Líquenes presentes em Marvila sugerem níveis médio-altos de contaminação do ar

A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma avaliação dos riscos e fornece dados relevantes para desenvolvimento de medidas para a proteção da saúde das populações. A presença de líquenes, a sua quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a importância de impactos ambientais. A sensibilidade dos diferentes líquenes aos poluentes atmosféricos está bastante dependente do tipo de líquen. Um estudo realizado na área envolvente ao Colégio Valsassina, situado na freguesia de Marvila, em Chelas, aponta para a existência de uma comunidade liquénica nitrófila bastante tolerante à poluição, o que pode ser indicador da existência de níveis de poluição considerados moderados.

A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma avaliação dos riscos e fornece dados relevantes para desenvolvimento de medidas para a proteção da saúde das populações.

Um método de estimativa de contaminantes é a denominada biomonitorização ou por outras palavras, trata-se da amostra das alterações ambientais no qual se utilizam parâmetros biológicos. Utilizando organismos vivos pode estudar-se o efeito de todos os contaminantes atuando em conjunto. A presença de líquenes, a sua quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a importância de impactos ambientais, tendo em conta que uma boa correlação entre a diversidade destes organismos e a concentração de contaminantes.

A sensibilidade dos diferentes líquenes aos poluentes atmosféricos está bastante dependente do tipo de líquen. Por exemplo, os líquenes fruticulosos e foliáceos possuem uma área de contacto com o ar muito maior, pelo que são geralmente mais sensíveis e por isso são mais utilizados na biomonitorização. Pelo contrário, os crustáceos, devido à sua grande adesão ao substrato, apresentam uma menor área de contacto com o ar e com as eventuais substâncias químicas que aí surjam, sendo o seu efeito mais difícil de observar, dado que o organismo demorará mais tempo a reagir à sua presença

Deste modo, um grupo de alunos do Colégio Valsassina está a desenvolver um estudo através do qual se pretende avaliar o nível de poluição atmosférica da cidade de Lisboa utilizando os líquenes como bioindicadores. Os autores do estudo têm a intenção de dar um contributo para enquadrar os fenómenos de poluição relativamente à poluição antropogénica e por isso selecionaram, e pretendem comparar, o grau de poluição do ar em diferentes zonas da cidade de Lisboa (Avenida EUA, Quinta das Conchas, Expo -Parque do Tejo e Colégio Valsassina -área envolvente à escola), e também na Venda do Pinheiro, numa zona com características mais rurais.

Para concretizar a investigação, em cada local, são efetuadas observações de líquenes em três árvores selecionadas ao acaso mas com um córtex e perímetro semelhante. Em cada árvore, recorrendo a um reticulum são registados: o valor de frequência absoluta de talos liquénicos e a(s) espécie(s) presente(s). Para a identificação das espécies e consultadoria na análise dos dados foi determinante a colaboração da investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, especialista na área.

liquenes

Neste momento os primeiros resultados começam a ser analisados.

Por exemplo, na área envolvente ao Colégio Valsassina, situado na freguesia de Marvila, em Chelas, os resultados (tab. I e II) apontam para uma comunidade nitrófila bastante tolerante à poluição, o que pode ser indicador da existência de níveis de poluição considerados moderados.

 

Tab. I. Tabela de frequências médias de talos liquénicos no Colégio Valsassina, por árvore e ponto cardeal.

 

Norte

Sul

Este

Oeste

Frequência média

Árvore 1

6,6

0

0,8

3,2

2,65

Árvore 2

13,8

5,6

9,8

6,8

9

Árvore 3

7,2

7,6

0,6

3

4,6

Frequência média total

9,2

6,6

3,73

4,3

5,42

Tab. II. Identificação do tipo de talo liquénico e espécies encontradas na área envolvente ao Colégio Valsassina.

Tipo de liquen Crustáceos Foliáceos Fruticulosos

n

1 7

0

Espécies identificadas Lecanora sp Xanthoria parietinaPhaeophyscia sp.

Hyperphyscia adglutinata

Physcia adscendens

Physcia dubia

Parmatrema sp.

Physcia sp.Avaliação do local tendo em conta as espécies encontradasComunidade nitrófila bastante tolerante à poluição

 

 

Corroborando, de acordo com Nunes (2011) e com a presença de Xanthoria parietina (uma espécie resistente à poluição, realça Palmira Carvalho) indica que o nível de contaminação do ar é médio a forte. Deste modo, os dados obtidos sugerem que o local estudado (área envolvente ao Colégio Valsassina) apresenta níveis médio-altos de dióxido de enxofre[1].

Xanthoria parietina

Xanthoria parietina

Os resultados obtidos através de biomonitores (líquenes) não nos dão informação directa relativamente aos fluxos de deposição atmosférica em valores absolutos. Por outras palavras, os líquenes não são estações de amostragem. Não obstante, são uma forma de estudar o efeito de todos os contaminantes atuando em conjunto, uma vez que um bioindicador é um integrador, o que não ocorre com as estações automáticas instrumentais de amostra de qualidade do ar. Por este motivo, os resultados apresentados neste estudo devem ser olhados com atenção.

 

Agradecimento: O desenvolvimento do estudo não teria sido possível sem a disponibilidade e colaboração da Investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.

Catarina Soares, Filipa Verdasca, Patrícia Nascimento. Colégio Valsassina

Catarina Soares, Filipa Verdasca, Patrícia Nascimento