COP25: Da discussão à ação?

O segundo dia da edição de 2020 do Seminário Eco-Escolas ficou marcado por um balanço da COP25, conferência do clima da ONU que decorreu no final do ano passado em Madrid. Francisco Ferreira, da Associação Ambientalista Zero, esteve na capital espanhola a participar na conferência, e lançou a questão: “Será que, efetivamente, valeu a pena?”

A conferência do clima que a ONU organiza todos os anos é um dos pontos altos da discussão sobre as alterações climáticas a nível mundial. A do ano passado esteve inicialmente prevista realizar-se no Chile. A instabilidade política e social que se vive no país acabou por mudar os planos, e Madrid surgiu como a resposta possível à alteração não planeada no local da COP. Desde logo, imprevisibilidade parece ter sido a palavra capaz de melhor de descrever toda a ordem de trabalhos da semana de discussão. De recordar que a COP 25 encerrou os seus trabalhos com um dia e meio de atraso, numa autêntica maratona negocial. O consenso chegou em várias matérias, mas não naquela considerada como uma das mais sensíveis e urgentes: o célebre artigo 6, cuja discussão já advinha da Conferência de Paris, e que se centra na questão dos mercados de carbono.

Francisco Ferreira, COP 25.

O Presidente da Zero, Francisco Ferreira, foi um dos portugueses presentes na COP, e imediatamente após o fim do encontro, aos media Portugueses, comparou o evento a um divórcio. Tanto um divórcio entre os países, como um divórcio entre aquelas que eram as medidas reivindicadas pela sociedade civil e aquelas que efetivamente foram tomadas e acordadas. Num dos painéis que se realizou no segundo dia do Seminário Eco-Escolas de 2020, que neste ano teve lugar na Lisboa recém nomeada Capital Verde Europeia 2020, o ambientalista recordou aquilo que se esperava de diferente face a todas as Conferências do Clima realizadas anteriormente. O acordo de Paris de 2015 foi um marco de viragem no combate às alterações climáticas, e veio mudar a visão com a qual o Protocolo de Quioto até então encarava o problema. Com Paris, o acordo passa a ser visto como parte de um processo que deve ser de continuidade, e não como um objetivo isolado. “O acordo de Paris passa a olhar para este problema como um processo e não um objetivo em si mesmo”, constatou o Presidente da Zero.

E como parte deste projeto de continuidade fazem parte os jovens, especialmente no último ano. A jovem sueca Greta Thunberg iniciou um movimento global de luta pelo combate às alterações climáticas, que inspirou vários movimentos um pouco por tudo o mundo, de que é exemplo em Portugal a Greve Climática Estudantil, que se concentrou por duas vezes frente à Assembleia da República no decorrer do ano de 2019. Antes de partir para Madrid, rumo à COP, onde foi estrela de cartaz e era esperada com expetativa, Greta Thunberg passou por Lisboa. Ao chegar à capital espanhola, Greta encabeçou uma das grandes manifestações de jovens que marcou a semana de discussão. De Portugal, juntaram-se aos protestos perto de 300 ativistas, mas no total estima-se que mais de 100.000 pessoas, muitos dos quais jovens, tenham participado nesta reivindicação pela mudança.

Joana Pedro é Jovem Repórter para o Ambiente há quase uma década, estuda hoje medicina veterinária na Universidade de Lisboa, e já acompanhou duas Conferências do Clima da ONU. Acompanhou de perto as negociações na COP22, realizada em Marrocos no ano de 2016, e em dezembro rumou a Madrid , onde, juntamente com Jovens Repórteres de outros países, viveu na primeira pessoa o clima frenético e expectante de mudança que se sentiu no ar durante o evento. A jovem de 22 anos não tem dúvidas de que apesar da estratégia articulada que é acordada entre grandes decisores políticos e grandes empresas neste tipo de conferências ser vital para resolver este cenário de crise climática, é a consciência e ação individual que devem constituir o ponto de partida para mudar seja o que for. E apesar do balanço negro que é feito da Conferência, a estudante de medicina veterinária quis deixar uma mensagem de esperança, e clarificar que “nem tudo foi tão negativo quanto isso”. Como prova, referiu um dos mais recentes projetos lançados pela WWF, que escolheu o palco da COP para o apresentar, chamado de “Creating a Climate Positive Business Movement”. O projeto junta grandes MARCAS como o IKEA ou a HM na missão de, entre outras coisas, diminuir as emissões de gases poluentes durante os seus processos de fabrico. Com grandes consensos ou não, a expetativa é de que o ano de 2020 traga resultados mais efetivos. A COP26 está já marcada, e realizar-se-á em Glasgow em novembro deste ano.

Joana Pedro