O Rock in Rio, desde o seu nascimento em 1985, tem um compromisso com a sustentabilidade, conta Gabriela Cunha, analista da rede de sustentabilidade do festival. “Também foram comemorados, na verdade, 40 anos do “Por Um Mundo Melhor”, um projeto de sustentabilidade que nasceu já dentro da filosofia do festival”. Contudo, este compromisso apenas se concretizou mais tarde, com a certificação ISO 20121, conta Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, “desde 2013, todas as nossas edições em todos os países (…) são edições certificadas na ISO 20121 dos eventos sustentáveis.” Esta certificação fornece às organizações um modelo para identificar, reduzir e eliminar os impactos negativos e potenciar os positivos associados à sustentabilidade. A ISO traz benefícios e, no que diz respeito ao evento, a vice-presidente do RiR apresenta outro ponto crucial desta certificação. “A ISO obriga-te a evoluir. (…) e ela fez com que toda a empresa precisasse de se comprometer com uma série de temas e ações.”
Um dos aspetos mais difíceis de contornar nesta certificação tem sido, segundo Roberta Medina a questão da energia pois as características do evento obrigam a consumos elevados de energia que devido à ausência de energia elétrica da rede, obriga a que praticamente todas as atividades de iluminação, restauração, som e entretenimento obriguem ao recurso a geradores. No entanto, apesar do desafio da mudança de localização e consequente aumento da área do recinto, os organizadores já têm preparadas medidas de adaptação como a utilização de uma rede estratégica de geradores de eletricidade a biocombustível. Este biocombustível denominado HVO – Hydrotreated Vegetable Oil – provém de uma parceria com o novo projeto da Galp, o Projeto HVO@Galp. “Mesmo aumentando em 30 mil metros quadrados de parque, conseguimos ter uma redução de 15% [das emissões] por causa de um plano eficiente de geradores”. Esta fonte de energia tem origem em óleos residuais, alimentares ou industriais, “mas é um biocombustível feito de matérias primas orgânicas, e que reduz quase 90% das emissões de carbono.” afirma Gabriela Cunha.
Ao longo do recinto, e complementando os geradores a biocombustíveis, Gabriela refere a existência no festival de “alguns geradores eólicos que vão ser direcionados para carregadores de telemóvel”e que se localizam na parte Oeste do recinto de forma a aproveitar os ventos dominantes. . Outras medidas para a redução de emissões de gases de efeito de estufa (GEE) no setor energético consistem na utilização exclusiva de equipamentos com elevada eficiência energética e na compensação das emissões ditas inevitáveis (como as provenientes do deslocações público/staff) através de programas como o Amazónia Live, focado na reflorestação dos ecossistemas da Amazónia tendo o Festival já contribuído para a plantação de quatro milhões de árvores.
Não obstante os esforços do Rock in Rio na redução de emissões de GEE, Roberta Medina admite que ainda existem melhorias a serem realizadas. O desafio de prevenir as emissões é mais trabalhoso do que a compensação das mesmas, alternativa escolhida pela organização face à escassez de soluções viáveis. No caso da compensação das emissões provenientes dos transportes, pode ser levantada a questão da escolha de veículos elétricos e o uso de fontes de energia com uma pegada carbónica nula, por exemplo, para evitar uma compensação demorada. Paralelamente, o uso de HVO tem ainda emissões associadas e é suscetível a flutuações de oferta, apresentando-se como uma solução limitada, pois depende da produção de óleos alimentares.
O compromisso da organização do evento com a sustentabilidade obrigará à procura de novas soluções para colmatar as necessidades energéticas do festival que poderão também passar eventualmente pelo envolvimento do município de Lisboa através da ligação à rede pública.
You must be logged in to post a comment.