Salvar a praia… ou lembrá-la em fotografias?

Na Lourinhã, as praias do Areal Sul e da Areia Branca enfrentam uma ameaça crescente e silenciosa: a destruição do cordão lunar. Entre a força inevitável do mar e a pressão constante humana, estas barreiras naturais estão a desaparecer. Em resposta, decorre uma intervenção de recuperação ambiental que visa travar o avanço da degradação. Mas será suficiente? Estaremos a tempo de inverter esta destruição?

Cordões dunares: o escudo esquecido da costa

As dunas são formações arenosas na costa, moldadas pelo vento e vegetação, mas não são apenas paisagem — são um escudo. Atuam como uma primeira linha de defesa contra o avanço do mar, absorvendo o impacto das marés e das tempestades. Ao mesmo tempo, sustentam ecossistemas específicos, com flora e fauna adaptadas a condições extremas.

Contudo, a sua função é muitas vezes subestimada. O pisoteio, a circulação desordenada, a construção próxima da linha de costa e a proliferação de espécies invasoras têm contribuído para a sua degradação. Sem vegetação que as estabilize, as dunas tornam-se vulneráveis e deixam de cumprir o seu papel.

Para isso foram tomadas algumas medidas intervencionistas e educativas numa tentativa de criar uma relação mais consciente entre as pessoas e o território, entre as quais, a instalação de passadiços de madeira elevados, que permite o crescimento de vegetação e a circulação de pessoas, sem que estas danifiquem a vegetação. Também foram colocadas paliçadas para a formação natural das dunas e painéis informativos para a sensibilização das pessoas. Além disso, o principal trabalho feito foi a retirada de espécies invasoras e a plantações de espécies autóctones, como a Ammophila arenaria).

Os efeitos positivos

A nível ambiental, os benefícios são claros. A recuperação do cordão dunar contribui para: reduzir o risco de erosão e de avanço do mar sobre áreas habitadas; promover a biodiversidade; valorizar o espaço balnear, reforçando a sua sustentabilidade e atratividade a longo prazo. Além disso, estas intervenções demonstram que as autarquias locais podem (e devem) liderar respostas concretas às alterações climáticas e à pressão humana sobre os espaços naturais.

Mas nem tudo são vitórias

Apesar dos méritos, há limitações que não podem ser ignoradas. Em primeiro lugar, os resultados são lentos e frágeis. Uma duna demora anos a formar-se de forma estável, e basta um verão de desrespeito para comprometer meses de trabalho.

Em segundo lugar, o impacto do turismo continua a ser elevado, durante a época balnear. Nem todos os visitantes compreendem a importância de seguir os trilhos ou respeitar as zonas vedadas. A manutenção destas intervenções exige recursos humanos e financeiros constantes, o que nem sempre é fácil de garantir a nível municipal.

Por fim, estas medidas, embora importantes, não atacam as causas estruturais da erosão costeira: o recuo da linha de costa por causa da subida do nível do mar, a impermeabilização dos solos, e décadas de ocupação desordenada do território.

A importância das dunas

As dunas são formações arenosas dinâmicas e  frágeis que dependem do vento e da vegetação que crescem ao longo da costa, visto que estes as moldam podendo fazê-las desaparecer. 

Muitas vezes vistas apenas como cenários fotogênicos, as dunas cumprem funções ambientais de extrema importância. Estas atuam como barreiras naturais contra a erosão costeira, protegendo o interior terrestre do impacto direto do mar, como nas tempestades e marés altas. Além disso, essas formações arenosas são habitats únicos,  para as espécies de fauna e flora adaptados às condições desafiadoras dos ambientes arenosos. Essa biodiversidade é fundamental para o equilíbrio ecológico dessas regiões, tal como papel das dunas na manutenção da qualidade das praias, ao evitar o avanço do mar e contribuir para a estabilidade dos ecossistemas costeiros. 

A recuperação do cordão dunar na Praia do Areal Sul e na Praia da Areia Branca é, sem dúvida, uma iniciativa louvável. Representa um passo na direção certa — um sinal de que é possível agir localmente perante desafios ambientais globais. Contudo, não se trata de uma solução milagrosa. A proteção das dunas exige um compromisso contínuo, coletivo e consciente. A paisagem que hoje tentamos salvar pode, amanhã, tornar-se apenas uma memória fotográfica. A escolha é nossa.

Emília Sobral, Rosa Quadros, Margarida Figueiredo, Mariana Martín