O fenómeno do aumento populacional nas cidades teve a sua génese com o denominado “êxodo rural”. O êxodo rural entende-se como o abandono do campo e de zonas rurais devido à deslocação da sua população, geralmente em busca de melhores condições de vida, para centros urbanos. Este fenómeno é bem visível em Portugal. Existem cada vez menos pessoas a habitar nas regiões do interior do país (consideradas rurais) e mais a habitar nas grandes cidades do litoral.
De acordo com Marisa Rodrigues, num artigo de opinião publicado no “Planeamento Territorial”, existe uma progressiva concentração de pessoas e atividades ao longo do litoral do país, sem que o interior acompanhe esse ritmo, fenómeno a que se dá o nome de litoralização e que se verificou com maior intensidade em Portugal a partir da década de sessenta como consequência da evolução económica e demográfica. O aumento da concentração de pessoas nas grandes cidades (Lisboa e Porto principalmente) deu-se, essencialmente, devido ao êxodo rural e à emigração, sendo que ao longo das últimas décadas, estas cidades foram crescendo e com elas a sua população, a diversificação de atividades económicas e os seus municípios vizinhos.
Segundo os dados dos últimos Censos, realizados em 2011, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) contava com cerca de 2,8 milhões de habitantes, representando cerca de 27% da população portuguesa, enquanto a Área Metropolitana do Porto tinha cerca de 18% da população total. Isto significa que, as duas metrópoles juntas tinham praticamente metade de toda a população residente em Portugal. Com base nos dados disponibilizados pelo INE/PORDATA relativos a 2018, e em particular para a AML, este número tem aumentado.
Esta concentração populacional nas cidades e a sua evolução teve um impacto significativo na natureza, desencadeando diversos problemas ambientais, como a poluição, o desmatamento, a redução de biodiversidades, alterações climáticas, uma maior produção de resíduos, etc.
Os problemas mais visíveis característicos das cidades são a poluição sonora, visual e do ar. Segundo a associação ambientalista ZERO, a cidade de Lisboa é a segunda capital da Europa com mais poluição sonora, logo a seguir ao Luxemburgo. O ruído proveniente do tráfego aéreo está identificado como o principal problema em Lisboa, uma vez que o aeroporto Humberto Delgado se encontra no perímetro da cidade. O ruído causado tráfego rodoviário, nomeadamente os automóveis, os transportes coletivos (como autocarros, comboios e metro), e de inúmeras outras atividades, contribuem também para a poluição sonora na cidade e causam danos na saúde das populações.
Os anúncios e placares iluminados, o excesso de luzes, os fios elétricos e outros são também uma forma de poluição que pode influenciar a saúde das populações. Nos grandes centros industriais, o uso de automóveis e o funcionamento de fábricas emitem gases poluentes para a atmosfera que retém calor e contribuem para o aumento do efeito estufa. Estes gases, para além de poluírem a atmosfera, alteram o clima e provocam chuvas ácidas. Geram também problemas de saúde para população em questão como doenças respiratórias.
Outro problema relativo aos centros urbanos é o uso de alcatrão, que potencia a impermeabilização dos solos. A compactação do solo e o alcatrão tornam o solo impermeável, o que dificulta a infiltração da água. Isto prejudica o abastecimento dos lençóis freáticos, reduzindo a reposição da água subterrânea. Outro fator preocupante deste efeito é o aumento da escorrência superficial que pode promover fenómenos de cheias como aconteceu em 1976 na região de Lisboa e que em 2019 foi amplamente recordado por diversos meios de comunicação social
O aumento populacional causa também o aumento da produção de resíduos. No atual modelo de consumo, a produção de resíduos tem vindo a aumentar cada vez mais. E onde é que vão parar os resíduos depois de os colocarmos no contentor? Foi a esta pergunta que, em 2014, o jornal SOL tentou responder. Apesar de em algumas cidades, inclusive Lisboa, parte dos resíduos indiferenciados ser recolhido, incinerado e convertido em energia elétrica e outra parte reciclada, nem todo é tratado assim. Muito dos resíduos tem como destino os aterros sanitários que, não obstante o cumprimento de todos os requisitos técnicos de construção e exploração, têm como consequências o mau odor, a proliferação de doenças, a contaminação de solos, dentre outras.
O município de Lisboa, no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, tendo em conta esta situação e face a este cenário de problemática ambiental, assumiu o compromisso de elaborar e aplicar políticas ambientais eficazes e capazes de o contornar. Além disso reconheceu ser muito importante haver uma consciencialização e um alerta às populações para que dêem a devida atenção a este problema e comecem o mais cedo possível a tomar as devidas medidas preventivas. Considerando haver a necessidade de implementar meios para combater os problemas enunciados, como a redução da produção de resíduos, o aumento da reciclagem, o tratamento adequado dos resíduos, com recurso, por exemplo, à incineração e à compostagem, um bom saneamento ambiental aliado a um planeamento urbano adequado, assim como a redução da emissão de gases poluentes e a educação ambiental, algumas medidas já estão a ser tomadas para a diminuição do impacto ambiental que o excesso de população causa.
No âmbito do programa Lisboa Capital Verde Europeia, foram definidos vários objetivos para a cidade como a redução de 60% das emissões de carbono até 2030, a neutralidade carbónica até 2050 e resiliência às alterações climáticas. Para alcançar estes ambiciosos objetivos, a Câmara Municipal de Lisboa comprometeu-se a implementar várias medidas para promover a poupança energética, a mobilidade sustentável, a criação de infraestruturas verdes, diminuição do consumo de água, a melhoria da drenagem da água, a diminuição do ruído, a melhoria da qualidade do ar, entre outras.
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