
Ribamar, vila piscatória da Lourinhã, guarda memórias de um mar vivido.
Localizada no concelho da Lourinhã, Ribamar é uma vila tradicionalmente associada à atividade piscatória. É nesta vila que se localiza o espaço museológico de Ribamar: “Olhar o mar”, que além de preservar a história cultural dos pescadores desta região, explica aos seus visitantes técnicas e instrumentos de navegação utilizados ao longo dos anos.
O atual edifício do núcleo museológico sempre teve uma ligação com o mar. Antes de ser museu, era um espaço dedicado à construção de navios para os pescadores locais. Mais tarde, em 1929, foi proposta a construção da primeira escola primária de Ribamar, de modo a possibilitar a educação das crianças de famílias de pescadores, que fechou por falta de alunos na década de 60, tendo sido apenas em 2020 inaugurado como núcleo museológico.
O papel das mulheres
Ribamar sempre foi uma terra de pescadores, deste modo, toda a população teve de se ajustar ao seu modo de vida. Enquanto os homens se faziam ao mar, eram as mulheres que asseguravam o equilíbrio da vida em terra. Desde a gestão financeira da casa à criação dos filhos, passando pelos trabalhos agrícolas e pela confecção e conservação das redes de pesca.
A arte de confeccionar redes
A arte de confeccionar redes começou pela iniciativa de duas francesas de, em 1964, ensinar às mulheres locais como se faziam redes de pesca. Eram fabricadas enquanto os homens se encontravam em alto mar. Estas redes feitas à mão, exigem precisão, paciência e conhecimento transmitido entre gerações. Ainda hoje, algumas mulheres da comunidade mantêm viva esta prática, considerada património imaterial e símbolo da identidade local.
Pesca artesanal: tradição com futuro?
Em Ribamar, a pesca artesanal foi durante muitos anos a principal prática, caracterizada por embarcações de pequeno porte, métodos manuais e conhecimento transmitido de geração em geração. Técnicas como a pesca à linha, a pesca com aparelho ou com covos fazem parte da identidade local.
Pesca de arrasto: eficiência com impacto ambiental
Ao longo dos anos começou a ser utilizada a pesca de arrasto que consiste na utilização de grandes redes rebocadas por embarcações, que varrem o fundo do mar ou as camadas intermédias da água, capturando grandes quantidades de peixe de uma só vez. Este método é bastante eficaz do ponto de vista económico, sendo frequentemente utilizado na pesca industrial. Contudo, apresenta um impacto ambiental significativo: a destruição dos habitats marinhos do fundo oceânico, a elevada taxa de capturas acessórias e a sobreexploração dos recursos pesqueiros.
Apesar disso, continua a ser uma técnica comum devido ao seu elevado rendimento, colocando desafios à sustentabilidade da pesca.
Problemas enfrentados
A sustentabilidade da pesca em Ribamar é uma preocupação crescente. Segundo os habitantes de Ribamar, os pescadores enfrentam diversas dificuldades na pesca apesar da sua menor pegada ecológica:
- Escassez de mão-de-obra jovem nacional e desinteresse pelas profissões ligadas ao mar;
- Legislação desajustada, como regras sobre o espaçamento das malhas das redes ou o peso mínimo legal de certas espécies, que nem sempre são compreendidas ou fiscalizadas de forma eficaz;
- Falta de investimento público no setor;
- Perda de biodiversidade, com a pesca de arrasto;
“Se não se investe na pesca, salva-se quem puder”, desabafa Lourenço Antunes, um pescador local.
Apesar das dificuldades, a comunidade continua a lutar para manter viva uma tradição que não é apenas cultural, mas também essencial para a economia local, mas a sensação de abandono é evidente. “A nossa revolta é os pescadores de Ribamar serem esquecidos”, relata outro habitante.
O exemplo de Ribamar mostra que é possível manter vivas as tradições piscatórias, desde que exista investimento, educação e compromisso com a sustentabilidade. Apostar em práticas de pesca responsáveis, promover o consumo de pescado local e valorizar a cultura marítima são passos fundamentais para que esta vila continue a olhar o mar com esperança — e não com resignação. Preservar o passado, garantir o futuro.
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