A conferência do clima que a ONU organiza todos os anos é um dos pontos altos da discussão sobre as alterações climáticas a nível mundial. A do ano passado esteve inicialmente prevista realizar-se no Chile. A instabilidade política e social que se vive no país acabou por mudar os planos, e Madrid surgiu como a resposta possível à alteração não planeada no local da COP. Desde logo, imprevisibilidade parece ter sido a palavra capaz de melhor de descrever toda a ordem de trabalhos da semana de discussão. De recordar que a COP 25 encerrou os seus trabalhos com um dia e meio de atraso, numa autêntica maratona negocial. O consenso chegou em várias matérias, mas não naquela considerada como uma das mais sensíveis e urgentes: o célebre artigo 6, cuja discussão já advinha da Conferência de Paris, e que se centra na questão dos mercados de carbono.
O Presidente da Zero, Francisco Ferreira, foi um dos portugueses presentes na COP, e imediatamente após o fim do encontro, aos media Portugueses, comparou o evento a um divórcio. Tanto um divórcio entre os países, como um divórcio entre aquelas que eram as medidas reivindicadas pela sociedade civil e aquelas que efetivamente foram tomadas e acordadas. Num dos painéis que se realizou no segundo dia do Seminário Eco-Escolas de 2020, que neste ano teve lugar na Lisboa recém nomeada Capital Verde Europeia 2020, o ambientalista recordou aquilo que se esperava de diferente face a todas as Conferências do Clima realizadas anteriormente. O acordo de Paris de 2015 foi um marco de viragem no combate às alterações climáticas, e veio mudar a visão com a qual o Protocolo de Quioto até então encarava o problema. Com Paris, o acordo passa a ser visto como parte de um processo que deve ser de continuidade, e não como um objetivo isolado. “O acordo de Paris passa a olhar para este problema como um processo e não um objetivo em si mesmo”, constatou o Presidente da Zero.
E como parte deste projeto de continuidade fazem parte os jovens, especialmente no último ano. A jovem sueca Greta Thunberg iniciou um movimento global de luta pelo combate às alterações climáticas, que inspirou vários movimentos um pouco por tudo o mundo, de que é exemplo em Portugal a Greve Climática Estudantil, que se concentrou por duas vezes frente à Assembleia da República no decorrer do ano de 2019. Antes de partir para Madrid, rumo à COP, onde foi estrela de cartaz e era esperada com expetativa, Greta Thunberg passou por Lisboa. Ao chegar à capital espanhola, Greta encabeçou uma das grandes manifestações de jovens que marcou a semana de discussão. De Portugal, juntaram-se aos protestos perto de 300 ativistas, mas no total estima-se que mais de 100.000 pessoas, muitos dos quais jovens, tenham participado nesta reivindicação pela mudança.
Joana Pedro é Jovem Repórter para o Ambiente há quase uma década, estuda hoje medicina veterinária na Universidade de Lisboa, e já acompanhou duas Conferências do Clima da ONU. Acompanhou de perto as negociações na COP22, realizada em Marrocos no ano de 2016, e em dezembro rumou a Madrid , onde, juntamente com Jovens Repórteres de outros países, viveu na primeira pessoa o clima frenético e expectante de mudança que se sentiu no ar durante o evento. A jovem de 22 anos não tem dúvidas de que apesar da estratégia articulada que é acordada entre grandes decisores políticos e grandes empresas neste tipo de conferências ser vital para resolver este cenário de crise climática, é a consciência e ação individual que devem constituir o ponto de partida para mudar seja o que for. E apesar do balanço negro que é feito da Conferência, a estudante de medicina veterinária quis deixar uma mensagem de esperança, e clarificar que “nem tudo foi tão negativo quanto isso”. Como prova, referiu um dos mais recentes projetos lançados pela WWF, que escolheu o palco da COP para o apresentar, chamado de “Creating a Climate Positive Business Movement”. O projeto junta grandes MARCAS como o IKEA ou a HM na missão de, entre outras coisas, diminuir as emissões de gases poluentes durante os seus processos de fabrico. Com grandes consensos ou não, a expetativa é de que o ano de 2020 traga resultados mais efetivos. A COP26 está já marcada, e realizar-se-á em Glasgow em novembro deste ano.
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