Malhado de Alcobaça: um património nacional em risco de extinção. Existem apenas 132 fêmeas e 12 varrascos

A raça malhado de alcobaça, a 3ª raça autóctone portuguesa, enfrenta nos dias de hoje risco eminente de extinção. Muitos exploradores da região oeste têm vindo a tomar medidas para preservar este património 100% português e com muita potencialidade, dando um excelente exemplo de preservação da biodiversidade.

malhadoAlcobaça

A raça malhado de alcobaça, a 3ª raça autóctone portuguesa, enfrenta nos dias de hoje risco eminente de extinção. Muitos exploradores da região oeste têm vindo a tomar medidas para preservar este património 100% português e com muita potencialidade, dando um excelente exemplo de preservação da biodiversidade.

O porco malhado de alcobaça é a terceira raça suína autóctone portuguesa, a par do porco alentejano e do porco bísaro, com origem na região centro Oeste de Portugal. É o resultado de cruzamentos entre porcos bísaros e raças inglesas melhoradas, nomeadamente Berkshire e Yorkshire. Apresenta uma coloração malhada, cabeça de perfil côncavo, orelhas compridas, corpo longilíneo e membros altos. De realçar também que é um animal rústico, de temperamento calmo e dócil.

No entanto, apesar de todas estas qualidades positivas, é uma raça que se encontra em vias de extinção. Atualmente, o seu efetivo reprodutor adulto conta apenas com 132 fêmeas e 12 varrascos. Para além do mais, há apenas 10 criadores da raça, distribuídos por Alcobaça e pela zona Ribatejana. Em entrevista com o Dr. Carlos da Costa, responsável da exploração Granja Abbatiale, a raça não é competitiva em termos comercias, visto que a média de leitões por ninhada é inferior à média de outras raças de massificação e o crescimento destes porcos é muito lento. Contudo, tendo em conta que a carne é de excelente qualidade, a sua comercialização deveria ser encaminhada para produtos na gama gourmet.

Assim, é necessário tomar medidas, visto que não só pelo número reduzido de exemplares, mas também de explorações, esta raça encontra-se em perigo eminente de extinção. Com efeito, há um problema crescente do aumento da consanguinidade e da redução da variabilidade genética

Durante muitos anos, a preservação da espécie foi somente assegurada pela Selecpor SA, na pessoa do Sr. Manuel Leal, na região oeste de Portugal (região de Torres Vedras). De acordo com Dr. Carlos da Costa, o facto de haver somente um criador da raça que, ainda para mais, só vendia fêmeas, colocava em grande perigo de extinção o Malhado. Apenas em 2003 foi implementado o registo zootécnico dos elementos da raça, ano em que foi efetivamente reconhecida e homologada. Recentemente, muito trabalho de preservação e promoção da raça tem sido feito, sendo que desde março de 2014 criou-se o livro genológico da raça gerido pela Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores FPAS. Não menos importante foi o núcleo de conservação, criado no polo de investigação da Fonte Boa no INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) e o núcleo de multiplicação existente na Escola Profissional Agrícola e de Desenvolvimento Rural de Cister (EPADRC), em Alcobaça. Todas estas ações foram essenciais, pois, como confirmado pelo responsável da Granja Abbatiale, foi dada uma segunda oportunidade à raça, visto que o número de exemplares até a data estava em constante queda.

De referir também a credibilização feita do efetivo reprodutor, com a avaliação/pontuação e recolha de DNA de todos os exemplares. Com vista à disseminação da raça aumentou-se significativamente o número de produtores, de somente 3 em 2014 para 12 em 2016.  Ainda para mais, há agora disponibilização de varrascos para facilitar o acesso a esta restrita genética. Assim, muito tem sido feito para potenciar o crescimento e expansão da raça, nomeadamente o desenvolvimento de novos produtos certificados DOP e IGP e tradicionais associados a esta raça autóctone.

Muitos organismos têm estado envolvidos na promoção e divulgação da raça, tais como a Associação de Agricultores da região de Alcobaça AARA e do Município de Alcobaça. Inclusivamente a Dra. Inês Silva, vereadora da cultura, publicou um livro infantil, denominado O Porquinho de Alcobaça, que tem como objetivo alertar as camadas jovens para a preservação desta raça. Ainda essencial referir a divulgação na Feira de S. Bernardo e Feira Nacional do Porco no Montijo, onde foram apresentados produtos transformados com qualidade superior e refeições temáticas com carne de Malhado de Alcobaça.

Muito louvável também a ação de criadores muito dinâmicos, tal como a Granja Abbatiale (o 3º criador fundador da raça), cuja produção começou apenas com 2 fêmeas (Alcoa e Baça) e um varrasco (Henrique VIII). O responsável explica que a Granja é uma quinta pedagógica ligada a Alcobaça, cujo objetivo é preservar diferentes espécies autóctones portuguesas em risco de extinção. Para além do porco Malhado, é confirmado pelo Dr. Carlos da Costa a criação de cabras serpentinas, ovelhas bordaleiras e cavalos lusitanos, todos animais portugueses.

Em suma, muito tem sido feito para privilegiar o desenvolvimento local e preservação desta raça autóctone. Ainda há muito a fazer, seguindo o lema do preservar, conservar, valorizar e divulgar! Não obstante, é louvável todo o trabalho que tem sido feito a nível da conservação e manutenção desta raça autóctone. Está nas mãos de todos nós preservar esta raça genuinamente portuguesa e impedir a sua extinção!

Referências Bibliográficas

 

Carolina Gomes

11.º1A. Colégo Valsassina

 

Agradecimentos

Dr. Carlos da Costa, pela disponibilidade apresentada e entrevista concedida, essencial para o enriquecimento do trabalho.

Dr. António Vicente, especialista na raça, que concedeu muita informação e que generosamente disponibilizou revisão de bibliografia sobre o Malhado de Alcobaça.

Nota: todas as fotografias foram tiradas durante o desenvolvimento do trabalho pela autora na exploração Granja Abbatiale.

Carolina Gomes