Leonel Carvalho é o arquiteto responsável pela mudança das instalações no Jardim Zoológico de Lisboa. Trabalha no Jardim há 20 anos e abandonou a sua profissão como professor para se dedicar a este espaço.
Jovens Repórteres para o Ambiente: O que faz um arquiteto num Jardim Zoológico?
Leonel Carvalho: Eu sou arquiteto mas, podia ser engenheiro. Para além de pensar as instalações onde estão os animais, estou à frente do departamento de manutenção e tenho que gerir o Jardim esteja como está: a equipa de jardineiros, pessoal de limpeza, pedreiros, motoristas…
JRA: Como é que se tornou o arquiteto aqui?
LC: Comecei a fazer, em conjunto com outro colega, uns trabalhos para aqui, que nos foram pedidos. Para além desses trabalhos pediram-nos um plano de desenvolvimento para o Jardim. O Jardim nessa altura estava decrépito: tinha-se dado a revolução de 1974, e com as perdas das colónias perdeu-se o abastecimento de animais que vinham para o Zoo (a maior parte deles vinha de Angola, Moçambique e da Guiné…) o que, em conjunto com a falta da capacidade de investimento conduziu a este estado. Depois, a administração pediu-me para cá ficar a tempo inteiro. Tenho que confessar que nem era grande amante de animais, até à data em que tive mesmo de contactar com eles. Quase tudo o que acontece de mal, no Mundo, é por falta de educação.
JRA: Antes os animais estavam em jaulas, hoje em instalações mais próximas dos habitats. Como foi feita a gestão desta mudança?
LC: É claro que um plano não é só feito por um arquiteto, mas por um conjunto de pessoas e foi isso que aconteceu. Tentámos organizar o espaço, preservando a memória do velho Jardim Zoológico. O Jardim tinha imensos animais, mas não servia de nada ter tanta variedade se depois não tínhamos o espaço devido para eles. Começaram por desaparecer as grades, porque isto não é uma prisão, fizemos o estudo da abdicação de espécies e ao fazer esse estudo tivemos de decidir qual seria a nossa filosofia dali para a frente. Decidimos que queríamos ficar com as espécies mais ameaçadas e as mais emblemáticas. E tornar este espaço, um espaço de educação. Queremos fazer com que as pessoas saiam diferentes daquilo que entram.
JRA: No espaço podemos ver algumas instalações novas e outras ainda antigas. Como se definiu quais eram as instalações prioritárias?
LC: Aquelas que nós quisemos intervencionar mais depressa foram os primatas. Não era possível para nós, que tínhamos tantos projetos para este espaço, continuar a circular pelo Jardim e ver os gorilas enjaulados como se estivessem na prisão. Não fazia sentido. Até porque são estes que nos tocam mais, por serem parecidos connosco.
JRA: Troca impressões com arquitetos de outros Jardins Zoológicos?
LC: Sim, já troquei com o de Madrid, de Londres, etc. inclusivamente visitei-os para ver o que têm feito de bom e de mau. Mais importante do que trocar impressões com os arquitetos é falar com as pessoas que trabalham diretamente com os animais: os tratadores, os curadores e os veterinários.
JRA: Como funciona a parceria com os tratadores, quando estão a projetar uma nova instalação?
LC: O Jardim está ligado a várias organizações internacionais, como a EAZA, e estas organizações produziram regras para as instalações das várias espécies. É através desses guias que nos orientamos, em conjunto com a experiência dos tratadores.
JRA: Qual o processo para projetar instalações, como por exemplo, o delfinário, “Baía dos Golfinhos”?
LC: Como já disse as ideias não partem todas da minha cabeça, mas também das outras pessoas, os tratadores, que trabalham ao meu lado. Nesse caso em específico, a história começou quando eu era pequenino. O meu avô era pescador em Setúbal, e gostava de me levar no barco de pesca dele para o mar. Foi lá que vi a primeira vez golfinhos. Quando me pediram para fazer um delfinário veio-me à memória os golfinhos do Sado, as casas dos pescadores e os barcos.
Grupo 3: Miriam Seixas, Ana Carolina Pais, Rafael Almeida
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