“Literacia dos Oceanos”: A importância da sensibilização ambiental no ensino

Para o desenvolvimento de uma verdadeira consciência ecológica, é necessário que a educação promova o desenvolvimento do aluno em todas as suas múltiplas dimensões, de modo a o preparar para um futuro como membro ativo na sociedade em que se insere. Assim, o Colégio Valsassina promove a formação de jovens com o objetivo de uma maior literacia do oceano.

Atividades dessenvolvidas pelo Colégio Valsassina

O Colégio Valsassina recebe, para além do desígnio de Eco-Escola, o desígnio de Escola Azul. Mas o que é uma Escola Azul? Uma Escola Azul é uma entidade que aposta no desenvolvimento de projetos sobre o oceano, com o objetivo de estimular os alunos a atuar, intervir, decidir e a interagir com a comunidade em que se encontram e o setor do mar, reforçando a importância do conceito de “literacia dos oceanos”. A literacia do oceano diz respeito à compreensão da influência do oceano em nós e da nossa influência no oceano 1. Este programa apela à sensibilização dos jovens em espaços escolares, reforçando que um cidadão informado e consciente acerca da importância dos Oceanos para o Homem é um cidadão capaz de tomar decisões responsáveis e atitudes ponderadas em relação aos mares e os seus recursos, contribuindo para um desenvolvimento equilibrado.

Desde a origem da vida humana, os oceanos desempenham um papel imprescindível não somente para o homem, mas para todo o planeta. Cobrindo dois terços do planeta Terra, os oceanos são um dos pulmões do globo, produzindo grande parte do oxigénio que respiramos, influenciando o clima e fornecendo alimento e energia 2. A introdução de contaminantes como os fertilizantes, pesticidas, metais pesados e outras substâncias químicas a partir dos cursos de água, a descarga de esgotos e de águas residuais não tratadas adequadamente, a exploração e os derrames de combustíveis fósseis, bem como o lixo marinho e a sobrepesca causam perdas extensivas da vida marinha, sobretudo ao nível da sobrevivência e reprodução das espécies e destruição dos habitats marinhos 3.

Mesmo que importante para promover o desenvolvimento a nível do país, a indústria petroleira é uma grande fonte de riscos para o meio aquático. Quando ocorre um derrame de petróleo em pleno mar, são formadas manchas de óleo que se espalham pela superfície das águas, sendo arrastado por vastas distâncias em resultado das correntes marinhas. Afeta a vida animal cobrindo o revestimento de espécies que se encontram neste meio, como penas e pelos, impedindo-os de fazer as trocas essenciais para a sua sobrevivência com o ambiente, como a respiração, a excreção e a alimentação, podendo também prejudicar a locomoção e alterar a temperatura do corpo, levando-os à morte. Nas plantas, o óleo cobre igualmente as suas raízes, o que impede o seu normal funcionamento e a sua nutrição. O óleo derramado pode causar também o bloqueamento da incidência de luz em camadas mais profundas no oceano, afetando a fotossíntese, o que resulta em morte de peixes por falta de oxigênio 4.

Outro cenário é a contaminação das águas com lixos resultantes da atividade humana. Nas últimas décadas a poluição marinha por plásticos tem vindo a ser uma ameaça crescente para a vida marinha. Em menos de um século de existência os detritos de plástico já representam cerca de 60 a 80% do lixo marinho dependendo da localização 5. Os microplásticos (plásticos <5 mm) resultam na sua maioria de partículas de maiores dimensões, que sofrem degradação e que se encontram quer a flutuar à superfície quer em suspensão na coluna de água quer depositados nos fundos e também nas praias. Estas partículas são facilmente confundidas com alimento devido ao seu reduzido tamanho. Por consequência, a ingestão de microplásticos constitui uma ameaça de longo-termo para os organismos marinhos, não só pela possível obstrução mecânica do aparelho digestivo mas também pelos efeitos tóxicos dos poluentes persistentes orgânicos (POP) 6. Para além disso, estas partículas podem afetar indiretamente o ser humano, uma vez que este inclui na sua alimentação peixes que podiam ter ingerido estes plásticos anteriormente.

Este cenário foi mote para a atividade prática dos alunos da professora Sofia Tapadas do 1º ano. Ao chegarem ao laboratório, com as suas bata e preparados com os seus sacos cheios de animais de brinquedo que iriam colocar no fundo marinho a professora encheu uma caixa sensorial pela metade com água límpida. Um por um, foram construindo um oceano com uma enorme biodiversidade: peixes, conchas, polvos, focas, algas, entre outros. Retiram uma pequena amostra de água limpa e observaram.

E foi aqui que começou o terror. Num recipiente à parte a professora misturou cacau em pó e óleo vegetal e regou a água com a tal mistura que, simulando um derrame de petróleo. Os lamentos não se fizeram esperar: “Ó Sofia, o que é que foste fazer?”, “E agora? Já não vejo a minha foca!”.Todos mostraram-se muito indignados com o sucedido, mas, para piorar a situação, a professora adicionou ainda mais algumas colheradas de café na água. De seguida, a poluição continuou e adicionaram pedaços de plástico à água. Os brinquedos estavam, agora, não só “peganhentos” como eles diziam, mas também envolvidos em longas tiras de plástico que os alunos tinham recortado previamente.

A professora, mais uma vez, recolhe uma amostra de água poluída, enchendo o segundo frasco, e as reações foram muitas: Os peixes estão doentes! O que acontece se comerem o plástico? E aqui, todos os alunos responderam em uníssono: “Vão morrer”.

Uma conclusão pesada que até crianças de seis anos foram capazes de chegar. Mas rapidamente também perceberam que acabariam por comer o plástico que estava no interior dos peixes… Logo perceberam que a solução estava nas suas próprias mãos e lançaram-se a retirar os óleos, recolher os plásticos no seu oceano e a limpar os seus animais, filtrar a água.

Por entre todos os brinquedos limpos, houve alguns que mesmo assim não “sobreviveram”, visto ser impossível.

No fim a água estava turva, logo ainda contaminada. A professora explicou-lhes que, depois do dano feito, era difícil reverter.

Os oceanos são recursos de valor indeterminável e, se estas crianças são capazes de, aos seis anos, reconhecerem a injustiça a que estes animais marinhos são submetidos, então podemos encarar o futuro do nosso planeta com um sorriso na cara. Para acabar com o problema da poluição dos oceanos, é necessário o esforço e responsabilidade de cada um de nós. Juntos para uma escola mais azul, para um mundo de todos.

 

Referências:

1) https://escolaazul.pt/escola-azul/o-que-e  (15/2/2019)

2) http://noctula.pt/dia-mundial-dos-oceanos/  (15/2/2019)

3)http://decojovem.pt/blog/wp-content/uploads/2015/10/Ebook_ChefFish.pdf  (15/2/2019)

4) file:///C:/Users/TOSHIBA/Downloads/6719-18363-1-SM.pdf  (15/2/2019)

5)https://www.apambiente.pt/index.php?ref=17&subref=1249&sub2ref=1319&sub3ref=1325 (15/2/2019)

6)https://www.speco.pt/images/Artigos_Revista_Ecologia/revistaecologia_3_art_3_3.pdf  (15/2/2019)