Perante o cenário de pandemia devido à COVID-19 tudo tem sido objeto de mudanças significativas e a produção de resíduos não é exceção. Primeiro com a obrigação, e agora, com o aconselhamento para se permanecer em casa, é natural que a produção de resíduos domésticos aumente, razão pela qual importa olhar com atenção para este fenómeno e para aquela que é a gestão destes resíduos. Continuará o processo de gestão igual em época de pandemia? Devido ao aparecimento deste vírus foram também necessárias novas medidas de segurança e higiene que implicaram o crescente uso de plástico, principalmente descartável, que no futuro resultará num aumento significativo de resíduos deste tipo. A pergunta para a qual urge encontrar uma resposta é: – O que fazer em relação a este problema?
No que toca à gestão de resíduos, ainda em período pré-pandemia, em janeiro de 2020, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, José Pedro Matos Fernandes, em entrevista ao Jornal ECO, publicada na rubrica “Capital Verde”, admitia já se haver registado um aumento substancial da produção de resíduos em zonas residenciais sendo que a recolha dos resíduos indiferenciados deveria, sempre que possível, ser diária.
Em março, já após ter sido decretado o Estado de Emergência, o Jornal Expresso dava conta de que em Lisboa, já havia sido suspensa a recolha porta-a-porta de embalagens de plástico, vidro ou de papel e cartão para reciclagem e que os resíduos estariam a ser encaminhados para os respetivos centros de triagem, onde ficaram numa espécie de quarentena por tempo indeterminado, antes de seguirem para tratamento final.
Seguindo as orientações da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos e da Agência Portuguesa do Ambiente, publicadas em diversos meios de comunicação social, no caso de infeção todos os resíduos produzidos deveriam ser colocados em sacos de lixo resistentes e descartáveis e colocados dentro de um segundo saco, devidamente fechado, e ser depositado no contentor de resíduos indiferenciados. O lixo indiferenciado (aquele que vai todo misturado nos sacos de plástico) seguia diretamente para eliminação (incineração ou aterro) por poder conter materiais contaminados.
Relativamente aos resíduos de plástico, a elevada procura de equipamentos de proteção pelos governos e pela população em geral, promoveu o aumento substancialmente da produção de plástico por todo o mundo.
De acordo com o estudo “Environmental choices vs. COVID-19 pandemic fear – plastic governance re-assessment”, da Universidade Jaguelônica (Cracóvia, Polónia), face às crescentes preocupações com a saúde devido a esta pandemia e à sua propagação, preocupações e cuidados ambientais tendem a perder prioridade, havendo um retrocesso na reutilização de embalagens e um aumento na utilização de embalagens descartáveis. Observando o que se passa internacionalmente, o plástico (descartável em particular) ganhou uma nova dimensão principalmente devido às preocupações com a higiene e os riscos à saúde.
Antes desta preocupação acrescida, devido à possibilidade de contágio, era notório o esforço concertado no sentido da diminuição da produção de alguns produtos de plástico descartável, tais como embalagens, copos e talheres. Atualmente, devido às restrições em período de pandemia, tem-se registado um aumento de encomendas no setor alimentar, o que implica também um aumento do uso de sacos, utensílios e caixas de plástico não reutilizável. Como consequência deste aumento e de modo a que exista uma boa higiene alimentar, tendo em conta o novo coronavírus, o progresso inicial alcançado por várias empresas, naquilo que diz respeito à redução na produção de plásticos, acaba por ser anulado.
Tendo em conta informação veiculada pela RTP, alguns países têm vindo a suspender as restrições quanto ao uso de plásticos de forma a impedir o contágio pela COVID-19. Por exemplo, nos Estados Unidos, as cadeias de restauração como a Starbucks eliminaram o uso de produtos reutilizáveis como medida de segurança e no Reino Unido, as taxas aplicadas aos sacos de plástico não estão a ser cobradas.
Maria Elvira Callapez, investigadora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa refere que agora também os profissionais de saúde se veem obrigados a usar equipamentos de proteção individual de plástico descartável, uma vez que diariamente contactam com pessoas infetadas. Cumulativamente, também os materiais hospitalares como tubos, ventiladores, material de laboratório e termómetros, que são maioritariamente feitos de plástico, têm aumentado diariamente.
O alarmante crescimento da produção de plástico em todo o mundo reforça o debate público sobre a atual crise ambiental, na qual resíduos de plástico descartável são considerados os mais prejudiciais para o ambiente e para a saúde pública.
De forma a dar a volta a esta situação, Joana Raposo Santos da RTP diz poderem ser tomadas medidas de modo a ajudar a reduzir a produção de plástico das quais: o uso de máscaras comunitárias, devidamente certificadas, por parte dos cidadãos, em vez de máscaras cirúrgicas, sendo que estas devem ser reservadas aos profissionais de saúde e a quem lida com pessoas contagiadas. Outra ação importante consiste em depositar corretamente os equipamentos de proteção individual no lixo. Em vários países têm circulado pelas redes sociais imagens de máscaras e luvas usadas espalhadas pelas ruas e, se estas não forem rapidamente apanhadas e depositadas no lixo, facilmente vão parar à rede de esgotos – especialmente se a chuva as arrastar até às sarjetas – e acabam nos oceanos.
No estudo referido, desenvolvido por um grupo de investigação da Universidade Jaguelônica, nesta época de pandemia, o modelo de controlo de resíduos de plástico tem que ser reavaliado uma vez que, por razões de segurança e saúde, as partes interessadas e os consumidores estão a precisar ainda mais de materiais de plástico descartável do que anteriormente. Há duas opções possíveis: (i) a diminuição da ameaça de pandemia implicará o retorno das atenções para o impacto do plástico descartável no ambiente; ou (ii) a experiência desta mudança repentina causará danos ambientais a longo prazo, uma vez que o crescimento alarmante de resíduos de plástico e o seu impacto no ambiente continuarão a ficar em segundo plano.
Este novo desafio denominado por COVID-19 requer um controlo adequado em relação à produção de resíduos em geral e principalmente à produção de resíduos de plástico. É essencial que, apesar de se tratar de uma situação de saúde, o ambiente e as práticas sustentáveis não sejam esquecidos, razão pela qual importa monitorizar, observar e avaliar a evolução deste fenómeno.
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