A praça do peixe do Mercado dos Lavradores da Madeira é o local de eleição da nossa reportagem. Cheiros, cores, palavras , movimento são as personagens que povoam este ambiente marítimo.
Os catorze alunos da Gonçalves Zarco entraram no Mercado, em grupo, de objetiva ao peito e lápis e papel na mão. Pretendíamos encontrar o mar da Madeira espalhado nas bancadas do peixe .
Invadimos as portas majestosas do Mercado, passámos pelas barraca com fruta, legumes, ervas aromáticas, e pelas vozes que nos chamavam de longe: “Meninos, vão umas semilhinhas; a vaginha , hoje está barata! É de aproveitar! “Seguimos, sem dar resposta, fazendo ouvidos de mercador, os sons a se dissiparem. Começamos a sentir o cheiro a maresia. Abeiramo-nos da varanda e lá estava , imponente e cheia de vida, a vetusta praça do peixe, um ponto de encontro dos madeirenses e um lugar de visita obrigatória para os forasteiros nacionais e estrangeiros. Este espaço é dado como um dos pontos fulcrais da cidade do Funchal.
O nosso foco projetou-se apenas neste recinto. É de destacar a magnitude deste espaço dos anos 40 do século XX, nomeadamente os pilares, as mesas do peixe e as paredes de dimensões gigantescas, que abrem alas de uma amplitude descomunal, que nos impressiona. Nestas paredes enormes, estão fixados placares com os nomes dos variadíssimos peixes que estão em circulação no mercado.
Os curiosos debruçam-se e espalham o olhar pelo espaço, onde o peixe é rei e os vendedores os pregões do reino. Lá dentro, tudo é antigo, desde os quadros de giz até às pias, sem esquecer os candeeiros e os vidros baços, devido ao difícil acesso. E os homens. Os “homens do peixe” têm marcas de tempo e de mar no rosto e nas mãos. O tom azul das roupas cria o ambiente marítimo. Os peixes, expostos nas bancadas prendem os olhares dos transeuntes pela sua cor fresca e o cheiro brilhante. Peixe-espada, sardinha, a “cavala”, o atum, o chicharro, o pargo, as douradas.
Os turistas vagueiam entre as bancadas e esboçam sorrisos de interesse aos vendedores , que logo lhes mostram a frescura do peixe. Apontam, num inglês mais gestual que falado, que é peixe de cá da ilha! E os turistas apreciam! Eles não resistem a este ambiente especial, que se vive na zona da peixaria e, às vezes, acabam por comprar algum do peixe fresco. Muito do peixe comercializado aqui provém das águas límpidas da Madeira, é saudável, fresco e ecológico.
Os vendedores de peixe, são todos do sexo masculino, uns mais novos e outros mais velhos. Uns gritam o preço, outros chamam os possíveis clientes, outros preparam as bancadas para torná-las atrativas. A nossa objetiva desperta-lhes a tenção. A nossa entrevista dá-lhes valor, revelam-nos momentos das suas vidas e têm orgulho em afirmar que grande parte delas foram e são dedicadas à comercialização de peixes típicos da Região Autónoma da Madeira. E enumeram as qualidades do produto: fresco, saudável, o cheiro é natural, a cor é brilhante, os olhos estão claros, o ventre é firme: “Repare, menina, toque na barriga do peixe, veja as escamas!” e nós confirmamos: o ventre está hirto e as escamas brilhantes e presas à pele. Os vendedores são excelentes comunicadores: sabem vender o seu peixe.
Esta qualidade é-nos confirmada por alguns clientes, sobretudo senhoras, trajadas a donas de casa, que garantem que não há peixe como o nosso.
O mar da Madeira está espalhado pelas bancadas do peixe. Elas têm o cheiro, a cor, a limpidez, a frescura e a pureza das nossas águas impregnadas nos peixes que se dispersam nos mesões. O oceano rodeia a ilha, a praça do peixe absorve o mar no olhar dos que querem sonhar.
Falam-nos dos leilões do peixe, feitos na lota, junto ao cais. Do mais caro para o mais barato, os vendedores negoceiam com os pescadores. É realizado após a pesca, e normalmente tem início pelas seis horas da manhã, momento em que a faina da pesca acaba e começa a azáfama da praça.
Não resistimos a entrevistar alguns turistas. Um casal, vindo de Inglaterra, percorria todos os cantos da praça e fotografava os pormenores. Quisemos saber a sua opinião relativamente ao lugar e ao peixe que é comercializado e consumido aqui na praça. Salientaram que o peixe vendido no mercado é muito diferente daquele que habitualmente encontram na sua terra e que, por exemplo, lá não é comum ver atum sem ser aquele que é enlatado. Segundo a opinião pessoal deste casal, a lota do peixe da Madeira é muito interessante, devido a sua diversificação e qualidade.
Ao finalizar esta visita de estudo, um dos vendedores de peixe disponibilizou-nos uma lagosta da Madeira, para que ganhássemos conhecimentos em relação a essa espécie. Esse mesmo vendedor revelou-nos que cada lagosta custa cerca de cinquenta euros por cada quilograma, que é uma espécie pouco disponível no comércio e que esta apenas pode ser pescada por mergulhadores. Apesar de ser conhecida como lagosta da Madeira, também pode designar de “lagosta da pedra”.
Foi com o cheiro a oceano que partimos, embalados pelas ondas da praça. O mar da Madeira, afinal ,também se estende pela praça do peixe!
Catarina Matos Andrade
10º1 nº 6
You must be logged in to post a comment.