Lisboa apresenta uma boa qualidade do ar
Sem ar a vida não é possível. Em ambiente urbano, especialmente em áreas onde a população e tráfego se acumulam, a exposição humana aos poluentes atmosféricos tem vindo a aumentar nos últimos anos. Por isso, monitorizar a qualidade do ar que respiramos é essencial para garantir a proteção da saúde humana e do ambiente na sua globalidade. Um estudo desenvolvido, entre novembro de 2012 e abril de 2013, em quatro locais de Lisboa, revela que a qualidade do ar é média a boa.
O crescente nível de poluição do ar tem vindo a ser a causa de um conjunto de problemas. A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma apreciação dos riscos ambientais e para a aplicação de medidas para a proteção da saúde das populações, assim como para a conservação dos ecossistemas e dos serviços por eles fornecidos.
Entre novembro de 2012 e abril de 2013, foi desenvolvido um estudo que teve como objetivo avaliar de forma qualitativa a poluição atmosférica através da utilização de bioindicadores, designadamente os líquenes. Estes, são extremamente sensíveis a alterações ambientais, sendo que a sua presença, dependendo da quantidade e espécies, sugere um determinado índice de poluição.
A investigação envolveu quatro zonas da cidade de Lisboa (Parque das Nações, Quinta das Conchas, Av. EUA e Colégio Valsassina, em Chelas) e uma zona rural (Venda do Pinheiro). Com o intuito de avaliar cada local, foi efetuada a contagem de talos liquénicos presentes numa área delimitada e, posteriormente, a identificação das espécies encontradas.
O local que apresentou maior cobertura e número de espécies foi a Venda do Pinheiro seguindo-se a Av. Estados Unidos da América e o Colégio Valsassina. Na Venda do Pinheiro estão presentes quatro espécies de líquenes fruticulosos, os mais sensíveis à poluição, o que sugere uma boa qualidade do ar.
Segundo os dados obtidos a qualidade do ar na cidade de Lisboa, é média/boa. Esta análise é apoiada pelos dados relativos à qualidade do ar, fornecidos pela Agência Portuguesa do Ambiente, segundo a qual, durante o período de realização do presente estudo, foram registados dias com índice Médio e outros com índice Bom.
Os dados sugerem também que a zona rural (Venda do Pinheiro) foi o local considerado menos poluído devido à abundância e grande diversidade de líquenes, uma vez que o tráfego automóvel é menor relativamente aos locais na cidade de Lisboa. Em particular, a presença das espécies Ramalina sp. e Usnea sp. sugere que a qualidade do ar é boa ou muito boa.
Para Palmira Carvalho, especialista em Liquenologia, do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, as conclusões deste são semelhantes às do Projeto Cryptosensores[1], segundo o qual a cidade de Lisboa tem uma boa qualidade do ar. Também Andrade[2] (1996) num outro estudo afirma que a qualidade do ar em lisboa é boa, comparativamente com outras cidades europeias.
Os resultados revelam ainda uma dominância de diversos líquenes nitrófilos (espécies que se desenvolvem melhor em locais ricos em substâncias azotadas) nomeadamente de Xanthoria parietina e de Candelaria concolor e as espécies do género Physcia. Estas últimas indicam que os locais onde estão presentes estão eutrofizados. Estes líquenes foram encontrados na Avenida dos E.U.A., no Parque das Nações e no Colégio Valsassina.
Os estudos realizados tendo por base a utilização de biomonitores (líquenes) não nos dão informação direta relativamente aos fluxos de deposição atmosférica em valores absolutos. Não obstante, são uma forma de estudar o efeito de todos os contaminantes atuando em conjunto, uma vez que um bioindicador é um integrador, o que não ocorre com as estações automáticas instrumentais de amostra de qualidade do ar.
Nos últimos anos a Câmara Municipal tem adotado várias medidas para melhorar a qualidade do ar em zonas específicas da cidade. Através deste tipo de estudos será possível avaliar o impacte a médio prazo dessas medidas. Por isso, os resultados apresentados neste e em futuros estudos devem ser olhados com atenção.
Resumo dos resultados: frequência absoluta de espécies encontradas por tipo de crescimento e riqueza florística.
Locais |
Líquenes fruticulosos (Freq. Absol./Espécie) |
Líquenes foliáceos (Freq. Absol./Espécie) |
Líquenes crustáceos (Freq. Absol./Espécie) |
Riqueza Floristica (Freq. Absol./Espécie) |
Tipo de comunidade |
Quinta das Conchas |
0 |
2 (Physcia tribacioides Physcia dúbia) |
1 (Lepraria sp) |
3 |
Comunidade nitrófila e bastante tolerante à poluição |
Av. E.U.A |
0 |
7 (Xanthoria parietina; Physcia dubia; Hyperphyscia adglutinata; Phaeophyscia orbicularis; Phaeophyscia hirsuta; Candelaria concolor; Phaeophyscia chloantha) |
3 (Coloplaca sp. Lecania sp.; Lepraria sp.)
|
10 |
Comunidade nitrófila e bastante tolerante à poluição |
Venda do Pinheiro |
4 Usnea sp;. Evernia prunastri; Ramalina farinacea; Ramalina canariensis;
|
8 (Parmotrema hypoleucinum; Flavoparmelia caperate; Flavoparmelia soredians; Hypotrachyna revoluta; Physcia tribacioides; Parmotrema reticulatum; Parmotrema perlatum; Physcia tenella) |
5 (2 Lecanora sp; Bacidea sp.; 2 lepraiosas)
|
17 |
Comunidade nitrófila e bastante tolerante à poluição |
Colégio Valsassina |
0 |
7 (Xanthoria parietina; Phaeophyscia sp.; Hyperphyscia adglutinata; Physcia adscendens; Physcia dubia; Parmatrema sp;. Physcia sp.) |
1 (Lecanora sp) |
8 |
Comunidade nitrófila e bastante tolerante à poluição |
Parque das Nações (Parque do Tejo) |
0 |
1 (Xanthoria parietina) |
2 (Lecanora sp.; Calaplaca sp) |
3 |
Comunidade nitrófila e bastante tolerante à poluição |
Catarina Soares, Filipa Verdasca, Patrícia Nascimento.
Jovens Repórteres para o Ambiente. Colégio Valsassina.
Agradecimentos:
A realização deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração da professora e investigadora Palmira Carvalho, do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa/Museu de História Natural e da Ciência.
Nota:
Este trabalho insere-se no âmbito do estudo “Os líquenes como bioindicadores da poluição atmosférica: Contributo para uma avaliação da poluição na cidade de Lisboa” que foi desenvolvido entre outubro de 2012 e abril de 2013 por Catarina Soares, Filipa Verdasca, Patrícia Nascimento, alunos do 11º ano do Colégio Valsassina.
Este estudo contou com a colaboração da investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.
O relatório final pode ser disponibilizado se solicitado.
[1] Projeto Cryptosensores, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, da responsabilidade de um grupo cientistas do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, em parceria com o Instituto Superior Técnico.
[2] Disponível online em http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/1996-61/61_03.pdf. Consultado em 22 de abril de 2013.
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