Numa manhã de um sábado, na cidade de Braga, entoou o som das motosserras que despertou com espanto os moradores da zona envolvente do International Iberian Nanotechnology Laboratory (INL). Este ato, que marcou o início do processo de abate de árvores ao abrigo da requalificação da avenida dos Lusíadas, foi rapidamente considerado nas redes sociais, como um ato criminoso que lesa toda a cidade.
Este abate desencadeou a revolta de um grupo de cidadãos de Braga que, como forma de protesto, se mobilizaram, colocando vários avisos em torno das árvores, alertando os bracarenses do que estava prestes a acontecer às restantes árvores. Todas estas iniciativas fizeram emergir o movimento cívico “S.O.S. Árvores da Avenida dos Lusíadas que conta com mais de 700 membros, tal como com uma petição assinada por mais de 2800 pessoas.
Esta operação de requalificação da variante para a construção da ciclovia, que pretende unir Lamaçães à Universidade do Minho, foi planeada contando com o corte de 56 árvores e uma mudança da estrada. “Será um rude golpe para a cidade, que precisa das árvores para providenciar sombra nos dias quentes e combater a poluição. Além disso, quem gostaria de morar numa cidade sem árvores?” explica Pedro Augusto Pinheiro, engenheiro civil e um dos criadores do movimento. Pedro Pinheiro acrescenta ainda que “Sem árvores, não vamos lá” e que “a defesa das árvores é uma causa importantíssima para todos” pois, para além da destruição de ecossistemas, o abate de árvores terá outros efeitos como a “impermeabilização do solo”, a diminuição de atividades desportivas ao ar livre e ainda, segundo o engenheiro civil, “as árvores adultas são fundamentais para a captação de carbono, para o combate à poluição e para efeitos das alterações climáticas, providenciando ao mesmo tempo sombra para os utentes das vias nos períodos de maior calor, como o que atualmente atravessamos”.
A reabilitação integral da Variante da Encosta, no eixo formado pelas Avenidas D. João II, Alfredo Barros e dos Lusíadas, bem como a sua ligação à Universidade do Minho, pretende ser, segundo a CMB, um investimento de 3 milhões de euros, e que vai melhorar as condições de circulação dos peões, com a criação de novas passadeiras, reformulação das rotundas e a adoção de medidas de acalmia de tráfego com vista à humanização do espaço público, redução da primazia do automóvel e promoção dos modos suaves de mobilidade. Em declarações à Rádio Universitária do Minho, o vereador do Urbanismo, Miguel Bandeira, defende que neste projeto do abate de árvores, no final de contas, “vai apenas existir a diminuição de três árvores”, sendo que “A ideia é replantar um outro tipo de árvores que, de acordo com os serviços especializados da executivo camarário, são as mais adequadas para o lugar”, remata o vereador àquela rádio. Pedro Augusto Pinheiro argumenta que “por vezes insultam a inteligência dos bracarenses, esperando que os benefícios locais de uma árvore adulta continuem a existir, mas em local distante providenciados por um rebento de árvore que provavelmente morrerá vítima de falta de cuidados e de água”. Sabendo que as espécies retiradas tinham idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos e que árvores juvenis precisarão dos mesmos anos para produzir o mesmo efeito para a cidade e seus habitantes, no imediato, este fator provocará uma diminuição da atratividade para o passeio, jogging e ciclismo, sendo este o propósito subjacente à requalificação da área. Pedro Augusto Pinheiro diz também que “as árvores são parte imprescindível de qualquer política ambiental para lidar com o aumento da temperatura nas cidades” acrescentando que para os habitantes “É difícil defender qualquer causa que não tenha o apoio da população, mas a questão das árvores é fundamental para a qualidade de vida da cidade”.
Perante esta situação, mal aceite pelos habitantes, a incompreensão pelo traçado do projeto não incorpora o contorno e preservação das árvores existentes. A solução, segundo os defensores das árvores, deveria implicar medidas que promovessem a coexistência da natureza e biodiversidade com as cidades e o ser humano. Manter as árvores na ciclovia mostra-se algo viável e, mesmo que possa por vezes representar um obstáculo para os transeuntes, adquire um balanço ambiental muito mais positivo e também um maior nível de atratividade e conforto para os cidadãos. A aplicação de medidas de preservação aparenta ser mais positiva, tanto a nível ambiental como social, mesmo que possa significar um traçado menos geométrico ou até mais dispendioso, segundo o que defendem os membros do “S.O.S. Árvores da Avenida dos Lusíadas”. Esta situação levou a que, no mês de dezembro, em Assembleia Municipal, este movimento exigisse a elaboração de um regulamento municipal para o património arbóreo urbano, com o objetivo de proteger a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas associados, nomeadamente no que diz respeito às árvores de grande porte.
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