Francisco Ferreira inicia a entrevista por explicitar a ideia que conduziu à criação da ZERO, tendo esta partido de “uma inspiração”, de um objetivo aparentemente utópico, que é a evolução para “um mundo com zero poluição, 0 perda de biodiversidade, zero resíduos e zero emissões de carbono, pelo menos, líquidas”. A principal meta foi, efetivamente, tentar perceber como se constrói esse caminho, “complicado de atingir, mas que nos faz refletir”. É igualmente necessário garantir a “funcionalidade do sistema para as próximas gerações, para além de reduzir a pegada ecológica atual e a do passado”.
Relativamente à reação dos portugueses perante a construção de uma sociedade de carbono zero, o entrevistado declara que “os portugueses ainda não perceberam o que é construir uma sociedade de baixo carbono”, o que não está somente relacionado com a tecnologia, mas que envolve qualidade de vida.
De facto, em 2050, principalmente o carbono que for retirado das florestas, terá que equivaler às emissões, o que implica uma drástica redução, uma vez que, atualmente, metade das emissões resultam ou dos transportes ou da produção de eletricidade. Daqui a trinta anos, é impensável “o uso de um carro a gasóleo ou gasolina ou de uma central a gás natural ou carvão”, constituindo este “um desafio enorme,” tanto a nível nacional como internacional, “se quisermos que a temperatura não aumente mais do que 1,5ºC”.
Do mesmo modo, destaca-se a importância da economia circular no cumprimento deste objetivo, que inclui, para além da reciclagem, a “integração de todos os materiais já usados”, desde telemóveis a micro ondas. Não obstante, este panorama é dificilmente aplicado “numa sociedade de consumo”, onde “valores sociais”, como o convívio, não são devidamente trabalhados. O docente da FCT-UNL exemplifica a sua perspetiva através da partilha de carros para o emprego, concluindo que os portugueses ainda não perceberam “o caminho fascinante” que há a percorrer para construir, em 30 anos, uma sociedade de carbono zero, caracterizada pelo uso, a 100% de energias renováveis, e, como tal, o desenvolvimento sustentável.
Numa outra perspetiva, foi abordada a temática dos incêndios, discutida no decorrer do Seminário nacional Eco-Escolas 2018, bem como a influência das alterações climáticas na frequência deste género de fenómenos. O Presidente da ZERO começa por afirmar que o aumento de um grau em termos de temperatura pode, eventualmente, conduzir ao aumento em cerca 10% a ocorrência de relâmpagos.
Contudo, “a questão que se coloca é o aumento exponencial da magnitude dos incêndios com a progressão das alterações climáticas, devido ao aumento dos períodos de seca, apesar de outros fatores, como o ordenamento do território. Francisco Ferreira declara, assim, que “as alterações climáticas constituem o fator diferenciador entre o pequeno incêndio e o grande incêndio”.
Por último, tendo em conta a saída do entrevistado da Quercus, membro da direção da organização até 2011, é mencionada “a abertura a iniciativas com a Quercus”, bem como a existência de áreas de intervenção comuns e divergentes, não se tendo, até ao presente momento, nenhuma colaboração “talvez por muitas pessoas que estão na ZERO terem estado na Quercus existem ainda ressentimentos em relação ao trabalho anterior, ainda não há essa disponibilidade”, realçando, no entanto que o movimento ambientalista deve atuar conjuntamente para melhores resultados.
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