Em terra de marinheiros e pescadores, a bicicleta destaca-se como principal modo de transporte. “Faz parte do ADN desta cidade, andar de bicicleta”, afirma a diretora do agrupamento, Eugénia Pinheiro, ao eleger a bicicleta Pasteleira como o modo de transporte por excelência do município. “Vejo que antigamente este hábito já existia”, remata a responsável. Tal remonta à época em que após o tinir da campainha, que sinalizava a hora de regresso dos barcos, as ruas eram invadidas por mulheres que, ao volante das suas Pasteleiras se dirigiam à secagem do bacalhau, recorda a diretora.
Num território eminentemente plano, caracterizado por boas acessibilidades que facilitam a proximidade entre os locais, paulatinamente, o carro de bois cedeu o seu lugar à bicicleta, detentora do protagonismo até aos dias de hoje. Esta dinâmica predomina sobretudo na Gafanha da Nazaré, freguesia que atualmente reúne o maior número de utilizadores, com destaque para a comunidade escolar em que mais de 800 alunos pedalam até às escolas do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré. A par dos alunos, também docentes e não docentes se deslocam para a escola ao volante de uma bicicleta, como é o exemplo da auxiliar Sílvia Santos.
Ao contrário da tendência atual que se verifica por todo o mundo, em que a aposta em modos de transporte com menor pegada de carbono tem em vista a diminuição da poluição, no concelho em questão, tal “não surgiu de uma necessidade, mas sim de uma realidade”, avança Eugénia Pinheiro.
Um projeto com a contribuição de todos
O GAFe Bike Lab surgiu através de um desafio lançado em 2016, fruto de uma parceria entre a Câmara Municipal de Ílhavo, o Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré e a Universidade de Aveiro, em virtude da reabilitação da escola nesse ano. De modo a suprir as necessidades dos alunos foi projetado o “Espaço Bicicleta”, “instrumento que visa uma melhor educação e exposição a processos e aprendizagens que fomentam competências e conhecimentos relacionados com a bicicleta”, segundo um artigo publicado no site da Câmara Municipal em 2019.
Entre ferramentas, prateleiras recheadas de materiais tais como pedais, travões, entre outros e sob a decoração alusiva ao tema exposta nas paredes, Henrique Nunes, aluno do 12º ano, apresentou entusiasticamente a Oficina e o projeto do qual orgulhosamente faz parte. O GAFe Bike Lab proporciona à comunidade o arranjo gratuito de bicicletas, facultando apoio técnico.
O projeto consiste em incentivar os alunos a andar mais de bicicleta, criando condições para mais alunos terem acesso a este equipamento, e estimular que a sua utilização ocorra de forma segura.
A iniciativa enquadra-se numa dinâmica de economia circular, fruto da articulação deste com a componente letiva, sendo que os materiais utilizados nas reparações são provenientes de doações efetuadas pela comunidade ou reutilizados da sucata. Como tal, António Rodrigues, professor de Física e Química classifica-o como “um bom domínio de autonomia curricular”.
Esta oficina foi responsável pela criação de várias sinergias, tais como um Protocolo estabelecido com a IPSS Florinhas do Vouga que se prende com a recuperação de bicicletas, posteriormente entregues a cidadãos carenciados e a parceria com o Cycle Aveiro, uma iniciativa que, uma vez por mês, oferece aos alunos formações no âmbito da reparação dos veículos.
Como tal, verifica-se uma aposta da escola na criação de melhores condições para os ciclistas, tomando como exemplo a validação do seguro escolar durante o percurso casa-escola, a distribuição de iluminação led por parte da Junta de Freguesia e a criação de um centro de educação rodoviária promovido pelo Município. Para breve perspetiva-se o fornecimento de material de manutenção rápida para lavagem de bicicletas.
As dificuldades em pedalar persistem
Não obstante, ainda existe um longo percurso a percorrer, com o envolvimento e participação de todos. Menos de 50% da comunidade escolar, em particular os alunos, não são utilizadores assíduos da bicicleta. Alguns fatores que o justificam são a não utilização do capacete, que, por contribuir para a insegurança rodoviária, leva alguns encarregados de educação a proibirem o transporte de bicicleta. A não utilização de capacete, segundo António Rodrigues, prende-se com o bullying. A estes fatores acrescem as condições de segurança rodoviária, o tempo despendido na deslocação e as condições atmosféricas menos favoráveis.
Neste sentido, foi desenvolvida a iniciativa “Escola com pedalada” em que os alunos investigaram de modo a apresentar alternativas para a última agravante mencionada, propondo a aquisição de vestuário adequado e impermeável e a disponibilização de vestuários para o efeito. Foram também propostos mecanismos que permitem incorporar chapéus de chuva nas bicicletas.
Grupo A5
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