ME: Sabemos que é licenciado em Filosofia e que também tem o curso do Magistério Primário. O que a levou a enveredar por essas áreas? Chegou a lecionar? Se sim, que balanço faz dessa experiência?
Cumpri o ensino básico e secundário, assim como completei o Magistério Primário na Guarda. Aos 20 anos, comecei a atividade docente em Lisboa, ao mesmo tempo que iniciei Filosofia. A adaptação à grande cidade teve que ser rápida e o tempo bem gerido, mas foi uma marcante experiência, pois trabalhar e estudar ao mesmo tempo implica uma decisiva gestão de oportunidades. Consegui conhecer realidades urbanas bem díspares com comunidades escolares que me ensinaram a compreender melhor os outros.
ME: A nível de formação académica, também frequentou o Curso de Alta Direção em Administração Pública e tem um Diploma de Especialização em Comunicação e Marketing Público. É uma pessoa curiosa, gosta de apostar na formação pessoal, ou há outros motivos que o levam a desenvolver todas essas competências?
A formação ‘ao longo da vida’ é obrigação de todos nós, por dever para com nós próprios e com os outros; a atualização de competências, a troca de experiências, o contacto com novos paradigmas, a procura da especialização que vai ao encontro do desempenho próprio, são cuidados essenciais para o exercício público.
ME: A APA dinamiza, por iniciativa própria e ou em parceria com outras entidades de âmbito nacional ou internacional, concursos e campanhas, tendo como objetivos a promoção da educação ambiental e da educação para o desenvolvimento sustentável. O balanço é positivo, a adesão tem correspondido às suas expetativas?
Tem sido extenso o esforço desenvolvido por organismos públicos e privados, pela sociedade civil mais recentemente, na alteração comportamental dos portugueses relativamente às questões de Ambiente e Sustentabilidade. Há trabalho profícuo desde os anos 70 (há reflexão publicada anterior) ainda que é após o 25 de abril que se pode falar de uma política pública de Ambiente, ocorrendo grandes investimentos iniciados nos anos 90 do passado século. A educação ambiental recorde-se, é um processo, logo carece de adesão e práticas dinâmicas. Quero com isto afirmar a necessidade de, com persistência – observando respostas também a novos desafios, mantermos um compromisso e investimento nesta área; por isso se desenvolveu e aprovou uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental, a ENEA 2020 .
ME: Portugal é um País que se projeta como exemplo à escala mundial nas energias renováveis. Justifique esta afirmação, por favor.
São energias renováveis a hídrica, eólica, solar, biomassa, geotérmica e a presente nos oceanos, esclarecem-nos os compêndios. O nosso país tem características que permitem potenciar o aproveitamento destas energias, de modos mais ou menos simples. Nesta altura, o acréscimo de produção renovável registado no nosso país tem permitido reduzir as emissões específicas do setor electroprodutor nacional. Nos próximos anos, prevê-se que a eletricidade renovável continue a influenciar a descarbonização da sociedade portuguesa, motivada pela previsão de aumento da produção de energia elétrica de origem renovável.
ME: Mais de uma centena de ambientalistas portugueses e espanhóis exigem que o novo Governo espanhol encerre a central nuclear de Almaraz, no decorrer de uma manifestação em Mérida, sudoeste de Espanha. Que papel a APA tem desempenhado em todo este processo?
Ao abrigo do “Acordo Luso-Espanhol de Segurança de Instalações Nucleares de Fronteira”, Portugal mantém relações de cooperação próximas com as autoridades espanholas. Neste âmbito, a APA recebe regularmente os relatórios de vigilância ambiental em Espanha e os relatórios apresentados ao Parlamento e ao Senado de Espanha.
A APA assegura constante contacto técnico com a Autoridade Competente de Espanha para emergências radiológicas e nucleares de Espanha, o CSN.
Compete à APA acompanhar os aspetos de segurança nuclear associados aos riscos de acidentes em instalações nucleares, ao abrigo da legislação em vigor. É a APA, ainda, o ponto de contacto junto da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), enquanto Autoridade Competente para as Convenções de Notificação Rápida e Assistência de Acidentes Radiológicos e Nucleares, e junto da Comissão Europeia.
ME: Hoje, são as alterações climáticas que concentram as preocupações. É este o maior desafio ambiental de sempre?
O Acordo de Paris foi adotado na 21ª Conferência das Partes, a 12 de dezembro de 2015. Com a sua entrada em vigor a 4 de novembro de 2016, a comunidade internacional procura dar uma resposta global e eficaz à necessidade urgente de travar o aumento da temperatura média global e resolver, com determinação, os desafios ligados às alterações climáticas.
Este enorme e responsabilizante acordo mundial visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estabelece o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global a níveis bem abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduzirá significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas.
ME: Vê o caminho, o futuro de Portugal, em relação à preservação do ambiente, com preocupação ou otimismo?
Ao longo da nossa vida vamos mantendo utopias pelas quais nos empenhamos. A consciência da dimensão dos problemas obriga-nos, quer a ter presentes as diversas dificuldades, quer a ser mais exigentes nos caminhos de mudança.
O país evoluiu a um ritmo internacionalmente reconhecido em algumas áreas, mas continua a carecer de forte investimento e, sobretudo envolvimento/participação de toda a população em outras matérias. Os temas de Ambiente e Sustentabilidade não são diferentes, assumem, sobretudo, urgência.
ME: As novas tecnologias vieram para ficar. É adepto das redes sociais? O que pensa das mesmas?
Sim, necessariamente. A tecnologia não é inimiga; somos muito mais eficazes com ela. Devemos é manter um relacionamento atento com os seus efeitos.
Como afirmei no seminário de Viseu aos JRA, o papel da comunicação, nos dias de hoje, apresenta uma dimensão muito crítica na formulação de ideias e na adoção de opções por parte de todos nós; parece já provado que ‘histórias falsas ou imprecisas costumam ser mais partilhadas que as factuais’, reconhecendo-se que existe um problema com a verdade.
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