Como produzir um Rock in Rio? – Entrevista a Dora Palma

Como produzir um Rock in Rio - Entrevista a Dora Palma

Quisemos saber os cuidados ambientais do Rock in Rio desde a sua produção à realização, e fomos ter com Dora Palma, Coordenadora do Projecto Social Rock in Rio.

(JRA) – Que mudanças (a nível ambiental e sustentável), verifica ou nota diferença desta edição do Rock in Rio para as outras restantes em Lisboa?

(DP) – O Rock in Rio, e a sua equipa de produção, sempre tiveram os mesmos cuidados de hoje desde há 6 anos atrás, na primeira edição do Rock in Rio Lisboa. Podemos alterar um pormenor que nos ultrapassou, mas o Rock in Rio sempre colocou um vasto número de caixotes do lixo pelo recinto, sempre pôs ao dispor transportes públicos em horários adaptados ao Rock in Rio, sempre tivemos uma relação com a Sociedade Ponto Verde, em que nos comprometemos a fazer a selecção das embalagens e plásticos para lhes enviar, sempre premiámos os mais sustentáveis, e o mais importante, é que de ano para ano tentamos reduzir cada vez mais a nossa pegada carbónica.

(JRA) – Falando em pegada carbónica, qual é a vossa maior fatia que contribui negativamente para este facto?

(DP) – Definitivamente a deslocação dos visitantes ao recinto. Verificamos que os utilitários destes transportes públicos de serviço especial são em número maior, no entanto, ainda existe uma grande percentagem de público que se desloca de transporte próprio pela comodidade.

(JRA) – Entrevistámos um grande número de pessoas à entrada do Rock in Rio, perguntando o transporte que tinham utilizado para chegar à Cidade do Rock, e a maioria frisou que não iria utilizar os transportes públicos porque teria de comprar um bilhete para o efeito, quando já paga um passe mensal. O que pensa deste facto?

(DP) – Continuo a achar que é puro comodismo das pessoas. Quando uma pessoa não tem dinheiro para ir ao Rock in Rio, não vem. Não será por 1 € ou 2 € que as pessoas vão deixar de vir de transportes públicos. É na maioria das situações uma desculpa que arranjaram para vir no seu carro confortáveis. Até porque para além de poluir mais, estão a gastar dinheiro em combustível.

(JRA) – Ao final de um dia de Rock in Rio, qual é a vossa maior dificuldade?

(DP) – É, sem dúvida alguma, o lixo. Apesar do elevado número de caixotes do lixo que colocamos ao dispor dos visitantes, muitos deles encontramos vazios porque as pessoas não lhes dão uso. E no final do dia, temos um “relvado de plástico” para limpar. O nosso maior problema continua a ser os copos. Apesar de serem 100 % degradáveis, é o que encontramos mais espalhado pelo chão.

(JRA) – Se colocassem à venda uma caneca de metal, atribuindo uma por pessoa, e sendo a única forma de consumir bebidas, não seria uma forma de reduzir o vosso lixo?

(DP) – Foi uma solução que já pensámos. Essa medida já foi até tomada em alguns festivais de verão. No entanto, no Rock in Rio, é uma medida que nunca irá resultar, porque a mesma caneca poderia servir de arma de remesso contra os artistas ou mesmo entre público, e achamos ser um método pouco higiénico. Mas até pensámos em criar uma caneca toda “costumizada” e bonita para colocar ao dispor do público.

(JRA) – Falando em sustentabilidade, sabemos que o Rock in Rio aposta bastante nas energias renováveis. Qual o papel dos painéis fotovoltaicos colocados em torno do Palco Mundo?

(DP) – Muitas pessoas pensam que serve para alimentar energeticamente o Palco Mundo, no entanto seria impossível que o mesmo acontecesse. Os painéis fotovoltaicos que colocamos em torno do Palco Mundo, servem apenas para sensibilizar os visitantes para energias renováveis. Para alimentar o Palco Mundo seria necessário uma área elevada de painéis, que não dispomos. Por um lado seria óptimo não ligar o Palco Mundo à rede eléctrica da cidade. Mas seria bastante dispendioso. E a organização tenta sempre contra-balançar as possibilidades que têm. Não podemos tomar medidas 100 % ambientais, porque poupamos o ambiente de um lado, mas prejudicamos por outro lado. Até porque nunca ninguém irá conseguir um festival 100 % ambiental e sustentável. Seria óptimo, mas uma utopia.

(JRA) – Para terminar, o Rock in Rio mudou alguma consciência nas pessoas que estão ligadas à produção do evento, para atitudes mais sustentáveis?

(DP) – Nesta edição, levámos a cabo um concurso, que premiava o colaborador mais sustentável. E em massa todos aderimos. O objectivo não é chegar ao final com um prémio e certificado do mais sustentável, mas transportarmos essas atitudes para o nosso dia-a-dia para lá do Rock in Rio. Isso é o mais importante para nós!

(Grupo B)

 

Ana Rita Ferrito , Cláudio Escaleira