Rio Zêzere em perigo: altas quantidades de arsénio e barragem em risco de colapso

A cerca de trinta quilómetros do Fundão, mais precisamente no Cabeço do Pião, existe uma escombreira com mais de duzentos metros de altura que suporta uma barragem de lamas que contém elevadas quantidades de metais pesados, metais esses que estão contidos nos inertes resultantes da exploração mineira da Panasqueira que foram depositados durante oitenta anos próximos ao leito do rio Zêzere.

Chumbo, cobre, zinco, volfrâmio e arsénio são alguns dos metais que, juntamente com a areia, compõem o enorme amontoado que, ao longo de vários anos foi sendo formado pela atividade das diversas concessionárias que exploraram as famosas minas do Couto Mineiro da Panasqueira.

Os estudos realizados pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com base em amostras recolhidas à superfície da barragem da barragem de lamas e a cerca de metro e meio de profundidade na escombreira, permitiram concluir que “as quantidades de arsénio encontradas são muito superio

Escombreira no Cabeço do Pião (foto: Ana Louro)

Escombreira no Cabeço do Pião (foto: Ana Louro)

res aos valores tidos como normais”, como referido por António Fiúza, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto que afirma que “em uma tonelada temos cento e cinquenta quilos deste elemento, oque seria aceitável, para esta quantidade, estaria na ordem de sessenta gramas”. “O arsénio e uma substancia toxica por contacto dérmico e ingestão e cancerígeno por ingestão, inalação e contacto dérmico”, refere o mesmo.

Um dos estudos sublinha o facto de “a população local estar sujeita a riscos ambientais e carcinogénicos inaceitáveis” devido aos altos valores de arsénio presentes nestes meios.

Por outro lado, existe o risco de haver uma rutura na barragem de lamas, oque levaria, segundo o mesmo estudo, à “libertação de centenas de milhares de metros cúbicos de material que seria transportado pelo rio Zêzere até à Barragem do Cabril com elevadas concentrações de arsénio, com consequências extremamente graves.”

Anselmo Gonçalves, professor em Oleiros, refere, em declarações à SIC que “há vários relatórios que apontam para um real perigo de haver um deslizamento total ou parcial da barragem de lamas em relação ao rio Zêzere”.

Em contraponto com estas posições, António Correa de Sá, administrador da Beralt Tin and Wolfram, empresa responsável pela formação da escombreira, assegura que esta e “é regularmente monitorizada e que não há perigo iminente de derrocada. ”

João Matos Fernandes, ministro do Ambiente, afirmou que  “o terreno no Fundao onde formam detetados valores anormais de arsénio é da responsabilidade da camara municipal”.

No meio de toda esta intriga e não assumo de responsabilidades, são as vidas dos locais que estão constantemente em jogo. Será que vale a pena correr esse risco?