DESSI – A poluição e a apanha de bivalves no Tejo

O projeto DESSI visa expor problemas decorrentes do antigo complexo industrial da CUF (Companhia União Fabril), depois designada por Quimigal, no Barreiro. No início do século XX, a CUF instalou-se no Barreiro, no território atualmente gerido pela empresa Baía do Tejo. Nas suas fábricas foram produzidos inúmeros produtos, desde tecidos a químicos, tendo existido um grande impacto ambiental na área, com reflexos nas águas, nos solos, na atmosfera e na paisagem sonora. Mas de que forma é que esta poluição ainda afeta os barreirenses nos dias de hoje? E que avaliação fazem sobre a necessidade de descontaminação desta área?

Neste primeiro artigo iremos focar-nos apenas na poluição das águas e do leito do Tejo.

De modo a desenvolver este tema, realizámos um inquérito que obteve 289 respostas. Graças ao mesmo, podemos entender a opinião da população sobre esses problemas ambientais na atualidade, de que forma afetam as suas vidas e a importância da sua resolução para o futuro do concelho.

Figura 1 – A opinião dos inquiridos sobre a poluição do leito do rio revela que cerca de 85% consideram que o mesmo está contaminado ou muito contaminado por substâncias perigosas.

As águas do Tejo que banham o Barreiro estiveram em tempos extremamente contaminadas, no entanto, ao longo das décadas, verificou-se um processo de progressiva descontaminação[1].

No nosso contacto com a população obtivemos testemunhos muitos valiosos sobre este assunto, como por exemplo o de uma senhora que nos relatou que, nos seus tempos de juventude, as águas do Barreiro eram muito turvas e sujas e ninguém tinha coragem de lá entrar. Mas, atualmente, as praias fluviais do Barreiro têm ganho popularidade, “tendo até uma cabana para o nadador-salvador”, no caso da praia de Alburrica.

No entanto, estas águas ainda não estão totalmente despoluídas, sendo este um dos entraves ao avanço de projetos que têm como objetivo o desenvolvimento económico do Barreiro.

Paralelamente, a contaminação das águas e do leito do rio é também um dos grandes obstáculos à regularização da atividade de captura da amêijoa no estuário do Tejo.

A questão da apanha de bivalves na área, apesar de economicamente importante, tem vindo a revelar-se um crescente problema com vertentes sociais, ambientais e sanitárias.

De acordo com um estudo científico[2] (cujo capítulo é intitulado Amêijoa-japonesa, uma nova realidade no estuário do rio Tejo: pesca e pressão social e impacto socioeconómico) realizado em 2015 em diversos pontos do estuário do Tejo, entre 9 e 47 toneladas desta espécie de bivalves são recolhidas diariamente, havendo uma estimativa de 1724 apanhadores – deste número, apenas cerca de 200 são possuidores de uma licença.

Apesar destes números serem alarmantes, eles ainda ocultam a realidade humana e o regime de exploração que estão na base desta atividade: a maioria dos apanhadores são imigrantes, com baixo nível de escolaridade, que trabalham em condições precárias ao longo do ano inteiro (cerca de 65% são apeados, realizando a pesca manualmente, com ancinhos, enxadas, sachos ou facas de mariscar) visto que esta é a sua única forma de rendimento. Para além disso, inúmeras ilegalidades têm vindo a ser detetadas e combatidas nos últimos anos pelas autoridades, como “redes de tráfico de amêijoa, detidas pessoas e recolhidos indícios de associação criminosa, fraude fiscal, falsificação de documentos, branqueamento de capitais, crimes contra a saúde pública, posse ilegal de arma, tráfico de seres humanos e auxílio à imigração ilegal.”[3].

Figura 2 – O número de mariscadores aumenta consideravelmente durante a maré vazia.

Acresce que não podemos ignorar o aspeto sanitário do problema. A apanha da amêijoa-japonesa e de outras espécies de bivalves no estuário do Tejo é realizada com fins de comercialização. Para tal é necessário que os bivalves sejam depurados e descontaminados, visto que, na área a jusante da ponte Vasco da Gama, embora a apanha seja permitida, o nível de contaminação dos solos do leito do rio não permite a sua venda sem algum de tipo limpeza ou tratamento. Como no Barreiro não existe nenhuma central capaz de realizar esse trabalho de depuração (ainda que exista um projeto, coordenado pelo IPMA e atualmente suspenso, de construção de uma depuradora no Barreiro), os bivalves acabam por ser vendidos diretamente após a sua apanha, sem quaisquer garantias de salvaguarda da saúde pública.

Assim, concluímos que a presença de substâncias e toxinas no estuário do Tejo que contaminam os bivalves na zona ribeirinha do Barreiro e na dos concelhos limítrofes necessita de uma resolução rápida e eficaz pelas entidades competentes. Ao focarmos este assunto, esperamos ter dado o nosso contributo.

Fontes

[1] https://www.cm-barreiro.pt/viver/noticia/qualidade-da-agua-balnear

[2] http://www.redebraspor.org/livros/2016/Capitulo%201_Mac.pdf

[3] https://www.cm-barreiro.pt/cmbarreiro/uploads/document/file/11475/del__38_2021_recomendacao_pela_resolucao_dos_problemas_sociais_e_ambientais_da_apanha_de_bivalves_no_estuario_do_tejo.pdf

 

 

Leonor Alberto, Maria Santos, Ricardo Roque e Tomás Ventura - 11ºD / Geografia A