Oito da manhã. Partida para o Funchal em direção ao concelho de Santa Cruz, o segundo mais populoso da Ilha da Madeira, com um propósito: perceber a política ambiental deste concelho e esclarecer a ideia de que a separação dos resíduos se faz de forma correta pelo Município.
Durante o percurso, anteve-se haver no concelho de Santa Cruz uma preocupação camarária pela política ambiental, nomeadamente, na separação de resíduos. A primeira cidade visitada foi o Caniço, que apresenta uma série de ecopontos ao longo das estradas/residências, sinal evidente da política da separação deste Município.
A orgânica ambiental de Santa Cruz poderá ser exigente, sendo a entrevista com o vereador do Ambiente, Miguel Alves, o ponto de partida para a reportagem.
Na cidade de Santa Cruz, depois de percorrida a freguesia de Gaula, o Sr. José Manuel Mendonça, responsável pela Secção dos Resíduos Sólidos Urbanos, explica como funciona um dia para os trabalhadores camarários que fazem a recolha do lixo. Preparam-se os dez camiões para percorrer o trilho do lixo pelo concelho. Os condutores começam por abastecer os veículos e recebem instruções para começarem pelas cinco freguesias do concelho, percorrendo simultaneamente vários circuitos.
Uma vez preparadas as viaturas, parte-se para a Rua João Batista Sá, Caniço, e as restantes seguem para destinos diferentes. Não se deixa de avaliar as situações nos vários ecopontos espalhados por diversas zonas: em alguns pontos de recolha, há lixo espalhado pelo chão, em volta dos contentores, evidenciando alguma falta de civismo… Quase que se adivinha a pressa com que os munícipes deixam o lixo junto aos caixotes, antes de irem para os seus trabalhos, já atrasados, e o tempo escasso não deixa abrir, convenientemente, a tampa dos contentores públicos; noutros pontos, há uma evidente satisfação dos trabalhadores camarários pelo cuidado que a população dessas zonas demonstra ter na separação dos lixos, mantendo limpo, em consequência, os espaços adjacentes.
Nem sempre os munícipes aceitam de bom grado as recomendações dos trabalhadores. Alguns populares repetem o argumento: “Estamos a pagar…”, como desculpa para não terem o cuidado necessário com a separação dos resíduos. Num dos caminhos, enquanto os homens do lixo carregam os ecopontos até ao camião, uma residente relata ter deixado de separar lixo, porque não tinha benefícios com isso, já que a tarifa de resíduos havia aumentado.
Contrariamente, o condutor que faz a recolha do papel, esclarece que existem muitos munícipes que respeitam o Ambiente, separando o lixo e colocando-o no contentor correto, sem esperar contrapartida que não seja o bem comum.
A viagem pelas três zonas do Caniço cria um alerta para a entrevista. Como faz a Câmara para que a população esteja consciente da necessidade da separação dos resíduos sólidos?
O vereador Miguel Alves aguardava no seu gabinete, conforme combinado. “Uma tarefa muito difícil, a área dos Resíduos Sólidos Urbanos”, manifesta. À pergunta anterior respondeu que a separação dos resíduos deveria ser do interesse e responsabilidade de todos. A ideia de que dá mais trabalho separar o lixo do que pô-lo todo no mesmo saco é comum, e há muito trabalho a fazer no campo da educação ambiental.
Segundo o vereador, a Câmara Municipal de Santa Cruz está já há algum tempo a divulgar formas de apelo às pessoas e as mesmas irão ser postas em prática, com a colocação de cartazes pelo concelho. A loja de eletrodomésticos, na Cancela, também é uma forma de apelo, pois tem um contentor REEE, para os eletrodomésticos não se amontoarem pelas ruas.
No entanto, estas chamadas de atenção e diversas formas de apelo “não serão suficientes se as pessoas não mudarem a sua atitude”, afirma o vereador. “Felizmente, são muitas mais as pessoas que pensam no Ambiente e nos outros do que aqueles não lhe dão a devida importância!”
No percurso, encontram-se alguns “monstros” do lixo. Um colchão, uma estante meio quebrada, dois televisores e outros inquilinos anónimos do ecoponto, aguardam, clandestinos, o camião de recolha, pois os munícipes que os despejaram das suas casas não pediram o apoio da Câmara para o seu transporte, porque este, normalmente, é pago. Estes “monstros” são relativamente frequentes junto aos contentores do lixo e, apesar da informação, a população ainda não está totalmente preparada para dar o destino adequado aos mesmos.
Uma outra forma de chegar a formação a todas as famílias é a aposta nas escolas, na bandeira verde e nas atividades pedagógicas relacionadas com a separação dos resíduos. Alguns pais confessam que fazem a separação porque são educados ecologicamente, pelos filhos, de tal modo que, não separar será não cumprir as regras da escola e da professora, atitude impensável para as crianças.
A Câmara aposta também nas redes sociais para informar e formar os munícipes e ainda para avaliar a sua própria atuação. Miguel Alves relata uma situação recente, de uma munícipe que utilizou o facebook para protestar contra a promiscuidade existente junto de um ecoponto na sua área de residência. A avaliação feita pela Câmara a esse local constatou que a falta de civismo e de higiene era superior ao bem que aquele ecoponto poderia fazer aos residentes daquela zona. O ecoponto foi retirado e a situação resolveu-se. Uma situação pontual, refere o vereador.
Com os camiões cheios e Santa Cruz limpa, três camiões dirigem-se para a Estação de Triagem de Lixo do Porto Novo e outros três para a da Meia Serra, onde o lixo é depositado e separado. Constata-se que os camiões do lixo carregam cada um o “seu” lixo, pelo que se confirma a separação desde os ecopontos até às estações de triagem e de tratamento.
Termina a viagem. Passageiros pouco frequentes de um trilho que não é apreciado pelos demais! Testemunhas de que camiões e equipas de remoção conhecem todos os circuitos e tratam o lixo com a dignidade que ele merece: separaram-no, entregam-no nas estações de triagem e de tratamento e deixam as ruas limpas e asseadas, até nova recolha.
O trilho do lixo está limpo! A bem do Ambiente!
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