Será que o ouro vermelho do Fundão brilha sempre?

A cereja, fruto emblemático da região do Fundão, foi o mote para uma visita à Casa da Cereja, em Alcongosta, na manhã do dia dezoito de novembro.

De cor avermelhada, carnuda, doce e sumarenta, a cereja é um fruto versátil. É consumida na sua forma natural durante um curto espaço de tempo, ou em vários produtos, tais como doces, licores, chocolates. É ainda um produto amplamente utilizado, não só na área da gastronomia, mas também em áreas como a cosmética. No concelho do Fundão, este produto tem especial importância.

Conversámos com Pedro Silveira, Professor do Primeiro Ciclo do Ensino Básico, dinamizador da rede de Casas e Lugares do Sentir, da Câmara Municipal do Fundão, na qual se integra o espaço visitado, que referiu a pertinência da cereja no desenvolvimento da região. A cultura deste fruto, bem como a sua apanha, tratamento e distribuição são, além de fonte de rendimento e crescimento da economia local, garante de empregabilidade para o concelho. Conhecida globalmente como “o ouro vermelho do Fundão”, afigura-se como motor de desenvolvimento do concelho para locais e visitantes. Mas será este ouro vermelho apenas brilho?

Nas palavras do entrevistado, foi possível compreender que, à data de hoje, os procedimentos relativos à indústria da cereja são diferentes dos que existiam em tempos idos. Atualmente, uma cerejeira plantada com fins produtivos tem um tempo médio de vida de, aproximadamente, dez anos. Findo esse tempo, procede-se ao corte da árvore e ao reaproveitamento da madeira para aquecimento. Quanto à cereja, prevalece a preferência de espécies não autóctones no que se refere ao consumo natural. Para o consumidor, os olhos também comem. Contudo, durante a visita, houve a oportunidade de tomar conhecimento do destino dado à cereja e a todos os seus componentes que não correspondem ao padrão comercializável. Nas palavras do professor, não há lugar a qualquer desperdício. Além da importância económica, o fruto possui importância ambiental. Nesta visita pretendeu-se, portanto, dar a conhecer a sustentabilidade do fruto. Pedro Silveira informou que os caroços das cerejas são recolhidos para a elaboração de produtos de aquecimento, como almofadas. Os seus pés são comummente utilizados para criações artísticas, ou mesmo para chá. O fruto que, no seu cômputo geral, não corresponde aos parâmetros de comercialização, é canalizado para a elaboração de compotas, licores e outros produtos gastronómicos. Durante a apanha, a cereja que não possui os requisitos fundamentais para ser comercializada, é utilizada como fertilizante de solos ou alimentação de animais, favorecendo uma economia a uma escala doméstica. As embalagens utilizadas são, atualmente, em papel. O docente destacou, ainda, a produção de sumo natural de época. Nas suas palavras, “tudo é reaproveitado”.

Durante a visita, o entrevistado enalteceu o trabalho realizado pela entidade que representa em prol da preservação de todas as tradições do concelho, sem esquecer a natural evolução dos processos, na busca de uma vida mais sustentável. Pese embora exista o recurso ao plástico para a conservação da cereja apanhada, a cestaria ainda representa a opção viável e sustentável para este efeito. Com efeito, a cereja mantém todas as suas propriedades até chegar ao consumidor, quando preservada em cestos elaborados em madeira de castanheiro.

Antes do fim desta visita, procurámos saber mais detalhes quanto à mão de obra utilizada na apanha da cereja. Por um lado, nas palavras de Pedro Silveira, nos meses próprios para a apanha da cereja, existe a necessidade de reforço de pessoal e contratação de mão de obra externa. Sendo este um trabalho temporário, reveste-se de especial dificuldade encontrar mão de obra disponível. Por outro lado, o turismo de massas que a cereja do Fundão tem vindo a fomentar ao longo dos anos, levanta a possibilidade de impacto ambiental negativo, não só na plantação de cerejeiras, mas também na conservação do património cultural e arquitetónico do concelho. Urge refletir sobre caminhos a seguir que proporcionem um maior equilíbrio entre a importância económica da cereja para o concelho e o impacto ambiental provocado pela massificação e crescimento do turismo.

Carla Fernandes, Clarisse Sequeira, Eduarda Rosado, Marta Pereira, Teresa Pacheco