Os cigarros podem prejudicar a saúde de quem fuma e de todos os que os rodeiam, seja num local fechado ou aberto, trazendo consequências prejudiciais para o meio ambiente. À primeira vista, podem parecer pequenos e relativamente inofensivos, mas causam danos irreversíveis aos oceanos e à vida selvagem em geral.
O facto de os cigarros constituírem uma grande ameaça à vida marinha deve-se aos seus filtros, que se encontram nas pontas dos mesmos. Estes são feitos de fibra de acetato de celulose, substância não biodegradável, e, por isso, com poucas possibilidades de serem reciclados. Quando descartados de forma inadequada, os filtros são decompostos pela ação da luz solar e da humidade, o que facilita a libertação de microplásticos, metais pesados e outras substâncias químicas e, portanto, é uma poluição de longa duração.
A decomposição das beatas de cigarros leva a consequências significativas na qualidade dos ecossistemas, uma vez que entram nas cadeias alimentares e vão contaminando todos os consumidores. A ingestão das beatas por animais pequenos leva a consequências imediatas e, muitas vezes, à morte rápida devido ao curto tempo disponível para a salvação destes.
Na Praia de Matosinhos, um local de lazer para milhares de habitantes do Porto, o impacto das beatas de cigarros torna-se cada vez mais visível de ano a ano. Segundo a bióloga marinha, Dra. Ana Ferreira, responsável pelo departamento de biologia do SEA LIFE Porto, este resíduo está presente em todas as campanhas de limpeza anual que fazem na Praia de Matosinhos. “Todos os anos em que fazemos essas limpezas, encontramos sempre beatas de cigarro, e todos os anos encontramos mais do que no ano anterior”, afirma a especialista.
Em 2024, a contagem feita das beatas chegou até aos 17 mil, com um aumento significativo ao ano anterior. É perceptível que este tipo de poluição está a crescer de forma constante, o que revela também a dificuldade de controlo dos descartes inadequados de cigarros, apesar das ações de consciencialização feitas por instituições como o SEA LIFE Porto.
Embora o gesto de deitar fora uma única beata possa parecer insignificante, o seu impacto coletivo é enorme — milhares acabam acumuladas na areia e no mar. “As pessoas associam a poluição aos objetos grandes, como latas ou garrafas. Já as beatas são pequenas, e como fumar é um hábito comum, acabam no chão, aumentando a presença de microplásticos no ambiente aquático”, explica a bióloga.
A ingestão de microplásticos funciona como um veículo facilitador de transporte de substâncias químicas adversas para os organismos. Quando ingeridos pela vida marinha, que inclui as aves, os peixes, os mamíferos, as plantas e os répteis, que vivem em zonas marítimas, têm efeitos tóxicos, causando problemas como a redução do consumo alimentar e a asfixia, complementa a Dra. Ana.
Algumas zonas da Praia de Matosinhos, na época balnear, distribuem cinzeiros: copos pequenos onde os fumadores podem descartar as beatas. É uma medida simples, mas que já tem um grande impacto positivo na redução da poluição na praia, pois ,assim, contribui-se para a preservação da limpeza da areia e da saúde do ambiente marinho.
Em suma, tendo em conta a sua composição química, o aumento anual do número de beatas de cigarros descartadas, inadequadamente, na Praia de Matosinhos, é nocivo à integridade de todo o ecossistema costeiro. A evidência recolhida no areal reflete uma tendência preocupante, que demonstra a necessidade urgente da gestão de resíduos e do investimento na educação ambiental.