Coimbra e a sua fauna oculta: a redescoberta da biodiversidade perdida

A biodiversidade é um património natural insubstituível, mas enfrenta ameaças crescentes devido à intervenção humana. Em Coimbra, uma região de riqueza ecológica notável, espécies como o esquilo vermelho (embora agora esteja a reaparecer e a começar a expandir-se), o nenúfar amarelo e branco e o estaque do Baixo Mondego são algumas das que exigem medidas urgentes de proteção.

A ciência cidadã desempenha um papel crucial neste cenário, permitindo que qualquer pessoa contribua para a conservação destes seres vivos. Uma das formas mais eficazes de ajudar na preservação da biodiversidade é a participação ativa da população. “Observar, respeitar e encantar-se com a diversidade natural, comunicando-o aos outros para efeito multiplicador”, sugere a bióloga Raquel Antunes do Exploratório – Centro de Ciência Viva da Universidade de Coimbra, incentivando a consciência ecológica. Pequenos gestos, como registar fotograficamente espécies em vez de as apanhar e evitar fazer ruídos desnecessários em ambientes naturais, ajudam a minimizar o impacto humano.

“Não apanhar ninhos ou ovos e evitar perturbar a fauna são atitudes simples, mas fundamentais para a sobrevivência de muitas espécies”, reforça a especialista. Outra ação relevante é a dispersão de sementes de plantas autóctones, permitindo que a natureza siga o seu curso de forma equilibrada. “Nós somos disseminadores”, acrescenta a bióloga, destacando a importância das “bombas de sementes”, uma prática inovadora para reflorestamento natural.

Livro Vermelho dos Mamíferos

Segundo Armando Carvalho, engenheiro florestal e técnico superior do Turismo de Coimbra, “existe uma publicação de âmbito nacional chamada “Livro Vermelho”, que é atualizada periodicamente e identifica as espécies mais ameaçadas do território português, tanto da flora como da fauna. Algumas destas espécies encontram-se exclusivamente em Portugal ou em certas regiões da Europa, o que levou a União Europeia a criar mecanismos específicos para a sua proteção.”

Como forma de preservar estas espécies, muitas delas ocorrem em áreas naturais protegidas, criadas para garantir a sua sobrevivência. Armando Carvalho destaca que “estas áreas protegidas podem ser muito diferentes entre si, dependendo das espécies que procuram resguardar. Entre as espécies mais emblemáticas da região Centro que justificaram a criação destas áreas, encontram-se o esquilo vermelho e diversas plantas endémicas ameaçadas.

De acordo com as pesquisas efetuadas, o Esquilo-Vermelho é uma das espécies mais reconhecidas da fauna protegida da região de Coimbra.

Este pequeno mamífero arborícola, nativo da Europa, chegou a desaparecer de Portugal, mas nas últimas décadas tem sido novamente avistado em várias zonas do país, incluindo Coimbra.

Caracteriza-se pela sua pelagem vermelha, que pode variar para tons avermelhados ou castanhos, dependendo do clima e do habitat. Possui ainda uma longa cauda peluda, que lhe confere equilíbrio ao movimentar-se entre as árvores.

Esquilo Vermelho

Em 1994, foi introduzido no Jardim Botânico de Coimbra, mas desapareceu por algum tempo antes de recolonizar a Mata Nacional do Choupal, onde voltou a ser observado, com registos fotográficos que comprovam a sua presença.

Atualmente, existem iniciativas de sensibilização e projetos de conservação para acompanhar a recuperação desta espécie. Há também plataformas digitais e páginas nas redes sociais dedicadas à sua monitorização, incentivando a população a registar avistamentos e contribuir para o estudo e preservação do esquilo-vermelho.

A educação ambiental também desempenha um papel fundamental. “A sensibilização das novas gerações para a importância da biodiversidade é essencial para um futuro sustentável”, explica a bióloga Raquel Tavares. Projetos escolares e atividades de ciência cidadã ajudam a aproximar a comunidade da natureza e promover um comportamento mais responsável.

Neste âmbito de consciência ambiental foi realizado um inquérito aos alunos do 10º ano ao 12ºano da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, que mostrou que a maioria dos alunos tem uma boa consciência ambiental, com uma taxa de acertos de 75%. Eles reconhecem a importância da ciência cidadã, da conservação da biodiversidade e de práticas sustentáveis, como minimizar impactos em caminhadas ecológicas e respeitar áreas protegidas.

Quadro resumo das 40 respostas ao questionário realizado.

Os resultados refletem um bom conhecimento sobre a preservação da natureza e a necessidade de proteger espécies ameaçadas.

Coimbra, com a sua biodiversidade rica e variada, é um verdadeiro refúgio para espécies ameaçadas. No entanto, garantir a sua preservação depende do esforço coletivo de instituições, cientistas e cidadãos comuns. Pequenas mudanças de hábitos, como evitar lixo nas caminhadas, respeitar a fauna e flora e participar em projetos de ciência cidadã, são passos essenciais para proteger este património natural para as gerações futuras.