinização, como podem prevenir o aparecimento de pragas e doenças que possam destruir as plantações diminuindo assim possíveis prejuízos.
Com isto podemos concluir que não só o homem usufrui da construção de charcas mas também outros seres vivos tornando-a assim num ecossistema. Em Portugal existe grande variedade nestas, podendo-se encontrar seres unicelulares:
– eucariontes e heterotróficos, como é o caso das Amebas;
– eucariontes e autotróficos, como as Chlamydomonas (algas das quais fazem parte células flageladas, fundamentais em pesquisas de biologia molecular) e as Volvox (células agrupadas em colónia esferoidal na qual cada célula acaba por se diferenciar e ter uma função diferente dependendo do seu local nesta).
Os seres multicelulares eucariontes (heterotróficos ou autotróficos) atingem uma biodiversidade incrível para um ecossistema tão pequeno e frágil como o de uma charca, podendo ser avistados nesta, flora:
-Emergente – como a hortelã-da-água, o lírio-amarelo-dos- pântanos e a tabúa-larga;
-Flutuante – como a lentilha-de-água, a colher e o nenúfar;
-Imergente – exemplo as espirogiras e as Ceratophyllum demersus.
(a flora varia consoante a época do ano pois nem todas as espécies de plantas indicadas florescem na mesma altura)
E fauna como:
-Répteis – como cágados (espécies como o cágado-de-carapaça-estriada e o cágado–mediterrâneo), cobras de água de como a cobra-de-água-viperina e até o lagarto-de-água;
-Anfíbios – sapos (capo-comum, capo-corredor), rãs (como a rã-verde), salamandras (caso da salamandra-lusitânica e a salamandra-de-pintas-amarela), tritões (como o tritão-marmorado e o tritão-palmado) e a conhecida rela-comum;
– Invertebrados macroscópicos – como a Imperador-azul, libélula nativa de Portugal, o escorpião-de-água e o escaravelho-de-água;
– Aves – como a garça-real e a garça-branca-pequena e também a galinha-de-água (sendo avistada junto de charcas com densa vegetação envolvente);
– Mamíferos – como é o caso do rato-de-água.
Como é óbvio, não poderia faltar toda a fauna e flora exótica devido a atos inconscientes do ser humano. Espécies estas que podem desequilibrar os ecossistemas (espécies invasoras). Em termos de flora podemos encontrar elódeas e azolas nas charcas.
A fauna exótica ou invasora das charcas é normalmente colocada pela pessoa que a possui podendo assim existir uma diversidade enorme destes seres, que são, geralmente peixes, numa tentativa de “embelezar” a charca. Geralmente encontram se mais presentes as carpas e as gambúsias, e também a tartaruga-da-Florida (mas, como referido, pode ser colocado pelo homem qualquer tipo de animal que lhe agrade…).
Para além da integração destas espécies, o ser humano, somente com as suas atividades exploradoras excessivas, já concretiza o desequilíbrio no ecossistema destas charcas. Por exemplo, as charcas que se encontram no fim de terrenos agrícolas inclinados recebem a água que escorre, infiltrada no solo, proveniente das regas, água esta que poderá estar contaminada com químicos nocivos devido à pulverização e fertilização destes terrenos. Esta água mistura-se com a água da charca (caso a charca não esteja impermeabilizada ou tenha tubagens que ajudam à escorrência das águas e permitem a sua entrada na esta) e perturbando o ecossistema. Esta perturbação acaba por se sentir mais no verão devido ao facto de as plantações necessitarem de mais água (aumentado as águas de escorrência) e ao facto de existir maior evaporação das águas da charca o que que irá provocar um aumento de concentração das substâncias nocivas, pois ficam menos diluídas.
Ao não cumprir as normas de segurança (nomeadamente a impermeabilização da charca) as charcas cujas águas se encontram contaminadas irão infiltrar-se no solo e, eventualmente, entrar em contacto com outros cursos de água, que poderão vir a ser consumidos pelos seres humanos criando eventuais problemas de saúde.
As charcas são, de facto, fontes úteis de água para os agricultores, mas é necessário o seu controle pois quando a constrói, mesmo sem querer, o homem está a criar um ecossistema que acaba por perturbar a longo prazo (a este e a outros). É necessário informar os agricultores sobre a utilização e construção de charcas de forma segura, sem provocar quaisquer danos futuros e também ensinar a preservar o ecossistema a jusante da sua construção.
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