Tradições e Vida Rural: o papel da Lusitânea

As Aldeias do Xisto são um conjunto de 27 aldeias, na região centro de Portugal, conhecidas pelas suas paisagens e tradições. Numa destas aldeias, Aigra Nova, localizada no concelho de Góis, existe um Núcleo de Interpretação Ambiental da Serra da Lousã, que tenta recriar e simular as antigas culturas e tradições da região. Este núcleo mostra as práticas agrícolas, a divisão da água e as crenças religiosas antigamente utilizadas.

Dado que só existia um tanque de água na aldeia, o controlo da sua utilização era realizado por um juiz eleito a cada ano. A função deste membro da sociedade era atribuir um número de horas de utilização da água a cada família, de forma a existir uma repartição justa e equilibrada. Esta distribuição era realizada de 19 em 19 dias, pois este é o número de dias que uma planta sobrevive sem água.

A prática agrícola era a maior fonte de rendimento das famílias, focando-se em três produtos essenciais: a Castanha, a Couve Serrana e o Milho.

A Castanha era o único alimento rico em hidratos de carbono plantado na região, o que resultou na aquisição de várias técnicas para a sua conservação. Mal era terminada a apanha da Castanha, esta passava 4 semanas no calor dos fornos para secar. Após este processo, as Castanhas eram pisadas, numa espécie de dança realizada em borbulhas (cesta utilizada nesta técnica) e passavam a ser consideradas castanhas piladas, ou seja, as castanhas estavam secas e prontas para serem consumidas durante todo o ano. A Couve Serrana era importante nesta região uma vez que sobrevivia às extremas condições climáticas que se sentiam em Góis. Esta era uma planta resiliente às temperaturas elevadas no Verão e às temperaturas baixas no Inverno, resistindo também à neve. A importância do Milho era devido à necessidade dos aldeãos de terem farinha para realizar a tradicional broa de milho. Era importante também a nível cultural pois era realizada uma festa na aldeia na altura de debulhar o milho. 

O maior marco cultural desta aldeia são as antigas tradições realizadas no carnaval, em especial o Entrudo. Esta tradição tem como principais características a utilização de máscaras de cortiça para cobrir o rosto dos foliões (participantes do desfile) e o facto dos participantes se vestirem sempre do género oposto. Esta tradição foi perdida ao longo do tempo, sendo recuperada nos últimos anos pela Lousitânea, através da recolha de testemunhos, chegando aos 1500 visitantes nesta altura do ano (dados de 2023). 

O gado, antigamente constituído apenas por cabras, era também uma fonte de rendimento das famílias, uma vez que cada família possuía cerca de 300 cabeças de gado. Com o início do Estado Novo foi criado um plano de plantação florestal, ou seja, a parte de mata foi trocada por plantações de pinheiro. Com isto as cabras deixaram de ter o alimento suficiente, o que obrigou as famílias a reduzirem o número de cabras.

A religião era outro ponto importante para os habitantes desta aldeia, como por exemplo o quebranto. Esta tradição consiste em colocar três paus na fogueira, e depois de estarem em brasa colocá-los num alguidar com água. Após este processo diz-se uma oração, que tem como objetivo retirar o cansaço e a doença das pessoas. A existência de associações como esta é muito importante para a localidade e para o exterior, dado que mantém as tradições vivas e mostra esta realidade à população que a desconhecem.

Bárbara Martins, Mariana Martín, Melania Ukrayintseva, Sara Loureiro