Portugal e o Lítio: O Ouro Branco que Divide Opiniões

Sabiam que Portugal pode vir a tornar-se num dos maiores produtores de lítio da Europa? Este metal, tão leve mas extremamente valioso, pode estar prestes a transformar o nosso país, mas será para melhor ou para pior?

Hoje aprofundamos este tema com a ajuda do Professor Fernando Noronha, geólogo que se destacou na identificação das principais reservas de lítio em território nacional.
O lítio, também conhecido como o “ouro branco” do século XXI, é indispensável para a transição energética. As baterias dos nossos telemóveis, computadores e carros elétricos dependem deste material para funcionar. Quanto mais tentamos afastar-nos dos combustíveis fósseis, maior é a procura pelo lítio, que tem expectativas de duplicação já no próximo ano. Portugal destaca-se nesta corrida global graças às ricas reservas de lítio no norte do país.
Mas a história do lítio em Portugal começou há muito mais tempo do que muitos imaginam. Nos anos 90, o Professor Fernando Noronha estudava o potencial do lítio português, demonstrando que o nosso subsolo guardava um recurso estratégico e que poderíamos ser uma peça-chave na nova economia energética.
Atualmente, empresas internacionais apostam fortemente no lítio português, como a britânica Savannah Resources. Esta empresa detém o projeto Barroso, em Boticas, considerado um dos maiores projetos de extração de lítio na Europa. Este já recebeu luz verde ambiental e aproxima-se rapidamente da fase de exploração. A Savannah defende que este processo será um exemplo de mineração sustentável, respeitando as normas ambientais e contribuindo para o futuro energético da Europa.
As promessas são tentadoras: criação de novos empregos, investimentos estrangeiros e uma economia mais verde. Mas nem todos partilham do mesmo entusiasmo. Os habitantes de Barroso e outras comunidades afetadas, como Montalegre e Covas do Barroso, temem as consequências desta exploração, como a destruição de paisagens naturais, a contaminação das águas e a ameaça à agricultura e ao turismo.
Por isso, têm surgido protestos organizados por quem sente que não está a ser ouvido. As comunidades exigem respostas para a pergunta: “O lítio promete riqueza e inovação, mas para quem, exatamente?”
Estamos perante uma escolha difícil. De um lado, a promessa de um futuro mais sustentável impulsionado pela energia limpa. Do outro, o risco de danos ambientais e sociais irreversíveis, que podem comprometer o património destas regiões.
O lítio pode ser uma oportunidade única ou um erro irreparável. Cabe-nos refletir: será que podemos construir um futuro sem destruir as raízes que nos mantêm?