“Um evento da dimensão do Rock in Rio tem de dar o exemplo” e na 7ª edição do evento em Lisboa, Roberta Medina, Vice-Presidente executiva do Rock in Rio Lisboa, comenta as medidas que promovem a sustentabilidade ambiental, apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer neste sentido.
Em comparação com o ano anterior, Roberta Medina considera que a grande inovação desta edição é a implementação do projeto social Amazonia Live. Este tem por base a plantação de um milhão de árvores na Amazónia, na nascente do rio Xingu (Mato Grosso), já que esta é uma das zonas mais afetadas pela desflorestação. O programa social do RIR é transversal a vários países e edições, conta com 16 anos de ações e está previsto durar até 2019. Desde então foram mais de 200 entidades apoiadas, mais de 56 mil pessoas beneficiadas todos os anos e mais de 24 milhões de euros investidos em projetos socioambientais.
Para viabilizar esta iniciativa foram estabelecidas diversas parcerias, nomeadamente com o Instituto Socioambiental (ISA), que executa a plantação e fornece as sementes produzidas pelos povos indígenas da região, com a FunBio (Fundo brasileiro para a biodiversidade) e com a Quercus, organização portuguesa não governamental de ambiente.
Em edições anteriores abordaram-se mais causas locais. Com este novo projeto, as alterações climáticas tornam-se ponto fulcral, já que são uma problemática recorrente desde 2006, em que se sentiu a necessidade de compensar as emissões de gases com efeito de estufa, que têm como principal causa os meios de transporte utilizados pelo público.
Segundo a Vice-Presidente executiva do RIR Lisboa, “muito mais que compensar as emissões, o fundamental era reduzir as emissões de CO2 do evento”. Um exemplo prático da evolução constante da otimização dos processos é a eficiência notável da montagem da Rock Street. A diminuição do tempo despendido na construção deste espaço sofreu um decréscimo de pelo menos um mês face a anos anteriores, em consequência da crescente preocupação dos patrocinadores em reduzirem a sua pegada ecológica. A montagem dos seus espaços tornou-se, assim, mais sustentável, sendo o índice de aproveitamento de resíduos e materiais notório.
Em 2013 o RIR envolveu-se com a ISO 20121, uma certificação no âmbito da gestão sustentável, assumindo um compromisso muito mais concreto, em que a evolução das medidas de cariz ambiental passa a ser obrigatória relativamente às edições precedentes.
Quando questionada acerca de opções mais ecológicas que pudessem substituir a utilização massiva de copos de plástico, Roberta afirmou que apesar da possibilidade do uso de copos reutilizáveis já ter sido considerada, existem ainda algumas barreiras operacionais para um evento desta dimensão. No Brasil os operadores dos estabelecimentos do recinto mostraram-se relutantes quando postos perante esta solução, no entanto Roberta Medina pensa que em Portugal esta implementação será mais facilitada. Porém, enfatiza que o facto de esta alternativa ser apenas opcional não vai de encontro ao objetivo em que se pretendia a utilização somente de copos reutilizáveis.
Em relação à origem da energia utilizada no evento, a maior parte provém da rede da EDP, a qual envolve energias renováveis, no entanto grande parte deriva de geradores e pela dimensão do evento, Roberta Medina advoga que não é rentável a reutilização de óleos de cozinha para alimentar os geradores, à semelhança do que ocorre como por exemplo no Boom Festival.
Em 2012 desenvolveram, durante 2 meses, estudos com o objetivo de tornar os geradores aptos a utilizar o biodiesel, mas instaurou-se uma polémica que os impediu de aplicar a medida. “Até que o mercado esteja preparado para alimentar, com biodiesel, um evento desta dimensão, não é confortável promover uma discussão que não está esclarecida.”
Nesta edição o monitoramento do consumo energético também já é possível e acessível através de uma aplicação desenvolvida no âmbito do projeto Vodafone SmartCities em parceria com o Rock in Rio. Além da energia permite também supervisionar o abastecimento de água, a qualidade do ar e a egstão de resíduos, que também já é registado pela Valorsul, a Câmara e a Sociedade Ponto Verde, em tempo real. Com as limitações de um evento temporário como este os sensores na casa de banho revelam-se interessantes e importantes, onde através da aplicação o consumidor final consegue saber quais as casas de banho disponíveis.
Roberta Medina é da opinião que no Rock in Rio é possível aliar a música ao ambiente “A música é apenas uma plataforma abrindo espaço para se falar da sustentabilidade ambiental pela positiva e não pela negativa”. Um evento desta dimensão possui muitas limitações mas já se avançou muito, como por exemplo o facto de grande parte da iluminação já ser LED.
A evolução é, portanto, notória e é um motivo de orgulho muito maior e concreto do que das ações que acontecem no evento, pois estas implicam mudanças profundas de comportamento e processo construtivo.
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