Em vez de utilizar o sistema habitual de baterias, a marca aposta num sistema com combustível sintético, obtido a partir de água com eletrólitos, que permite fazer longas viagens sem abastecimento. O primeiro modelo deste género foi o Quantino 48 Volt, com 1000 quilómetros de autonomia, estando agora a ser testado o Quantino Twentyfive, um modelo melhorado deste conceito.
Segundo dados da marca, em vez de baterias, este carro elétrico utiliza seis células de combustível alimentadas por um depósito de 125 litros de um combustível líquido intitulado de bi-ION, um composto feito de água do mar e resíduos de água reciclada. Este combustível permite alimentar os 4 motores elétricos de 60 kW do Quantino Twentyfive, perfazendo um total de 320 cavalos e uma autonomia de cerca de 2 mil km. Em termos de desempenho, e mesmo com um grande depósito, este modelo garante uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em apenas 2.5 segundos.
A solução salina (é cientificamente correto descrever esta solução como água salgada, no entanto, não é igual à água salgada do mar), permite que os iões positivos fiquem separados dos iões negativos, sendo que ambos ao passarem por uma membrana misturam-se e interagem, e é essa interação que gera energia elétrica que permite mover o automóvel. O resultado final dessa mistura do líquido de iões gera água, tal como na célula de combustível de hidrogénio, mas tem como vantagem o facto de permitir que o veículo se movimente com zero emissões de carbono e com reabastecimentos que são considerados como rápidos.
Além de preparar a chegada dos seus modelos ao mercado americano, a NanoFlowcell pretende reduzir o tempo de produção e o custo desta fonte de energia, com o objetivo de que custe apenas 0.10€/litro e permita uma mobilidade muito mais sustentável e económica. Além da melhoria do produto, estão também agora à procura de parceiros que pretendam integrar esta tecnologia nos seus equipamentos.
Apesar de todas as duvidas que se impõem, pelo facto de ser a própria marca a divulgar estas informações, esta tecnologia é bastante real e foi originalmente desenvolvido pela NASA, na bateria RedOX. O princípio é considerado simples: dois tanques contêm líquidos eletrolíticos. No coração da célula RedOx, partículas eletricamente carregadas fluem através de uma membrana, gerando eletricidade. São geralmente adequados para soluções estacionárias de grande escala, especialmente devido a um dos principais inconvenientes, que é a baixa densidade energética. É precisamente por este facto que muitos são céticos em relação aos resultados apresentados pela NanoFlowcell.
Mas foi recentemente publicado na revista Nature Materials um estudo, itutulado The role of the electrolyte in non-conjugated radical polymers for metal-free aqueous energy storage electrodes, sobre baterias aquosas, que consistem num cátodo, eletrólito e um ânodo. Os cátodos e ânodos são polímeros que podem armazenar energia, e o eletrólito é água misturada com sais orgânicos. O eletrólito é a chave para a condução de iões e armazenamento de energia através das suas interações com o elétrodo. Segundo este estudo, os polímeros são uma opção promissora para baterias aquosas sem metais, contudo, a reação envolvida é complexa e difícil de compreender devido à transferência simultânea de eletrões, iões e moléculas de água. Os investigadores acreditam que existe uma diferença de 1000% na capacidade de armazenamento de energia, dependendo da escolha do eletrólito, e consideram que esta nova tecnologia de armazenamento de energia é um empurrão para baterias sem lítio. Haverá, assim, esperança na aplicabilidade desta tecnologia.
O World Business Council for Sustainable Development declara que a mobilidade sustentável implica ter “a capacidade de dar resposta às necessidades da sociedade em deslocar-se livremente, aceder, comunicar, transacionar e estabelecer relações, sem sacrificar outros valores humanos e ecológicos, hoje e no futuro.”.
O setor dos transportes foi responsável por cerca de 1/4 das emissões globais em 2018, que totalizaram 8 mil milhões de toneladas de CO₂. Cerca de 74,5% das emissões dos transportes provêm dos veículos rodoviários, tornando absolutamente necessário atuar com a maior urgência na redução drástica destas emissões.
Ainda que diversas marcas tenham vindo a anunciar que vão ser 100% elétricas até 2030, aliado à intenção da UE de proibir a partir de 2035 a comercialização de novos automóveis movidos a combustíveis fósseis, estima-se que haverá 1,8 mil milhões de carros na estrada até 2030, em que apenas 8% serão elétricos.
A mobilidade sustentável é uma preocupação cada vez mais importante para os governos, empresas e cidadãos em todo o mundo. À medida que a tecnologia avança, novas opções de transporte sustentável irão surgir, e é provável que as tendências atuais e futuras continuem a impulsionar a inovação nesta área.
webgrafia:
https://www.nature.com/articles/s41563-023-01518-z