Coronavírus: uma oportunidade para o ambiente?

O recente surto de Coronavírus, doença declarada pandemia, tem tido enormes repercussões não só a nível nacional, mas também a nível mundial. Desde cidades paradas, fronteiras fechadas a fábricas paralisadas, são inúmeras as consequências evidentes que a “praga” causou. A despeito destes infortúnios, é possível verificar alguns impactos positivos, nomeadamente os ambientais, mostrando uma oportunidade para repensar o nosso estilo de vida.

Identificado pela primeira vez na China, na cidade de Wuhan, sobressaltou a população mundial, já que este novo agente nunca tinha sido identificado anteriormente em seres humanos. Em reação ao coronavírus, na China, foram decretadas quarentenas em massa por um estado autoritário, que levaram a indústria chinesa a parar de forma abrupta. 

Esta paragem teve um efeito dominó, visto que foi proibido o uso de transportes de pessoas e bens, neste país de 1,386 mil milhões de pessoas, afetando uma das maiores migrações do nosso planeta, a celebração do ano novo chinês. O Earth Observatory da NASA informou que houve uma importante redução de dióxido de azoto (NO₂), gás poluente produzido pela indústria e pelos meios de transporte. Estes valores estavam 30% mais baixos em relação a igual período de 2019. Outro artigo do Carbon Brief, que reúne investigadores do clima e energia, também aponta a redução das atividades industriais na altura do novo ano chinês como uma causa para a redução de 25% do CO₂ nas quatro semanas que se seguiram ao evento. Esta situação ocorre anualmente, mas os investigadores afirmam que a situação do COVID-19 trouxe um efeito excecional na redução de poluentes em quantidade e em duração. 

Este efeito não só foi sentido na China, mas  também na Itália, país afetado nefastamente pelo vírus, que também vem a notar uma incrível descida das emissões de NO₂, com especial enfoque a norte deste país europeu.

À escala mundial, o coronavírus teve um enorme impacto no transporte aéreo, prevendo-se uma redução de 10% dos voos em todo o mundo. Em Portugal, a TAP comunicou que há uma redução total de 3,5 mil voos o que equivale a 7% dos voos programados para março, a 11% dos voos previstos para abril e 19% dos voos de maio.

Teletrabalho: o futuro do mundo? 

Com toda a agitação provocada pelo coronavírus, grande parte das pessoas ficou com um problema para resolver relativamente ao seu local de trabalho. Como continuar a trabalhar, se era imperioso evitar o contacto social? Todos esses trabalhadores não iriam ficar sem trabalhar, já que a economia não pára, tendo surgido uma solução: o teletrabalho. O teletrabalho é o termo usado para designar o trabalho realizado em casa, que já é feito há algum tempo por algumas pessoas, mas que no período de quarentena tem sido  vital para que os profissionais continuem a realizar e a executar as suas funções sem se deslocar para o local de trabalho. O facto desta grande massa de trabalhadores não ir para os locais de emprego tem algumas consequências positivas no ambiente, já que é mais um fator para a diminuição massiva de poluentes para o ar. No caso dos trabalhadores, que usam transportes públicos para se deslocar para o trabalho, estes têm evitado o seu uso e começa a existir cada vez mais pessoas que optam pela bicicleta como meio de locomoção, tornando-se isso mais uma vantagem para o ambiente. 

Uma oportunidade para a sustentabilidade?

O receio do novo coronavírus está a tornar algumas pessoas mais cautelosas e preocupadas com a necessidade de fazerem compras em locais públicos. No entanto, continuam a precisar de adquirir alguns bens e as plataformas de comércio eletrónico podem ser a solução. Nos Estados Unidos da América, perto de metade dos internautas admitia, num inquérito realizado no mês passado, estar a evitar centros comerciais. O mesmo estudo, realizado pela Coresight Research, indica que 74,6% pretendia manter-se totalmente longe deste tipo de locais. Perante isso começaram a surgir soluções. O afamado comércio online começa a ganhar mais terreno com o facto das pessoas evitarem ir a centros comerciais ou supermercados. Exemplos como Uber, Glovo ou as grandes plataformas que realizam entregas ao domicílio, acabam por substituir os transportes que os clientes iriam usar, baixando a pegada carbónica deles mesmos. Com isso, este comércio online revela-se muito vantajoso em termos ambientais e com toda a população a evitar ir para os centros comerciais ou supermercados, acaba por aumentar a eficácia deste tipo de comércio.

Atualmente estes pequenos espaços urbanos ganham outro valor.// Diogo Martins

Perante toda esta situação, as cidades revelam não ser autossuficientes relativamente à produção. Consequência disso, outra solução surge, o perdurável exemplo de ter uma horta urbana ou uma horta num pequeno espaço em casa. A agricultura biológica pode proporcionar, por exemplo, vegetais que podem  escassear nas plataformas comerciais tradicionais. De facto, a agricultura urbana tem sido mais reconhecida ultimamente e em tempos de crise como este, revelam-se uma alternativa aos supermercados. As pessoas tendem a refletir melhor sobre o assunto, mudando a forma  como vemos as cidades e a vantagem que é realizar agricultura em casa. Se se apostar em agricultura urbana a pegada carbónica de cada pessoa irá diminuir pelo facto de não haver deslocamento para os supermercados, no caso de se usar o carro, e também diminui a necessidade de consumir alimentos não biológicos, que têm um custo ambiental superior em toda a sua produção e transporte.

Acompanhando a ideia da agricultura biológica, porque não ter uma galinha em casa? Esta ideia é conhecida normalmente nas aldeias, não sendo muito comum ter-se uma galinha em casa nas áreas urbanas. Com a atual crise em que nos encontramos, nos supermercados o açambarcamento torna-se uma visão habitual, os produtos alimentares que são repostos rapidamente escasseiam, não obstante a subida do preço dos mesmos, esta ideia parece bastante importante. A propósito disso, a agricultura biológica ajuda  a colmatar essas dificuldades, mas uma galinha em casa pode trazer algo mais, pode trazer ovos. Este alimento é frequentemente usado na dieta atual do ser humano e tendo uma galinha em casa poderá fornecer esse bem de forma constante, evitando-se que seja necessária ir comprá-los ao supermercado. Para além disso, ter uma galinha em casa ainda valoriza os desperdícios alimentares que desta forma deixam de acabar em aterros sanitários, fazendo parte da dieta da galinha. 

 O mundo começa a ficar parado, estagnando toda a atividade diária brutal produzida que, como é sabido, tem um impacto fortíssimo no ambiente, prejudicando-o e consequentemente afetando-nos a nós e a toda a biodiversidade. É agora tempo de se parar e refletir para mudar a forma de vermos a cidade e a nossa exposição ao estilo de vida consumista que  obriga cada vez mais a que as vontades da sociedade sejam servidas, ignorando plenamente o reflexo das consequências.

Fontes:

Nasa Earth Observatory (2020, March) Airborne Nitrogen Dioxide Plummets Over China. Acedido a 18 de março de 2020.

Carbon Brief (2020, February 19) Analysis: Coronavirus temporarily reduced China’s CO2 emissions by a quarter. Acedido a 18 de março de 2020.

Markeeter (2020, March 12) Coronavírus altera hábitos de consumo e alavanca compras online. Acedido a 19 de março de 2020.

Diogo Martins