Domingo, dia 15 de outubro de 2017, eclodiu no distrito de Coimbra, mais propriamente nas matas nacionais de Quiaios, no concelho da Figueira da Foz, um incêndio que chegou a atingir uma extensão de cerca de 30 quilómetros, alastrando-se para os concelhos vizinhos de Cantanhede e Mira, e atingindo ainda Vagos, já no distrito de Aveiro.
No concelho de Cantanhede, o fogo, que destruiu cerca de 6.000 hectares, a maior parte área florestal, atingiu as freguesias da Tocha, São Caetano, Vilamar e Corticeiro de Cima, e foi combatido por 82 bombeiros, apoiados por mais de 20 meios terrestres. Não existiram danos pessoais.
As chamas, que chegaram ao concelho de Cantanhede pela vila da Tocha, segundo a agência de notícias Lusa, atingiram uma altitude superior aos 25 metros, e ultrapassaram os meios de bombeiros posicionados na ligação à praia. Queimaram uma extensa área florestal, destruíram postes de iluminação e equipamentos de apoio dos parques de merendas das Berlengas, passaram por um parque eólico e pela zona industrial, e ainda chegaram às proximidades da Praia da Tocha, obrigando à evacuação do parque de campismo.
Após os efeitos destrutivos dos incêndios, o Município de Cantanhede rapidamente se dedicou a tentar recuperar as zonas florestais ardidas e a prevenir futuros incêndios.
Promoveu ações de reflorestação: em abril de 2018, pessoas de todas as faixas etárias, famílias, associações desportivas e culturais, autarcas, bombeiros e forças de segurança, participaram no movimento cívico denominado “Um Novo Caminho Verde” e lançaram mãos à obra para restituir a paisagem florestal, plantando 1.400 pinheiros mansos, na área da Praia da Tocha afetada pelos incêndios de 2017. Esta ação não foi única, o processo de reflorestação da área ardida envolvente à Zona Industrial da Tocha, tem vindo a ser dinamizado pela Câmara Municipal de Cantanhede, Junta de Freguesia da Tocha e a INOVA, em parceria com o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) e com o envolvimento das associações locais.
Já em 2021, a Câmara Municipal de Cantanhede anunciou uma iniciativa de grande escala, disponibilizando cerca de 10.000 plantas, de espécies autóctones, para motivar os proprietários a rearborizar os terrenos localizados nas zonas de gestão de combustível da rede viária florestal e zonas industriais, de modo a dar cumprimento ao Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios.
Esta iniciativa decorre da candidatura efetuada com sucesso ao projeto “Floresta Comum” (programa de fomento e incentivo à criação de uma floresta autóctone com altos índices de biodiversidade e de produção de serviços de ecossistema).
As espécies disponíveis para plantação são, entre outras, o Arbutus unedo (medronheiro), o Fraxinus angustifolia (freixo), Quercus faginea (carvalho-cerquinho), o Quercus robur (carvalho-alvarinho), o Quercus suber (sobreiro) e o Pinus pinea (pinheiro-manso).
Colocaram também em prática ações de limpeza / prevenção: em 2021, a Câmara Municipal de Cantanhede intensificou as ações de limpeza e gestão de combustível nos espaços florestais, indo proceder à limpeza de cerca de 130 hectares, no âmbito do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PMDFCI). Os trabalhos estão previstos decorrer até ao final de maio e já se encontram em fase de conclusão na freguesia da Tocha. Estas ações de limpeza e gestão de combustível são muito importantes, pois diminuem o perigo de incêndio e aumentam a resistência à passagem do fogo.
Porém, apesar de todas as medidas para rearborizar e proteger as plantas que resistiram aos incêndios, houve, recentemente, problemas com o abate de árvores. Uma pequena mancha de árvores (formada na maioria por pinheiros bravos) no parque de merendas das Berlengas, localizado na margem da via que liga a Tocha à praia, foi abatida. O ato levado a cabo pelo ICNF, foi recebido com grande insatisfação pela Câmara de Cantanhede, que alegou que foram cortados pinheiros bons (verdes) e deixados intactos pinheiros queimados. Esta iniciativa gerou descontentamento, tendo havido um ato de revolta anónimo, como sinal de protesto. As árvores abatidas teriam cerca de 70 anos e integravam o Perímetro Florestal das Dunas de Cantanhede, criado na década de 1940, que já teria sido lesado em cerca de 81% da sua área, devido aos incêndios.
Apesar de o Município de Cantanhede já ter tomado várias medidas eficazes de recuperação e proteção da área florestal, deixamos algumas sugestões:
- Erradicação de espécies invasoras (como as acácias) que rapidamente se instalaram e se propagaram após os incêndios, que competem por espaço, luz solar e água com as plantas autóctones;
- Afetação de uma percentagem do orçamento das escolas do concelho para atividades de reflorestação;
- Dinamização de atividades escolares para limpeza e rearborização de terrenos;
- Dinamização de palestras, pelos Bombeiros Voluntários de Cantanhede, sobre como atuar em caso de incêndio e avistamento de possível foco de incêndio, de forma a tentar conter e minimizar os danos.
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