A expressão “Vou fazer o trabalho com o ChatGPT”, ecoa cada vez mais nas escolas. No entanto, o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, é apontado por ter um impacto positivo e negativo para o ambiente. Payal Dhar, no artigo “The carbon impact of artificial intelligence”, alerta para a urgência de considerar o papel da tecnologia de IA na atual crise climática. O autor revela que, em si, a IA é um grande emissor de carbono, mas que, por outro lado, pode ser usada para a criação de redes elétricas inteligentes, no desenvolvimento de infraestruturas de baixa emissão de gases poluentes e na modelação de previsões de alterações meteorológicas. Mas, afinal, será que os benefícios conseguem sobrepor-se ao lado negro destas tecnologias?
Para o funcionamento de um sistema de inteligência artificial, é necessário treinar os modelos computacionais, um processo demorado e progressivo, com várias e diversas fases. Segundo este artigo, a pegada carbónica relativa ao treino de um único modelo linguístico, que permite um diálogo, de grande dimensão, como o ChatGPT, “equivale a cerca de 300 000 kg de emissões de dióxido de carbono”. Este valor de emissões de Dióxido de Carbono pode ser comparado à realização, por uma pessoa, de cerca de 7500 voos entre o Porto e Lisboa, uma ligação muito contestada por ambientalistas.
O funcionamento diário da IA faz-se com base em algoritmos, que, através da análise contínua aos padrões de pesquisa humanos, conseguem adaptar-se às suas preferências, oferecendo uma experiência mais personalizada, nomeadamente em termos de pesquisa de informação. No entanto, o consumo destes sistemas, requerem uma rede de centros de processamento de dados, requerem um grande gastos de energia e de recursos hídricos.
A satisfação da maioria das necessidades energéticas, em termos de energias renováveis, não é, neste momento, uma solução a curto prazo, apresentando uma dependência de energia proveniente de fontes fósseis. Para Payal Dhar, autor do artigo, o impacto ambiental do funcionamento e do treino de sistemas de IA é muito elevado, fazendo com que quase 1% de todas as emissões globais de gases com efeitos de estufa seja proveniente dos centros de processamento de dados.
O simples uso de um ChatBot também tem o seu impacto ambiental. Um estudo conduzido por investigadores da Carnegie Mellon University, localizada nos Estados Unidos, revela que a pegada carbónica relativa à criação de uma imagem por Inteligência Artificial é igual à do carregamento completo da bateria de um telemóvel. Já uma conversa com o mesmo tipo de tecnologia originaria um impacto comparável ao uso de 16% de carga da bateria.
Manter a IA a funcionar revela-se um desafio para o ser humano, no que diz respeito à preservação do ambiente. Os centros de processamento de dados, para além de consumirem elevadas quantidades de energia, também criam uma grande pressão nos recursos hídricos, alerta o artigo. Isto acontece principalmente devido à necessidade de arrefecer os sistemas e equipamentos presentes. Por exemplo, os centros de dados da Google, que também fornece serviços baseados em Inteligência Artificial, utilizaram, em 2022, cerca de 21 mil milhões de litros de água para permitir o seu funcionamento, segundo o relatório anual da própria empresa.
A IA configura-se como uma alternativa a ter em conta no período do desenvolvimento de estratégias para a mitigação das alterações climáticas. Contudo, o seu uso deve ser cauteloso e ter em especial atenção no que concerne à suas necessidade do ponto de vista ambiental, pois, os impactos negativos, nomeadamente as elevadas emissões de Dióxido de Carbono e consumo de água, podendo sobrepor-se aos aspetos positivos, tornando esta tecnologia incompatível com o desenvolvimento sustentável. A falta de estudos e de dados concretos é um fator que dificulta o conhecimento real sobre a dimensão deste problema.
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