Erosão costeira em Esposende, um desafio preocupante

Dados disponibilizados pelo programa europeu Copernicus, que utiliza imagens de satélite para monitorizar o ambiente, revelam que, apesar dos investimentos realizados desde 2016, a erosão costeira em Esposende continua a agravar-se. O avanço do mar e a redução do areal confirmados por esta tecnologia colocam em risco o litoral do concelho, levando especialistas, autoridades e população a procurar soluções urgentes para proteger a costa e garantir o futuro da região.

Quando se passeia na marginal de Esposende, pela margem direita da foz do rio Cávado, passa-se pelo Molhe Norte, que se ergue como última barreira entre o mar e a terra. Desde 2016, Esposende tem sido palco de uma luta constante contra a erosão costeira, com obras de reabilitação, dragagens e reforço de estruturas. No entanto, a força do mar e a escassez de sedimentos continuam a desafiar as soluções técnicas e a resiliência da comunidade local.

Investimentos Milionários, Resultados Limitados

As intervenções foram iniciadas em agosto de 2016, com a reabilitação do Molhe Norte, integrada no Programa Polis Litoral Norte. Foram investidos 600 mil euros no reforço do paredão e na dragagem de 350 mil metros cúbicos de areia, para garantir a segurança da barra e a manutenção do areal. Seguiu-se, em 2019, uma segunda fase, com 1,5 milhões de euros aplicados na sustentabilidade da restinga do Cávado e no acesso às instalações portuárias. Em junho de 2024, arrancou a terceira fase, com mais 1,4 milhões de euros para reabilitar 350 metros do molhe e reforçar as praias com areias provenientes das escavações. Apesar destes esforços, a erosão não dá tréguas. O engenheiro Horácio Faria, responsável pelo Gabinete do Litoral e Rede Hidrográfica do Município de Viana do Castelo, explica que: “A dissipação da energia da ondulação no enrocamento tem danificado esta estrutura, o que implica que regularmente seja objeto de operações de conservação.”

Imagens de satélite Copernicus Sentinel-2 L2A da Costa de Esposende

Imagens de satélite Copernicus Sentinel-2 L2A da Costa de Esposende

Satélites Mostram a Realidade: Menos Areal, Mais Risco

A evolução do litoral de Esposende pode ser monitorizada de perto graças à plataforma Copernicus e às imagens de satélite. Ao longo deste período, observa-se a luta pela redução da área de areal disponível, confirmando o avanço do mar e a vulnerabilidade crescente das praias e dunas locais.

O Trânsito dos Sedimentos: Um Problema de Toda a Região

Horácio Faria esclarece que a erosão resulta, em grande parte, de um défice sedimentar e que “as praias a norte dos molhes tendem a reter sedimentos, porém verifica-se que têm perdido areia. Este facto deve-se a um défice sedimentar das fontes de abastecimento, essencialmente associado aos rios Minho, Lima, Cávado, Âncora, Neiva e às pequenas ribeiras costeiras.” A retenção de sedimentos nas barragens e estuários, as impermeabilizações do solo e as alterações do coberto vegetal dificultam a chegada de areia ao mar. Sem sedimentos suficientes, as praias tornam-se vulneráveis à força das ondas e à subida do nível do mar.

População e Autoridades: Todos Têm um Papel

A resposta à erosão costeira não depende apenas das obras. A população pode e deve evitar práticas que agravem o défice sedimentar, como a ocupação desordenada da orla costeira ou a remoção de vegetação das dunas. “A educação ambiental sobre este tipo de matérias é crucial junto da população, mas particularmente dos decisores políticos.”, sublinha Horácio Faria. O engenheiro lembra ainda que as autoridades centrais têm o dever de garantir o cumprimento da legislação ambiental e a defesa do património natural, conforme previsto no artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa.

Comunidades em Alerta

Em freguesias como Antas, Belinho, Marinhas, Ofir e Apúlia, a erosão já se faz sentir com o rebaixamento das plataformas das praias e o recuo da linha de costa. Moradores e pescadores assistem diariamente à transformação da paisagem e à perda de território. Muitos participam em ações de sensibilização, limpeza de praias e plantação de espécies autóctones para reforçar as dunas.

Benefícios das Intervenções e Desafios Futuros

Apesar das dificuldades, a reabilitação do Molhe Norte traz benefícios ambientais importantes, tais como: a proteção de praias e dunas adjacentes, o equilíbrio sedimentar,  a mitigação dos efeitos das alterações climáticas, preservar habitats costeiros, bem como, reduzir o assoreamento do canal de navegação. Horácio Faria aponta que é estruturante para o sucesso das intervenções que “a população deve participar ativamente em todas as decisões relativas a intervenções na orla costeira, dado tratar-se dum património natural e cultural coletivo”. Enquanto o mar avança e as máquinas continuam a trabalhar, Esposende vive entre a urgência da proteção e a esperança de um litoral mais resiliente. O futuro da costa dependerá da união de esforços entre ciência, comunidade e políticas públicas, com os olhos postos nas imagens de satélite e os pés bem assentes na areia.