Recolha de lixo na praia da Foz do Lizandro

No dia 16 de março, professores, alunos e seus familiares da Escola Secundária José Saramago uniram-se para a preservação do ecossistema costeiro, participando na recolha de lixo da praia da Foz do Lizandro. Com a coordenação da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) em colaboração com o projeto Eco-Escolas, a iniciativa visou a remoção de resíduos e a sensibilização para as consequências do lixo marinho na biodiversidade do planeta, assim como a promoção de práticas sustentáveis.

 A recolha de lixo ocorreu na praia da Foz do Lizandro, situada na localidade da Carvoeira, no concelho de Mafra, organizada pela ASPEA, uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONG) sem fins lucrativos que tem como objetivo o desenvolvimento da Educação Ambiental, no ensino formal e não formal. Este foi um ato de união e consciência coletiva, que evidencia como a comunidade escolar poder ter um papel ativo na defesa do meio ambiente.

Recolheram-se 28,5Kg de lixo em cerca de 1 hora. Fora da época balnear e com a praia aparentemente limpa, esperava-se que esta não tivesse muito lixo, pensamento partilhado por muitos participantes. Bruna Freitas, aluna, refere que “ao princípio parecia que a praia estava limpa, mas afinal tinha quase 30Kg de lixo”.

Entre os detritos recolhidos durante a limpeza, uma variedade surpreendente de materiais foi retirada das areias da praia. Desde materiais de pesca, que totalizaram 4,5Kg, até aos 408 cotonetes e 59 palhinhas encontradas. Além disso, os voluntários recolheram 415 beatas e um 1Kg de esferovite, que juntaram 4,5kg de materiais variados, como ferros e tubos. Não menos preocupante, foi o registo de 8 kg de plástico rijo, 4,5Kg de plástico mole, 1kg de tampas e 500g de embalagens. O lixo encontrava-se, sobretudo, escondido na areia e sobre as canas trazidas pelo rio. A tempestade que ocorrera na semana anterior pode ter contribuído para a quantidade de lixo encontrado.

Muitos dos resíduos provêm do rio, talvez devido à ETAR que ali se encontra, como é o caso dos cotonetes e do fio dentário. Rute Candeias, responsável pelo projeto, sobre esta problemática afirma: “aqui temos um problema gravíssimo, portanto as pessoas continuam a deitar os cotonetes na sanita”. Relativamente ao problema das palhinhas refere que “há 3 ou 4 anos era, provavelmente, o quádruplo do número de palhinhas… neste aspeto, a lei que foi aplicada está a ter efeitos porque a maior parte das palhinhas, hoje em dia, são de cartão, e as que vão parar ao mar acabam por desfazer-se”. Para além destes tipos de lixos, refere, também, que “há uma grande quantidade de plástico rijo”. A diversidade de resíduos ressalta a urgência de ações coordenadas para combater a poluição marinha e promover práticas de consumo mais sustentáveis.

A opinião de que estas atividades são relevantes é partilhada pelos docentes presentes. Rita Pereira, professora de Biologia e Geologia, alega que “estas iniciativas são importantes para sensibilizar os jovens para a importância de não deixar lixo no chão, nem colocar na sanita os cotonetes e as toalhitas, uma vez que é importante nós tentarmos manter a natureza protegida e não serem necessárias as limpezas de praia”.

Os voluntários foram sensibilizados para o impacto devastador do lixo marinho sobre a biodiversidade dos oceanos. Uma consequência direta é a ingestão acidental de resíduos por parte dos animais marinhos, que frequentemente confundem o lixo com alimentos. Esta ingestão pode levar a sérios problemas de saúde e até mesmo à morte dos animais. Como o caso das tartarugas que confundem sacos de plástico com alforrecas, um dos exemplos mencionados. Assim, para além da limpeza da praia, a atividade teve como objetivo sensibilizar e deixar uma marca nos participantes da real dimensão do problema como um todo.

No início do mês, a agitação marítima intensa depositou na praia uma quantidade significativa de material lenhoso, entre os quais se destacavam troncos e canas arrastados para a areia. Foi neste cenário que os alunos, em conjunto com os professores, consideraram reutilizar um dos troncos, muito moldado pela força do mar, como um banco para a nossa escola. Paulo Passos, professor de Biologia e Geologia, relata “que foi um bom exemplo de uma estratégia de resolução em equipa de um problema; perante uma situação nova, como que se aplicou o método científico, ou, noutra perspectiva, mostrou-se como várias pessoas a colaborar para o mesmo fim conseguem resolver uma questão preocupante”. Os alunos em conjunto retiraram o tronco da praia que, depois, foi transportado até á escola. Aproveitou-se um elemento da natureza e de um simples tronco fez-se um banco sustentável.

No final da atividade os sentimentos são vários, entre a alegria de praticar uma boa ação para o ambiente e a tristeza de ainda haver tanto lixo nas praias. Rute, estudante na Alemanha no âmbito do programa Erasmus+, diz “fiquei muito contente ao fazer algo para o meio ambiente, acho muito importante para as pessoas se aperceberem que há muito mais lixo do que aquilo que imaginamos…Quando se vai apanhar nota-se que há muito, muito, muito mais lixo do que se estava à espera”. Júlio Gonçalves, pai de uma aluna, participa pela segunda vez numa ação deste género e diz “fiquei impressionado com a quantidade de cotonetes e de beatas, contudo, achei que havia menos lixo do que na outra vez que estive cá”.

A biodiversidade marinha sofre cada vez mais com o lixo presente nos oceanos. As recolhas de lixo nas praias são excelentes iniciativas, contudo não são a solução ideal. Fica a questão, com o flagelo de lixo marinho cada vez maior, será possível salvar a biodiversidade marinha?

Miguel Gonçalves Filipe