Mais de 70% do planeta Terra é constituído por água, que sustenta uma grande variedade de habitats e biodiversidade. No
entanto, as costas marinhas, praias, rios, mares e oceanos acabam sendo lixeiras de milhões de toneladas de resíduos. Tendo sido irresponsavelmente abandonada por mão humana nos areais, nos rios, ou oceanos, tendo sido transportada pelo vento, correntes ou vórtices marítimos, garrafas de vidro, latas de metal, detritos de madeira, resíduos de têxteis, pontas de cigarros e principalmente plástico e micro plásticos ( P. Ex., Grânulos e microplaquetas) poluem e colocam em risco espécies marinhas e biodiversidade.
Parafraseando as Nações Unidas (2014), o lixo marinho constitui “um sintoma da nossa sociedade do “usa e deita fora” e evidencia o modo como abordamos os nossos recursos naturais”.
Quais são as principais fontes de lixo marinho?
Apenas 20% ou 30% dos resíduos marinhos provêm de atividades marítimas, como indústria da pesca, transporte marítimo, exploração de minérios, despejo ilegal no mar ou equipamento de pesca abandonados. Na verdade, a grande maioria dos resíduos resulta de atividades realizadas em terra, incluindo lixo de praias e áreas costeiras (por exemplo, atividades turísticas), aterros, esgotos não tratados (Comissão Europeia, 2017; U.N., 2014)
Por outro lado, entre os resíduos marinhos, a grande maioria – cerca de 70% – deriva do plástico, que é um material durável (APLM, 2017, Comissão Europeia, 2017, U.N., 2014).
Quais são os resíduos mais comuns na praia?
Além de madeira e detritos de pesca (redes, cabos), muitos outros resíduos podem ser encontrados.
As pontas de cigarro são os resíduos mais frequentes nas praias, constituindo autentica armadilha para pássaros e outros animais, que as confundem com alimento, provocando doenças /ou morte e/ou sérias consequências para os ecossistemas e para outros seres vivos incluindo o homem (APLM, 2017; Buczynski, 2012)
Uma ponta de cigarro pode contaminar até 2L de água com cerca de 4700 substâncias tóxicas.
Além disso, temos vários detritos plásticos (por exemplo, tampas de garrafas, garrafas de plástico, palhinhas de plástico, microplásticos), que apresentam um lento processo de degradação.
Finalmente, embalagens de alimentos latas de bebidas, sacos de papel, fibras de vestuário e poliestireno (isopor).
Consequências do lixo marinho
Espécies marinhas são gravemente feridas ou morrem com artefatos de pesca ou de transporte.
Conforme afirmado, o plástico é o componente mais encontrado. Devido à sua durabilidade – uma vida útil de séculos – não é biodegradável rapidamente. No entanto, ele pode fragmentar em pedaços muito pequenos, atraindo metais tóxicos e pesados quando transportados pelas marés (APLM, 2017, Fundação Macarthur, 2017, Programa Ambiental das Nações Unidas – PNUMA, 2014, 2016) e acumulado nos giros oceânicos, formando ilhas de “Sopa de plástico” ou no gelo do Ártico (Macarthur Foundation, 2017, UNEP, 2016).
Os microplasticos – por exemplo, pellets – são poluentes das águas dos oceanos e são pequenos o suficiente para se misturar com o plâncton. “Eles são uma ameaça direta para muitas espécies, pois são confundidos com alimentos nutritivos naturais, intoxicando-os ou asfixiando-os até à morte “, referiu Paula Sobral da APLM, numa campanha de limpeza de praia, na Ericeira, coordenada pela ABAE.
Microplasticos podem transportar dois tipos de micro poluentes no ambiente marinho: aditivos plásticos constituintes do próprio material e poluentes hidrofóbicos absorvidos da água do mar.
O que tem sido ou pode ser feito para reduzir o lixo?
De acordo com Paula Sobral, não há fábrica ou sistema de tratamento para partículas microplásticas, e as máquinas que limpam as nossas praias apenas limpam até 2,5 cm de profundidade.
A informação na escola é crucial, bem como campanhas para o público em geral e para sindicatos específicos e grupos profissionais/ económicos. Por exemplo, a APLM vem realizando campanhas na escola e com pescadores levando-os a recolher seletivamente resíduos marinhos a bordo em recipientes especiais, transportando-os acondicionados para terra.
Vários projectos têm sido realizados em Portugal, como campanhas de limpeza, monitoramento científico das praias e rios,
Cientistas da Grã-Bretanha e dos Países Baixos defendem que uma ação muito mais radical e eficiente deve ser tomada:
“O conceito básico é que os produtos devem ser projetados tendo em mente, desde a sua conceção, a sua recuperação no fim da vida! O verdadeiro desafio é combater um modelo económico que prospera em produtos e embalagens desperdiçados e causando um problema cada vez maior no que respeita a limpeza e controlo de desperdícios”(Moore, 2014).
O futuro?
A fim de manter o peixe no oceano – sardinhas no nosso prato! – alterar a forma como produzimos e consumimos os plásticos é o verdadeiro desafio, assim como, ao nível individual, uma mudança de rotinas e ao nível da comunidade uma mudança cultural!
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