“O Rolhinhas” foi visitar a Ibero Massa Florestal, em Oliveira de Azeméis, uma empresa amiga do ambiente, responsável pela produção de um carvão inovador, 100% ecológico, capaz de ser usado tanto em contexto doméstico como no âmbito industrial.
Receberam-nos o Sr. Fernando Rocha, Diretor Geral da IMF e mentor do projeto, João Tiago Santos, Eng. Ambiental e Diretor de Produção – o grande responsável pelo desenho do projeto e pela sua evolução da fase de laboratório à escala real – e o Eng. Nuno Costa, Diretor Comercial. Nuno Costa contou-nos a história desta jovem empresa criada em 2011, fruto de uma parceria de sucesso entre o mundo académico – UTAD e UA – e um empresário sonhador e preocupado com o ambiente.
Durante a visita, guiada a meias pelos jovens engenheiros, foi possível perceber o engenhoso processo de produção deste carvão inovador – com a marca BioPower – bem como as vantagens da sua utilização em prol do ambiente além do eficaz aproveitamento energético que se verifica em todas as fases do fabrico. O brilho nos olhos e o entusiasmo com que foram falando do projeto, não deixaram os nossos cicerones esconder a enorme alegria e orgulho que sentem ao falar da sua criação, pela sua relevância, energética, económica e ambiental.
Desde logo, não passa despercebida – e por isso impressiona – a ausência de poluição numa unidade industrial em pleno funcionamento. Não há fuligens no ambiente de trabalho e, das chaminés, não se vislumbra a exaustão de qualquer fumo, o que é tão mais surpreendente quanto se sabe que toda a laboração da fábrica assenta em processos contínuos de queima de madeiras e que esta é uma área de atividade industrial habitualmente geradora de grandes níveis de poluição. Mas não na IMF. Aqui, expelido para a atmosfera, só mesmo o vapor de água, o que torna esta empresa num caso de sucesso também em termos de impacte ambiental.
Aqui, as espécies infestante são úteis
O processo de fabrico começa com a recolha de lenha proveniente de desflorestações, de podas e da limpeza de florestas, sendo especialmente utilizada a madeira proveniente da Acácia Austrália e da Acácia Mimosa, enquanto espécies infestantes. Desta forma fica prevenida a conservação da floresta nacional e desincentivado o recurso abusivo a madeira proveniente de incêndios com interesse comercial já que esta é paga aos fornecedores a um preço muito inferior ao da restante. Desta forma, já no processo de recolha, fica bem patente o compromisso ambiental da IMF e a preocupação com a produção sustentada de um produto amplamente disseminado nos hábitos dos consumidores, como é o carvão.
Todos os fornecedores da empresa estão devidamente identificados. No estaleiro onde se armazena a madeira consta em cada lote uma ficha com os dados do fornecedor e a data de chegada de cada lote, assegurando-se assim o controlo da proveniência.
Depois de serrada nas medidas certas, a madeira fica pronta para o próximo processo, o processo de queima. É então que a madeira é inserida em fornos-reatores especiais, sem oxigénio, tendo início a fase de desidratação da madeira, por um processo de decomposição por altas temperaturas (pirólise lenta). De início, é produzido calor a partir do exterior (com ajuda de pequenas briquetes criadas a partir do caroço da azeitona, também produzidas na fábrica). Passada uma hora, os próprios gases voláteis (GEE – Gases com Efeito de Estufa) que se libertam e inflamam, são utilizados para assegurar a restante combustão, agora com temperaturas muito mais elevadas (800⁰/900⁰C) num processo que dura cerca de oito horas.
BioPower não produz fumo e aquece mais que o carvão tradicional
O processo de fabrico deu os primeiros passos nos laboratórios da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e da Universidade de Aveiro, instituições académicas onde Fernando Rocha foi recrutar grande parte da equipa de trabalho da IMF, onde se destaca para o diretor de produção João Tiago Santos, elemento determinante para o sucesso do projeto BioPower.
É assim que nasce este biocarvão – o BioPower – com cerca de 95% de carbono fixo (contra 70% do carvão tradicional) e inúmeras vantagens entre as quais o facto de ser leve e isento de elementos químicos passíveis de contribuir para emissões prejudiciais à saúde e ao ambiente. A sua queima não produz fumo, não faz faísca nem chama e tem um poder calorifico muito superior ao do carvão tradicional.
O BioPower não é, no entanto, o único produto amigo do ambiente produzido pela IMF. Com efeito, da produção do carvão para queima também nasce um importante reestruturador de solos, o EcoChar. O EcoChar, que não é mais que o mesmo carvão mas sob a forma moída, pode ser usada para a reestruturação de solos agrícolas e florestais, funcionando como um verdadeiro íman de água e dos nutrientes que as plantas necessitam, explicou Tiago Santos, permitindo assim uma redução de água e de fertilizantes para as culturas em cerca de 40%. Também as emissões de dióxido de carbono são drasticamente reduzidas: por cada Kg de EcoChar que se aplica na terra são retiradas da atmosfera cerca de 3,5 Kg de CO2. E isto dura para sempre já que o biocarvão não precisa de ser reposto.
Trabalhar de camisa branca
Todo o carvão produzido é rigorosamente controlado por uma especialista no laboratório da empresa. Todos os lotes são identificados e testados. Só desta forma é possível verificar se o carvão está apto a entrar no mercado, respeitando o alto padrão de qualidade de produção desta que é uma empresa 100% nacional, única na península ibérica e que, como afirmava orgulhoso Tiago Santos, fotografado junto ao seu primeiro forno-reator, só encontra paralelo em termos de fabrico e qualidade do produto em mais quatro ou cinco empresas ao nível mundial.
A Ibero Massa Florestal – uma fábrica produtora de carvão, onde não há fuligens e se pode trabalhar de camisa branca – presta já hoje um forte contributo para a poupança e a eficiência energéticas, num país que importa 75% do carvão doméstico e onde se estima haver quatro milhões de toneladas de biomassa desperdiçadas.
Números para refletir e um exemplo a seguir. O ambiente agradece e nós também.
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