Do lado de dentro do Navio

O Navio Museu Santo André, localizado em Ílhavo, mais precisamente na Ria de Aveiro, encontra-se, desde 2001, aberto ao público, permitindo aos turistas conhecer melhor a história da frota bacalhoeira de Portugal.

No ano de 1948, nasceu o Navio Santo André na Holanda, encomendado por uma empresa aveirense, Empresa de Pesca de Aveiro (EPA). Recebeu esse nome, pelo facto de antigamente ter-se por norma atribuírem-se nomes de santos aos navios. Os oficiais assim o faziam, pois acreditavam que lhes daria sorte e boa fortuna na apanha do peixe. Entretanto, no ano de 1949, realizou a sua primeira viagem nos mares da Terra Nova, Canadá. A rota adotada atravessava a costa portuguesa, fazendo paragens nos Açores, e passando pelos países nórdicos.

Figura 1 – Exterior do Navio

 

“Quem vinha de Portugal, normalmente parava nos Açores, para abastecer ou para entrarem outros homens, e depois seguiam viagem”, disse Amália Godinho, guia turística do museu. As viagens duravam normalmente entre quatro a seis meses, sendo que a tripulação deste navio variava entre 40 a 60 homens, entre todos, oficiais e pescadores. Na pesca, a técnica eleita era a do arrastão lateral, também conhecida como a “clássica”, na qual eram utilizados vários tipos de redes de arrasto onde ficava retido o pescado. Ao longo dos 49 anos em que funcionou como arrastão, foi também, inicialmente, salgador e posteriormente, navio congelador.

Figura 2 – Compartimento reservado à conservação em sal

A principal espécie pescada era, então, o bacalhau. O tratamento deste peixe começava na sala da escala. Nesta sala, o peixe passava por três homens: primeiro, pelo troteiro, de seguida, pelo parte-cabeças e, por fim, o escalador. Nas mãos do troteiro, fazia- se o “trote” do bacalhau, onde se o abria desde a garganta até ao umbigo. Seguidamente, a cabeça era separada do resto do corpo pelo parte-cabeças. Entretanto, o óleo de fígado de bacalhau, rico em vitamina D, era também extraído nesta etapa, usado para prevenir o raquitismo, a doença mais comum na época em questão. Após a cabeça estar separada, o peixe era passado ao escalador, que o abria da zona do umbigo até ao rabo, retirando-lhe, a todo o comprimento, a espinha.

Depois de o bacalhau já estar tratado, este era lavado em tanques de água salgada, passando para uma manga de lona onde escorregava até às mãos dos salgadores. Estes eram pescadores responsáveis por conservar o bacalhau, que era depois colocado no porão, num grande caixote de madeira que tinha uma capacidade de mais de mil toneladas. Por norma, o sal era carregado no navio antes de saírem para viagem em Setúbal. A viagem terminava quando o porão estivesse totalmente ocupado.

Por volta da década de 70, o navio passou a ser também congelador, implementando-se porões de congelação. Nestes, como disse Amália Godinho: “o teto tinha umas serpentinas metálicas responsáveis pelo arrefecimento, semelhantes às que existem nos frigoríficos de hoje em dia”. Aqui eram congeladas espécies como a abrótea e a solha. No entanto, o bacalhau não era congelado, uma vez que a sua conservação se fazia exclusivamente em sal.

A técnica do arrastão lateral acabou por cair em desuso, sendo substituída pela pesca de arrasto, mas desta vez pela ré (parte traseira) do navio, por onde as redes eram manuseadas. Neste seguimento, a sua contribuição para a atividade piscatória de Aveiro, foi diminuindo progressivamente, até esta cessar definitivamente.

Em 2001 foi cedido por acordo à Câmara Municipal de Ílhavo (CMI), com vista a ser recuperado. Foi, então, transformado num museu, tendo, no ano passado, conseguido alcançar a meta de 9

Figura 3 – Cabine

2.000 visitantes, de acordo com as palavras proferidas por Amália Godinho. Em dezembro de 2019, este navio-museu irá ser inter

 

vencionado pela CMI, para que ao longo dos próximos anos se possa dar continuidade ao seu relevo histórico.

Para além da sua função didática e de exposição, o museu também acolhe diversos eventos, como casamentos e sessões de poesia, tendo um papel importante na economia local e sendo um símbolo histórico-cultural da região de Aveiro, nomeadamente Ílhavo.

Grupo A4

Mariana Maurício, Beatriz Costa, Inês Lopes, Sara Barros, Flávia Mota, Bruna Gonçalves, Maria Ferreira, Márcia Capinha, Hugo Gome, André Silva