Esta realidade apontada pelo estudo da FLUC em 2011/2012 (Cadernos de Geografia nº 30/31-2011/12 Coimbra, FLUC – pp. 61-80) mostra que o ser humano e as suas atividades económicas e lúdicas perfazem, quase na totalidade, as causas de incêndios florestais, tornando assim um fenómeno considerado natural num fenómeno maioritariamente dependente da vontade humana.
Apesar do número de ocorrências variar de ano para ano, dois dados permanecem quase inalterados, o número de ocorrências investigadas e o número de incêndios com causa indeterminada. Tanto um como o outro apresentam-se como fatores preponderantes para o facto de Portugal ser todos os anos fustigado por uma série de incêndios durante a fase crítica, já que, ano após ano, e apesar de ser dada uma grande importância na comunicação social aos incêndios florestais, muitas vezes os culpados de incendiarismo ou de uso inapropriado de fogo nunca chegam a ser julgados. Com efeito os distritos com maior percentagem de incêndios florestais por (Porto e Braga) registam as menores percentagens de ocorrências investigadas (segundo dados da Autoridade Florestal Nacional) e, mesmo quando estas são investigadas, a razão da ocorrência, na maior parte das vezes, é indeterminada.
No caso do incendiarismo, as razões que levam as pessoas a cometer este ato ilícito podem ser complexas e muitas vezes com propósitos económicos e/ou sociais. Assim é imperativo que os órgãos encarregues de investigar estes crimes tenham maior impacte no que toca ao número de investigações realizadas, e às conclusões que são tiradas, já que estes crimes, tal como o uso inapropriado de fogo, estão ao abrigo da lei (artigo 274 do código penal; Lei nº56/2011).
No que toca ao uso inapropriado de fogo, seja fazer queimadas (usar o fogo para renovação de pastagens e eliminação de sobrantes da atividade agrícola e florestal que não estão amontoados) ou usar incorretamente artigos pirotécnicos sem qualquer permissão ou supervisão, é necessário dar a conhecer aos agricultores os perigos que as queimadas acarretam no período crítico, sendo de extrema importância que estes se informem sobre a melhor maneira de as fazer, e ainda aumentar a supervisão dos espaços verdes de forma a dissuadir possíveis comportamentos de risco. Na região oeste estas atividades são comuns, na medida que, estes e outros atos negligentes estão, muitas vezes, na origem dos pequenos incêndios que existem. É necessário proceder-se à consciencialização da população para que haja maior cuidado/ponderação, de forma a não se por em risco pequenos núcleos populacionais que, na nossa região e em outras partes do país, se encontram à mercê das chamas devido ao seu grau de isolamento.
Chegamos assim ao ponto fulcral do problema que é a poluição dos espaços verdes como catalisador dos fogos florestais em Portugal. Não será decerto nenhuma surpresa o facto de a maioria dos fogos florestais no nosso país e na região oeste em concreto, estarem associados ao menosprezo dado à limpeza das florestas e campos agrícolas particulares, sendo que é com segurança que se afirma que muitos dos incêndios em larga escala que acontecem no nosso país só chegam a dimensões tão grandes por esta razão.
Pode-se atribuir a culpa disto à falta de investimento público na limpeza das florestas e outros espaços, mas em última análise a responsabilidade disto é de todos nós, na medida que, pequenas ações podem trazer graves consequências, especialmente na nossa região onde os incêndios que deflagram são maioritariamente caracterizados por serem de origem negligente e não intencional. Mas, apesar de não causar menos repúdio, a verdade é que, tal como o autarca de Seia o colocou, “Os proprietários não limpam os terrenos. Criam-nos um problema gravíssimo”, em declarações à Renascença a propósito de um incêndio em 2016, ou seja, é impossível os municípios combaterem de forma eficaz esta realidade, apesar do facto de existirem multas para quem não limpa os terrenos nas imediações de habitações, simplesmente não existem fundos ou maneira de monitorizar as vastas áreas de florestas e campos agrícolas que existem na zona oeste.
É de relembrar ainda o tipo de árvores que caracterizam as florestas da zona oeste, sendo que muitas delas baseiam-se em plantações intensivas de eucaliptos que são, ao contrário das árvores autótones da região, tais como o carvalho-português, menos resistentes às condições de temperatura e humidade, mais facilmente entram em combustão e desgastam mais os solos.
Não esqueçamos ainda que esta poluição não tem apenas os efeitos que se manifestam todos os anos na forma de incêndios, já que da mesma forma que a água causa lixiviação nas escombreiras das minas, esta também causa em qualquer outro objeto, como por exemplo, uma embalagem de plástico de um fertilizante sintético ou pesticida, que por si só já contamina os solos e a água que vai ser utilizada para produzir os alimentos que consumimos; ou ainda objetos de maior dimensão, tais como pneus, vulgarmente encontrados em campos agrícolas na nossa região, muitas vezes, quando em contacto com a água da chuva, sofrem lixiviação formando os chamados microplásticos, que, como o nome indica, são pequenas partículas de plástico, que segundo dados da União Internacional para a Conservação da Natureza, perfazem agora um terço de toda a poluição pela forma de plástico existente nos oceanos.
Desta maneira percebe-se que a poluição florestal e agrícola se apresenta um problema crítico, na medida em que, a curto/médio prazo as consequências se manifestam na forma de incêndios florestais, e a longo prazo em problemas na qualidade dos produtos alimentares que, por sua vez, levam a problemas de saúde pública.
Assim, de forma a minimizar as consequências nefastas da atividade antrópica, é necessário, em última análise, consciencializar a população das áreas agrícolas do Oeste para os perigos a que os seus atos irresponsáveis e negligentes podem levar, e também promover entre a população em geral ações de prevenção e limpeza das florestas.
Referências bibliográficas:
http://www.icnf.pt/portal/florestas/dfci/Resource/doc/causas-incendios/Relatorio-Causas-incendios-2003-2013.pdf – consultado em 14/05/2017
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