“Porque não eliminá-los?”, indaga Umberto Eco relativamente aos estranhos morcegos da biblioteca de Coimbra. “Muito simplesmente porque eles comem os vermes que atacam os livros.”, acaba por compreender o reconhecido escritor italiano na sua obra “A obsessão pelo fogo”, onde refere a sua visita à Biblioteca Joanina. De facto, ao visitar esta biblioteca, é vivenciada a incomum presença de morcegos lá hospedados, os quais foram responsáveis pela preservação dos livros e textos, ameaçados por insetos bibliófagos, animais que se alimentam de papel, roendo-o. Estes livros, que acompanham o país desde o tempo dos reis, estabelecem um elo de ligação entre nós e os morcegos, acabando por surgir uma simples, mas harmoniosa simbiose. A sustentabilidade aqui presente, evidencia que tanto os seres humanos como os morcegos, podem acabar beneficiados.
Ao longo dos séculos, as pequenas colónias de morcegos Tadarida teniotis (Morcego-Rabudo) e Pipistrellus pygmaeus (Morcego Pigmeu) que acompanham os visitantes desta biblioteca predaram os insetos bibliófagos, que ameaçavam a preservação dos livros presentes neste prestigiado local desde o século XIX. Estes insetos são característicos por destruírem os livros, o que traria um grande problema para os responsáveis da biblioteca, no que toca à preservação destes livros. Contudo, julga-se que após a sua construção, decretada pelo rei D. João V, os morcegos foram inseridos artificialmente na biblioteca, como uma astuciosa estratégia de preservação de livros. No entanto, surge também a teoria de que as colónias de morcegos foram-se instalando no espaço naturalmente, devido à existência de uma fonte de alimento, visto que os morcegos são animais insetívoros.
Segundo algumas gravações de ultrassom e senso comum, as colónias destes animais não são grandes, visto que o alimento disponível na biblioteca não permite que a colónia cresça muito. Representando uma grande ajuda na preservação natural dos livros presentes na biblioteca, a única inconveniência que estes trazem são os dejetos produzidos. No entanto, foi criada uma solução a partir da proteção das mesas, feitas de madeira preciosa, o pau-brasil, cobertas com tecidos feitos de peles de animais vindas do Império Russo. Deste modo, estes tecidos impedem que as mesas antigas se sujem e, para além das peles, o chão da biblioteca é limpo todas as manhãs.
A beleza e o conhecimento presente na Biblioteca Joanina, são alguns dos motivos que a distinguem a nível mundial, no entanto, esta admirada biblioteca, erguida na antiga cidade de Coimbra, não fica somente por estes aspetos, pois as pequenas colónias de morcegos instaladas na biblioteca, representam um exemplo de equilíbrio e sustentabilidade entre a natureza e o conhecimento, a partir desta relação de simbiose iniciada há séculos.