Nos dias 5, 6 e 7 de Janeiro de 2014, uma grande tempestade marítima, a que foi dado o nome de Hércules, atingiu várias costas dos Estados Unidos, da Europa Ocidental e do Norte de África. Em Portugal, as gigantescas ondas provocadas por esta tempestade foram especialmente fortes e violentas no dia 6 de Janeiro. No fim de semana após a passagem do Hércules, fui à praia da Apúlia para observar o estado em que esta praia tinha ficado. Fiquei muito impressionada com os estragos provocados pelo Hércules. Muitas das grandes pedras do paredão que existia nesta praia foram arrastadas pelas ondas. Uma grande parte do paredão, que ficava situada dentro do mar, desapareceu. As dunas que formavam uma espécie de grande muro natural, na parte mais a sul da praia, ficaram muito destruídas. Também me impressionou bastante a enorme quantidade de detritos que se encontravam espalhados por toda a praia. Este lixo era constituído essencialmente por objectos provenientes da actividade piscatória e por lixo que as pessoas deixam nas praias e que acabam por ir parar ao mar (ou que é mesmo deitado directamente no mar). Viam-se muitos bocados de redes de pescadores e muitos recipientes de plástico que são utilizados pelos pescadores para capturar polvos. Por todo o lado havia: embalagens vazias de sumos de fruta, leite e outras bebidas, pacotes vazios de batatas fritas e outros snacks, que os veraneantes habitualmente levam para a praia, imensos sacos de plástico, jornais, papéis, bocados de madeira, brinquedos de praia e um grande número de bocados de plástico, provavelmente com origem em objectos abandonados, que se foram partindo pela acção da força das ondas ou do vento, chocando com rochas ou a areia.
É habitual encontrar-se este tipo de lixo nas praias. No entanto, nunca nesta quantidade. A tempestade arrastou para as praias uma parte da imensa quantidade de lixo que vagueia pelos mares. Este lixo terá sido lançado de barcos e navios, arrastado por rios a partir das suas margens ou deitado directamente nos rios por pessoas e fábricas, arrastado para o mar a partir das praias ou lá deitado directamente, mais uma vez, por pessoas e fábricas. Embora, nas condições normais, não nos apercebamos de que existem toneladas de lixo a vaguear nos oceanos, esta tempestade colocou à nossa vista uma pequena amostra dessa realidade. É assustador como uma praia de areia geralmente limpa se transformou de um dia para o outro num areal coberto de lixo onde dificilmente se poderia estender uma toalha sem colocá-la por cima de algum detrito.
Apesar da quantidade de lixo, que pudemos observar, ser chocante, a dimensão deste problema é muito maior do que se imagina. No alto mar existem vários grandes aglomerados de lixo. Estes são formados por detritos que são arrastados pelas correntes marítimas e que se vão concentrando em determinadas zonas. O maior desses aglomerados situa-se no Oceano Pacífico e foi-lhe dado o nome “Grande Depósito de Lixo do Pacífico”. É constituído, principalmente, por pedaços de plástico e, embora a sua extensão exacta seja desconhecida, calcula-se que seja equivalente à dos Estados Unidos. Esta “ilha” de lixo é quase desértica. Poucos seres vivos sobrevivem nestas águas. Não há algas, nem peixes, nem mamíferos marinhos ou outros habitantes dos mares e consequentemente não se avistam aves marinhas a voar sobre essas águas. Nessa zona, praticamente só plâncton pode ser encontrado.
Os detritos sólidos que vagueiam pelos oceanos são confundidos com comida pelos peixes e outros animais marinhos como, por exemplo, as tartarugas e pássaros que se alimentam no mar. Estes, muitas vezes, acabam por morrer após ingerirem sacos ou pedaços de plástico ou esferovite. As redes velhas, abandonadas no mar pelos pescadores, também são fatais para os peixes e os mamíferos que acidentalmente nelas são apanhados.
Os detritos sólidos são apenas uma das formas de poluição que estão a destruir os mares. No entanto, existem muitos outros poluentes que não são visíveis, mas que são igualmente ou mesmo mais perigosos do que os que já foram referidos. É o caso, por exemplo, de: pesticidas, herbicidas, fertilizantes químicos, detergentes e produtos químicos resultantes de processos fabris. Estes produtos, quase sempre tóxicos para o homem, são descarregados nos rios ou acabam por ir lá parar por infiltração nos solos e arrastamento para os caudais de água. Levados pelos rios, chegam, por fim, aos oceanos.
Os medicamentos utilizados por humanos e administrados a animais, que não são completamente processados pelos nossos organismos, acabam por ir parar às descargas de água poluída que chega aos mares. Eventualmente são ingeridos por peixes e outros animais aquáticos de que nos alimentamos, entrando assim na nossa cadeia alimentar. O mesmo se passa com os diversos produtos tóxicos referidos acima, que são transportados para o mar pelos rios ou com outros componentes químicos que têm origem na degradação dos detritos sólidos que vagueiam nos oceanos.
Outra grande fonte de poluição é o petróleo. Os grandes derrames acidentais de petróleo, que ocorrem quando surgem problemas nos petroleiros que o transportam ou quando estes se afundam, originam as chamadas “marés negras”. As marés negras matam fauna e flora marinha e quando chegam à costa matam também a fauna e a flora costeiras. A água atingida pelo petróleo fica imprópria para os banhistas, destruindo também os areais banhados por essas águas.
As marés negras atraem muita atenção pela sua visibilidade. No entanto, existe outra fonte de derrame de petróleo, que não é tão visível, mas igualmente preocupante pois ocorre com muito mais frequência. Trata-se das lavagens de tanques de petroleiros, que são feitas em alto mar. Apesar de proibidas, são realizadas de forma ilegal pois é uma actividade de difícil fiscalização e têm custos mais reduzidos do que as lavagens que evitam os derrames poluentes.
É urgente tomar medidas para impedir que os oceanos morram devido às acções poluentes dos homens. Todos podemos contribuir para tal, começando por nunca deixar lixo na praia, nem deitar lixo para cursos de água ou para o mar.
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